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Morre Sombra, do caso Celso Daniel, em hospital de São Paulo

O empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra - Luiz Carlos Murauskas/Folhapress
O empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra Imagem: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

27/09/2016 16h26Atualizada em 30/10/2016 22h00

O empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, morreu nesta terça (27) no hospital Monte Magno, em São Paulo. Ele ficou conhecido por ter sido apontado, pelo MP-SP (Ministério Público de São Paulo), como o mandante do assassinato de Celso Daniel (PT), em 2002, quando este era prefeito de Santo André.

Segundo a assessoria de imprensa do hospital, Sombra estava internado desde o dia 22. O hospital não divulgou a causa da morte. O advogado do empresário, Roberto Podval, disse que seu cliente enfrentava um câncer havia dois anos.

"Acusaram, prenderam, 'publicizaram', trocaram seu nome por alcunha. O adoeceram, ele faleceu. Foi em paz, foi descansar, foi inocente, foi um amigo", afirmou o advogado.

Relembre o caso

Celso Daniel foi assassinado a tiros em janeiro de 2002, em uma estrada de terra de Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, depois de ter sido sequestrado no trajeto entre uma churrascaria na capital e Santo André.

No momento do sequestro, o ex-prefeito estava dentro de seu carro, que era blindado, acompanhado de Sombra, seu amigo e segurança, que dirigia o veículo. Os sequestradores fecharam o carro de Daniel com outros três veículos e levaram apenas o ex-prefeito, deixando Sombra no local. 

Celso Daniel, prefeito de Santo André pelo PT, morto em 2002 após sequestro - Luciano Vicioni/Diário do Grande ABC - 01.10.2000 - Luciano Vicioni/Diário do Grande ABC - 01.10.2000
O ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002
Imagem: Luciano Vicioni/Diário do Grande ABC - 01.10.2000

Para a polícia, os acusados sequestraram Daniel por engano, já que estavam planejando o crime contra outra pessoa. O MP contraria a versão policial e sustenta que a morte foi encomendada por uma quadrilha que atuava na Prefeitura de Santo André, extorquindo empresários com objetivo de arrecadar dinheiro para campanhas eleitorais do PT.

A Promotoria afirma que Sombra planejou o assassinato quando Celso Daniel decidiu dar um fim na rede de propinas --o petista teria tomado essa iniciativa ao ser informado que recursos desviados dos cofres públicos eram destinados ao caixa do PT.

Sombra nunca admitiu envolvimento na morte do prefeito, de quem era amigo e foi assessor. Ele chegou a ficar sete meses preso em caráter preventivo, até que o STF (Supremo Tribunal Federal) lhe devolveu a liberdade. Outros seis acusados do crime foram condenados pelo júri popular de Itapecerica da Serra. Eles confessaram o assassinato do petista. 

Pelo menos sete pessoas, entre testemunhas e outros envolvidos no crime, morreram após a morte do ex-prefeito --todas vítimas de homicídio. 

Lava Jato resvala em morte de prefeito

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Em abril, o ex-secretário geral do PT Silvio Pereira e o empresário Ronan Maria Pinto, dono do jornal "Diário do Grande ABC", foram presos pela força-tarefa da Lava Jato na 27ª fase da operação, denominada Carbono 14. Em seu despacho, o juiz federal Sérgio Moro afirmou que existia a possibilidade de o esquema ter relação com a morte de Celso Daniel.

"Se confirmado o depoimento de Marcos Valério de que os valores lhe foram destinados em extorsão de dirigentes do PT, a conduta é ainda mais grave, pois […] o fato contribuiu para a obstrução da Justiça e completa apuração dos crimes havidos no âmbito da Prefeitura de Santo André."

Segundo a "Folha de S.Paulo", procuradores da Lava Jato perguntaram diretamente a testemunhas sobre o envolvimento da cúpula petista no caso.

Em entrevista à rádio "Jovem Pan", Bruno José Daniel, irmão do ex-prefeito, disse que a Lava Jato poderá trazer respostas para o assassinato: "Eu acho que a Lava Jato avança e a gente tem a expectativa que haja esclarecimentos em relação a tudo o que aconteceu com meu irmão e outras pessoas que foram mortas depois dele".

Condenação por corrupção

Em dezembro de 2014, a 1ª turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu anular o processo que investigava a participação de Sombra na morte de Celso Daniel. A defesa do empresário alegou cerceamento de defesa. O juiz do caso, em Itapecerica da Serra, na Grande São Paulo, não permitiu que as defesas dos outros acusados fizessem perguntas na fase dos interrogatórios.

No entanto, a anulação do processo não extingiu a ação, e Sombra continuava respondendo à Justiça na primeira instância, em São Paulo.

Em novembro de 2015, Sombra foi condenado a 15 anos de prisão, em primeira instância, junto com o empresário Ronan Maria Pinto e o ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André, Klinger Luiz de Oliveira Sousa, sob a acusação de liderar esquema de cobrança de propina de empresas de transporte contratadas pela Prefeitura na gestão de Celso Daniel.

Em maio deste ano, o PT foi condenado em primeira instância a devolver Ro PT foi condenado em primeira instância a devolver R$ 3,5 milhõesnbsp;3,5 milhões aos cofres públicos de Santo André por ter sido considerado beneficiário do esquema de corrupção montado na gestão Celso Daniel. Sombra foi condenado na mesma ação.

No mês seguinte, o ministro do STF Luiz Fux autorizou a abertura de uma investigação contra o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu para apurar o suposto desvio de recursos da prefeitura de Santo André entre 1997 e 2001, durante a gestão de Celso Daniel. As suspeitas são de que Dirceu teria recebido propina desviada de Santo André para abastecer campanhas do PT. O esquema foi mencionado pelo irmão de Celso Daniel, João Francisco Daniel, no processo que apura a morte do prefeito. 

(com Estadão Conteúdo)

MP investiga novos indícios no caso

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