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Como um telefone levou à descoberta de esquema de lavagem de dinheiro em banco ilegal

PF apreende documentos durante a Operação Caça-Fantasmas - Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo
PF apreende documentos durante a Operação Caça-Fantasmas Imagem: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo

Do UOL, no Rio

07/07/2016 11h46Atualizada em 07/07/2016 13h02

A descoberta de um esquema internacional de lavagem de dinheiro operado pelo banco panamenho FPB, alvo da Operação Caça-Fantasmas, deflagrada nesta quinta-feira (7) pela Polícia Federal e pelo MPF (Ministério Público Federal), só foi possível em razão da apreensão de um telefone criptografado na 22ª fase da Operação Lava Jato, a Triplo X.

Na agenda de contatos do aparelho, estavam os ramais dos sete representantes brasileiros que atuavam em nome da instituição financeira clandestina. Desses, cinco exerciam funções gerenciais, entre os quais Edson Paulo Fanton, tio do delegado da PF Mário Renato Castanheira Fanton.

O celular apreendido durante a Operação Triplo X possuía tecnologia VoIP (Voice over Internet Protocol), que possibilitava chamadas pela internet e dificultava o rastreamento.

O delegado da PF Rodrigo Sanfurgo, um dos responsáveis pela investigação, afirmou que essa linha era um "contato direto" entre a FPB Bank e o escritório panamenho Mossack Fonseca, empresa envolvida nos "Panama Papers" e que foi alvo da 22ª fase da Lava Jato.

Na versão da Polícia Federal e do MPF, a FPB utilizava os serviços da Mossack para lavar e movimentar dinheiro ilícito obtido por clientes brasileiros, além de ocultar a origem desses recursos. Foram criadas pelo menos 44 offshores no Panamá.

"Os representantes do banco panamenho mantinham contatos com funcionários da Mossack para proceder a abertura de contas e o gerenciamento de contas offshore", afirmou Sanfurgo.

A procuradora Jerusa Burmann Viecili destacou a complexidade do esquema criminoso, que pode ter facilitado a ocultação de recursos públicos desviados, pois havia o que ela chamou de "dupla camada de lavagem de dinheiro". "Primeiro se constituíam offshores sediadas em paraísos fiscais para ocultar os reais donos do dinheiro e, em seguida, essas offshores mantinham contas em um banco clandestino."

Na Operação Caça-Fantasmas, que representa a 32ª fase da Lava Jato, foram cumpridos sete mandados de condução coercitiva --contra os cinco gerentes e dois funcionários de segundo escalão da FPB, todos brasileiros-- e 11 de busca e apreensão --nas residências dos suspeitos e em escritórios sediados em São Paulo, Santos e São Bernardo do Campo, no Estado de São Paulo. Edson Paulo Fanton é apontado como um dos principais responsáveis pela instituição financeira, que está em situação regular no Panamá, mas não possui autorização do Banco Central para operar qualquer tipo de serviço financeiro em território brasileiro.

Como não há ordem de prisão nesta fase da Lava Jato, todos os investigados foram levados para depor à Polícia Federal e serão liberados em seguida. A reportagem do UOL ainda não conseguiu contato com a defesa de Edson, cujo sobrinho, o delegado da PF Mário Renato Castanheira Fanton, foi o responsável por revelar a instalação de grampo ilegal na cela do doleiro Alberto Youssef, em Curitiba. Mário Renato, juntamente com um agente da Polícia Federal, ambos apontados como "dissidentes", foram denunciados por se associarem para ofender a honra dos colegas.

De acordo com a PF, a atuação do FPB possibilitava o envio de valores de origem duvidosa para o exterior, "à margem do sistema financeiro nacional". O nome da Operação Caça-Fantasmas foi escolhido por conta de um dos "objetivos principais da investigação, que foca na apuração de verdadeira extensão obscura da instituição bancária no Brasil, bem como a vasta clientela que utiliza de seus serviços e do escritório Mossack Fonseca para operações financeiras com características de ilicitude e de forma oculta", informou a Polícia Federal, em nota.

A PF informa ainda que os serviços disponibilizados pela instituição financeira investigada e pelo escritório Mossack Fonseca foram utilizados, dentre diversos outros clientes do mercado financeiro de dinheiro "sujo", por pessoas e empresas ligadas a investigados na Operação Lava Jato, sendo possível concluir que recursos retirados ilicitamente da Petrobras possam ter transitado pela instituição financeira investigada.

O UOL também entrou em contato com o FPB por meio de um linha de telefone 0800 informado no site do banco. Em espanhol, uma funcionária afirmou que tentaria entrar em contato com o departamento de relações-públicas da empresa. Durante o atendimento, a reportagem informou um e-mail e um número de telefone para contato, conforme solicitado, porém não houve retorno até o momento.

Triplo X

A Mossack entrou na mira da Lava Jato pois uma offshore criada por ela era detentora de um tríplex no edifício Solaris, no Guarujá (SP), vizinho ao apartamento atribuído ao ex-presidente Lula, que chegou a adquirir uma cota do empreendimento, mas depois desistiu do negócio.

A suspeita da Lava Jato é que a offshore foi usada para ocultar patrimônio oriundo do esquema de corrupção na Petrobras. Diante destas suspeitas, a filial brasileira da firma panamenha, localizada na avenida Paulista, foi alvo de buscas da PF. Não há relação da offshore com o apartamento atribuído a Lula.

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