Em último discurso antes de julgamento, Dilma diz ser condenada por 'não crime'
No que provavelmente foi seu último pronunciamento público antes de se defender no Senado, a presidente afastada, Dilma Rousseff, disse nesta quarta (24), no Teatro dos Bancários, em Brasília, que está sendo condenada por um "não crime" e voltou a classificar o processo de impeachment como um "golpe".
"Estão me condenando por algo fantástico, um não crime. Eu não cometi crime", afirmou. "Eu achei que eu nunca mais ia ver processos arbitrários, golpes de Estado. E estou vivendo um de forma bastante intensa. Quero dizer para vocês: na vida, a gente sempre tem de lutar."
A presidente afastada disse que vai ao Senado para que o chamado "golpe" não volte a ocorrer no Brasil.
Eu vou [ao Senado] defender a democracia, o projeto político que eu represento, o que eu acho que são os interesses legítimos do povo brasileiro e, sobretudo, construir os instrumentos que permitam que isso nunca mais aconteça neste país.
Dilma Rousseff
Dilma voltou a defender a realização de novas eleições "para se recompor todas as instâncias democráticas do país" e disse que sua participação no processo de impeachment acontece porque respeita as instituições. "A única coisa que mata parasita antidemocrático é o oxigênio do debate, da crítica", afirmou.
Ela disse que será necessário "continuar lutando" para "aprofundar a democracia no país". "Nesse processo, nós já ganhamos. Agora nós temos de saber que teremos de continuar lutando. Podem continuar comigo. Eu conto com vocês", disse.
Segundo Dilma, ela será a primeira de "muitas presidentes mulheres" do Brasil e tem capacidade de resistir por ter que "honrar as mulheres deste país."
Os ex-ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento), Eleonora Menicucci (Secretaria de Políticas para as Mulheres), Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência) e Maurício Muniz (Secretaria dos Portos) participaram do ato, assim como os deputados federais Érika Kokay (PT-DF), Patrus Ananias (PT-MG), Paulo Pimenta (PT-RS) e Moema Gramacho (PT-BA), entre outros políticos. As ausências mais sentidas: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e senadores petistas ou de partidos que lutam contra o impeachment.
'Tempos sombrios'
A presidente afastada foi recebida sob gritos de "Volta, Dilma" e com flores entregues pelos militantes. "Vocês são o que de melhor aconteceu para mim e para o país nestes tempos tão sombrios", disse.
Dilma acusou os defensores de seu impeachment de tentarem rasgar a Constituição, apesar de considerar, ao mesmo tempo, que as instituições brasileiras estão de pé. "Os golpes mudam de figura e de característica", afirmou.
Dilma voltou a citar o suicídio de Getúlio Vargas, dizendo que o ex-presidente se matou para adiar o golpe militar de 1964. A morte de Getúlio completa 62 anos nesta quarta (24).
"Hoje, eu não tenho de renunciar. Hoje, eu não tenho de me suicidar. Não tenho de fugir para o Uruguai [como fez o presidente João Goulart, deposto pelo golpe militar de 1964]. É um outro momento histórico que cada um aqui contribuiu para ele", declarou Dilma.
Ataques ao governo Temer
Dilma criticou a PEC 241, que congela os gastos do governo em relação ao Orçamento do ano anterior mais a inflação, e acusou o governo interino de defender medidas impopulares "na maior cara de pau", assim como mudanças no modelo de partilha do pré-sal que colocariam, segundo ela, a soberania do país.
"A venda de patrimônio da forma que está sendo encaminhada é absolutamente desastrosa", disse. "Este processo tem o apoio de setores que consideramos a elite conservadora do país."
Dilma também disse que segmentos da mídia, "oligopolistas e monopolistas", influenciaram a crise de seu governo.
A presidente afastada também fez críticas veladas à atuação de José Serra como chanceler. Sem mencionar o nome do ministro, disse que há quem queira "comprar o voto" do Uruguai em meio à polêmica sobre a definição da presidência do Mercosul. Serra e o governo uruguaio disseram que a suposta proposta de compra de voto não passou de um mal-entendido.
Por outro lado, Dilma também fez ataques duros à atual gestão do Itamaraty, acusando o governo interino de "tentar destruir" o Mercosul e "desorganizar toda a Unasul".
Dilma disse também que o processo de impeachment nasceu de "quatro derrotas" -- no caso, as eleições e reeleições dela e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a presidente afastada, sua reeleição em 2014 simbolizou a defesa de execução de políticas como a valorização do salário mínimo, os programas ProUni e Fies, assim como o Mais Médicos, o Bolsa Família e o Brasil Medalhas.
Os ex-ministros Jaques Wagner (Casa Civil), Miriam Belchior (Planejamento), Eleonora Menicucci (Secretaria de Políticas para as Mulheres) e Miguel Rossetto (Trabalho e Previdência) participaram do ato, assim como os deputados federais Érika Kokay (PT-DF), Patrus Ananias (PT-MG), Paulo Pimenta (PT-RS) e Moema Gramacho (PT-BA), entre outros políticos.
Impeachment entra na reta final
O julgamento que definirá o futuro de Dilma, última etapa do processo de impeachment, começa às 9h desta quinta (25). Até sexta, serão ouvidas testemunhas de acusação (duas) e defesa (seis) no Senado.
Na segunda (29), Dilma será ouvida e interrogada pelos senadores. Os advogados de acusação e defesa também poderão fazer perguntas, assim como presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Ricardo Lewandowski. Ela terá 30 minutos para falar em sua defesa.
A votação final deve acontecer logo após a participação da presidente afastada, mas não há prazo para o fim do julgamento. Dilma perde o cargo em definitivo se ao menos dois terços dos senadores (54 de 81 parlamentares) votarem por sua saída. Na segunda, o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, afirmou que a expectativa do governo interino de Michel Temer é obter entre 60 e 63 votos.
A Frente Brasil Popular, que reúne movimentos sociais favoráveis ao retorno da presidente afastada, convocou um dia de manifestações em Brasília em paralelo ao depoimento de Dilma. Os militantes pretendem recepcioná-la antes de sua entrada no Senado. À noite, os apoiadores da presidente planejam fazer um ato em frente ao Congresso.
Dilma está afastada do cargo desde 12 de maio, quando o Senado iniciou a fase de investigação do impeachment. Ela é acusada de irregularidades na gestão financeira do governo por meio da publicação de três decretos que ampliaram a previsão de gastos sem autorização do Congresso; e pelas chamadas "pedaladas fiscais" no Plano Safra, com atraso nos repasses do governo ao Banco do Brasil classificados como um tipo proibido de operação de crédito em benefício das contas oficiais.
No dia 16, em carta aberta aos senadores e à população, Dilma pediu que o Senado encerre o processo de impeachment, que ela classifica como "golpe", e disse que apoiará um plebiscito para a realização de novas eleições caso volte ao poder.
(Com informações do Estadão Conteúdo)
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