O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP), afirma que o tamanho do SUS precisa ser revisto. Para o titular da Justiça, Alexandre de Moraes (PSDB), "nenhum direito é absoluto" e o presidente interino, Michel Temer, não precisa escolher o próximo procurador-geral da República com base na lista tríplice indicada por integrantes do Ministério Público Federal. Já Mendonça Filho (DEM), que comanda a pasta da Educação, apoia a cobrança de mensalidades nos cursos de extensão e pós-graduação nas universidades federais.
Já o agora ex-ministro do Planejamento, senador Romero Jucá (PMDB-RR), perdeu o posto após ter uma conversa divulgada pelo jornal de "Folha de S.Paulo", onde ele defende a mudança de governo como forma de deter a Operação Lava Jato. "Tem que mudar o governo para estancar essa sangria," afirmou Jucá em conversa com o ex-presidente da Transpetro Sergio Machado, investigado pela força-tarefa.
Para cientistas políticos ouvidos pelo UOL, as gafes dos ministros revelam não apenas as opiniões pessoais de cada um, mas também as medidas de caráter conservador que deverão ser adotadas pela gestão Temer.
"A incontinência verbal dos ministros só revelou o que é sabido a respeito deste governo, na minha opinião, ilegítimo. São declarações e medidas de um governo que escolheu promover ajuste fiscal desmontando as políticas sociais dos governos anteriores", declara o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor acadêmico e professor da FESPSP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo).
Fornazieri cita como exemplo para enfatizar seu ponto de vista a decisão do ministro das Cidades, Bruno Araújo (PSDB-PE), de revogar uma portaria editada pelo governo Dilma Rousseff que autorizava a Caixa a contratar a construção de até 11.250 unidades habitacionais do programa Minha Casa, Minha Vida. "Alguns ministros estão sendo precipitados em suas declarações, mas tudo indica que o governo Temer irá mesmo infringir o colchão de seguridade social instituído pela Constituição de 1988 e implementado, em parte, pelos últimos governos."
"Essas declarações não são balões de ensaio ou meras precipitações. Elas expressam o pensamento conservador dos ministros sobre os assuntos abordados", afirma Carlos Ranulfo, professor titular do curso de ciência política da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). "Como essas falas reverberaram negativamente na sociedade, Temer tenta equilibrar, desautorizando-as, mas ele está pagando o preço pelo perfil conservador das alianças que construiu."
Ajuste fiscal
Mas há especialistas com visão diversa dos primeiros dias do governo interino. "A missão do governo Temer é fazer o que Dilma não conseguiu: obter aprovação no Congresso para as medidas de enfrentamento da crise econômica com esse sistema político que nós temos. Não é um governo que fará uma reforma política no país, não é este seu papel", afirma o cientista político Paulo Fábio, da UFBA (Universidade Federal da Bahia).
Para ele, o presidente interino mostrou segurança nos dois assuntos principais para a condução de governo: as formações da base partidária de apoio no Congresso e a de sua equipe econômica, sob a chefia de Henrique Meirelles, ministro da Fazenda.
"Nesses dois pontos principais, não houve deslizes. Já em relação a outros assuntos, a exemplo da questão do SUS, a própria retificação da declaração inicial do ministro, indica que não teremos alterações radicais em outros setores, mas isso, obviamente, só saberemos no futuro'', diz Paulo Fábio.
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