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Para cientistas políticos, renúncia de Cunha é tentativa de salvar mandato

Eduardo Cunha (PMDB-RJ) chora ao anunciar sua renúncia à Presidência da Câmara dos Deputados - Alan Marques/Folhapress
Eduardo Cunha (PMDB-RJ) chora ao anunciar sua renúncia à Presidência da Câmara dos Deputados Imagem: Alan Marques/Folhapress

Fabiana Maranhão e Flávio Costa

Do UOL, em São Paulo

07/07/2016 20h18Atualizada em 14/07/2016 17h43

A renúncia do deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à Presidência da Câmara, nesta quinta-feira (7), é uma tentativa do parlamentar de salvar o seu mandato, dizem cientistas políticos ouvidos pela reportagem do UOL.

Em um pronunciamento rápido e emocionado, Cunha abdicou do cargo do qual estava afastado desde maio, por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que também o suspendeu do exercício do mandato.

Para o cientista político Cláudio Gonçalves Couto, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a atitude do parlamentar foi uma "ação estratégica de perder os anéis para tentar salvar os dedos", fazendo alusão ao seu mandato que está ameaçado.

Cunha responde na Casa a um processo por quebra de decoro parlamentar, que pode resultar na sua cassação. Ele é acusado de ter mentido à extinta CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Petrobras, ao negar ter contas no exterior. No entanto, a Procuradoria-Geral da República confirmou a existência de contas na Suíça ligadas a Cunha e a seus parentes.

Membros do Conselho de Ética aprovaram parecer a favor da cassação. O caso está em análise na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), a qual o deputado recorreu. Cunha perderá o mandato se ao menos 257 dos 513 deputados da Casa votarem no plenário pela sua cassação.

"Há muito tempo ele perdeu as condições de presidir, mas tem uma certa esperança em manter o mandato com esta renúncia", avalia o cientista político Carlos Pereira, professor da FGV no Rio de Janeiro.

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Queda esperada

Apesar das repetidas negativas do próprio Cunha, sua renúncia à Presidência da Câmara era "previsível", segundo José Álvaro Moisés, cientista político e professor da USP (Universidade de São Paulo).

"Ele 'esperneou' o máximo que pode antes de renunciar. Eduardo Cunha perdeu; está saindo de cena. Ele vai tentar continuar influindo, mas não creio que ele tenha mais tanta força como parecia que tinha algum tempo atrás quando se elegeu [presidente da Câmara] e quando presidiu a sessão do impeachment", analisa Moisés.

Convencido por Temer

Roberto Romano, professor de ética e filosofia da Unicamp (Universidade de Campinas), diz acreditar que foi o presidente interino Michel Temer que conseguiu convencer Cunha a desistir do seu cargo na presidência da Câmara. 

"O Cunha não é de jogar para perder. Ele abriu mão disso e não vejo no horizonte nenhuma força que possa tê-lo convencido a tomar essa atitude que não seja Temer. [...] O convencimento dele veio de uma certa possibilidade positiva dada por Temer", pondera.

No fim do mês passado, Eduardo Cunha se reuniu com Temer no Palácio do Jaburu, residência oficial do presidente interino, na noite de um domingo.

Renúncia entre troca de garantias

O doutor em Comunicação e Política pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) Camilo Aggio considera que Cunha optou pela renúncia à Presidência da Câmara depois de obter certas garantias em acordos políticos costurados nos bastidores, inclusive com o Palácio do Planalto.

Uma dessas garantias, na opinião de Aggio, é a de que o próximo presidente efetivo da Casa seja um de seus aliados. "Cunha tenta postergar ao máximo, através de manobras regimentais, a chegada de seu processo de cassação ao plenário da Câmara, pois sabe que, com a pressão da opinião pública, será muito difícil evitar a cassação em uma votação nominal" afirma Aggio, que é professor do Programa de Pós-Graduação e Comunicação e Cultura Contemporâneas da Faculdade de Comunicação da UFBA.

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