"Ia me sentir traidora", diz ambulante no Rio que só vai a atos antigolpe
Enquanto, no palco, um dos oradores que participou do ato contra o impeachment realizado no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro, puxava o grito de “não vai ter golpe, vai ter luta”, a ambulante Izabel Cristina Gomes, 50, se desdobrava vendendo cerveja, água e refrigerante às cerca de 50 mil pessoas que, segundo a organização do evento, participaram da manifestação nesta quinta-feira (31).
Com o isopor decorado com adesivos da CUT (Central Única de Trabalhadores) com mensagens contra a Rede Globo e um adesivo da campanha de Dilma Rousseff no peito, ela explicava que não vê sentido na deposição da presidente. “A gente votou nela, eles que entrem pelo voto”, afirmou.
Em sua opinião, boa parte dos políticos que contestam a legitimidade de Dilma não tem moral para tanto. Ela conta que faz questão de ficar em casa nos dias de atos contra o governo. “Pode estar chovendo milhão lá que eu não vou”, diz. “Ia me sentir uma traidora.”
Assim como ela, Alice Miguel da Costa, 54, diz que também faz questão de não trabalhar nos atos contrários ao governo e crítica os políticos que defendem a saída de Dilma. “É um absurdo esses ladrões quererem o impeachment dela, que fez tanto pelos pobres”, diz.
Nem todos as ambulantes que trabalharam da manifestação, no entanto, são a favor da permanência da presidente. Marluce da Costa, 40, que vendia churrasquinhos, diz que a situação toda está muito difícil e que, para ela, o importante era apenas trabalhar. “É muita roubalheira, só quero ganhar o meu dinheiro e pagar as minhas contas”, diz.
A manifestação, que começou por volta das 16h e seguiu até 23h, contou com a participação de artistas e, além da defesa da democracia, lembrou as vítimas da ditadura militar, que completou ontem 52 anos de sua implantação.
O cantor Chico Buarque esteve no local manifestação e falou brevemente ao público. O artista afirmou que havia no ato quem votou no PT e em outros partidos, mas, sobretudo, pessoas que não colocam em dúvida a integridade da presidente Dilma Rousseff.
Na manifestação, houve muitas críticas ao PMDB, à mídia, ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e ao juiz Sérgio Moro, responsável pelo processo da Operação Lava Jato na primeira instância.
O vice-presidente Michel Temer também foi alvo de protesto. Temer foi chamado de mentor do golpe e, em repetidas vezes, os manifestantes cantaram a música "Vou festejar", sucesso de Beth Carvalho, cujo refrão diz: "você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão". Os militantes pediram a renúncia de Temer, junto com a saída do PMDB do governo.
Houve um minuto de silêncio para lembrar as vítimas da ditadura militar no Brasil. O ato foi organizado pelos movimentos sociais Frente Brasil Popular e a Povo Sem Medo, compostos por sindicatos, associações de trabalhadores, estudantes e camponeses.
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