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Comissão do impeachment: 2/3 receberam doação de investigadas na Lava Jato

O Senado Federal, onde será julgado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff - Xinhua
O Senado Federal, onde será julgado o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff Imagem: Xinhua

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

28/04/2016 06h00Atualizada em 28/04/2016 11h03

Dois em cada três integrantes da comissão especial que vai analisar no Senado o impeachment da presidente Dilma Rousseff tiveram suas campanhas financiadas por empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato. Os dados foram retirados das prestações de contas dos candidatos entregues ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Ao todo, 14 dos 21 senadores integrantes receberam R$ 15,8 milhões em doações (em valores atualizados pelo IPCA), seja por repasse direto das empresas, seja por repasses feitos por partidos ou outros candidatos com a identificação do doador originário. As empresas são Galvão Engenharia, OAS, Camargo Correia, Odebrecht, Engevix, Mendes Júnior e UTC.

O relator do processo, que foi encaminhado para o Senado, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO) sugeriu que dados da Lava Jato, como a delação do senador Delcídio do Amaral, sejam incluídos pelo Senado para o julgamento do impeachment.

O valor das doações aos senadores é maior (78% mais) que das doações feitas aos 40 dos 65 deputados federais que integraram a comissão do impeachment, que receberam R$ 8,9 milhões das empreiteiras envolvidas na Lava Jato. 

Importante ressaltar que, na eleição de 2010, os repasses de partidos e outros candidatos às campanhas não identificava a fonte originária de doação. Naquele ano, para cálculo, o UOL usou apenas as doações diretas feitas pelas empreiteiras às contas eleitorais dos candidatos.

Dos 21 membros titulares da comissão, dez foram eleitos em 2014 e nove se elegeram em 2010. Os outros dois herdaram vagas de suplentes também eleitos de 2010: Zezé Perrella (PTB-MG) --que assumiu o posto após a morte de Itamar Franco, em 2011-- e José Medeiros (PSD-MT) --que ficou com a vaga após a eleição de Pedro Taques (PSDB) para o governo do Mato Grosso, em 2014.  Esse último não teve campanha financiada com dinheiro de empreiteiras citadas na operação.

A comissão é presidida pelo senador Raimundo Lira (PMDB-PB), e Antonio Anastasia (PSDB-MG) foi eleito como relator.

O que dizem os senadores

Os 14 parlamentares citados na reportagem foram procurados pelo UOL e responderam sobre as doações. Os senadores José Pimentel (PT-CE), Aloysio Nunes (PSDB-SP), Ana Amélia (PP-RS), Wellington Fagundes (PR-MT), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Antonio Anastasia fizeram afirmações semelhantes, de que as doações foram legais e declaradas, e as contas das campanhas foram aprovadas pela Justiça eleitoral.

Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) disse ainda que a doação que recebeu da Odebrecht foi feita via diretório nacional do PSB.

A senadora Rose de Freitas (PMDB-ES) também afirmou que a doação que recebeu foi feita pelo diretório nacional do PMDB e repassada para campanha. Lembra ainda que recebeu o valor “legalmente e com contas devidamente prestadas e aprovadas no TRE do Espírito Santo".

O senador Gladson Cameli (PP-AC) também negou irregularidades. Alvo de inquérito autorizado pelo STF, ele afirmou que “nunca foi citado nominalmente em qualquer denúncia”. “Até este momento, o senador está na condição de investigado e já prestou todos os esclarecimentos à Justiça necessários para a elucidação de todos os fatos”, informou.

Já o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) também citou que as doações foram legais e declaradas e ressaltou ainda “que não há qualquer investigação, delação ou denúncia que envolva seu nome e as doações recebidas à Operação Lava Jato".

O senador Zezé Perrella (PTB-MG) informou que não tem conhecimento da campanha de Itamar Franco já que “tudo foi feito à parte”, mas disse acreditar que “tenha sido feito tudo dentro da legalidade por se tratar de um homem extremamente íntegro e correto”.

O senador Dário Berger (PMDB-SC) informou que recebeu doação do diretório nacional do PMDB e a utilizou "de forma correta para a campanha". "Não tenho conhecimento de outra origem deste repasse", informou.

Placar do impeachment no Senado - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Placar do impeachment do Senado

Levantamento diário do jornal "O Estado de S. Paulo" mostra como os senadores estão direcionando seus votos para o impedimento ou não da presidente Dilma Rousseff.

Para ver o placar atualizado, acesse o endereço: http://zip.net/brs8JB (URL encurtada e segura).