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Negros do PSDB cobram Doria: "Cuidar da periferia é cuidar do negro"

João Doria Júnior durante campanha no bairro de Nova Parelheiros, extremo sul da periferia paulistana - Divulgação
João Doria Júnior durante campanha no bairro de Nova Parelheiros, extremo sul da periferia paulistana Imagem: Divulgação

Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

08/10/2016 06h00

A corrente que reúne lideranças e militantes de movimentos de defesa e promoção dos direitos dos negros do PSDB, o Tucanafro, quer do prefeito eleito de São Paulo, o também tucano João Doria Júnior, a efetivação de políticas direcionadas principalmente para os bairros periféricos de São Paulo, onde está majoritariamente a população negra.

"Cuidar da periferia é cuidar do negro, porque expulsaram os negros para onde não tinha nada. Qual o negro que mora nos Jardins, na avenida Paulista? Quase nenhum, não é? O fundão é negro", constata Eloi Estrela, 50, presidente do Tucanafro de São Paulo, ele mesmo um morador da periferia, de Ermelino Matarazzo, na zona leste da capital paulista.

Levantamento da Secretaria Municipal de Promoção e Igualdade Racial de São Paulo comprova que a população negra mora mesmo muito longe: está concentrada na periferia, e os bairros do extremo das zonas sul e leste (a periferia da periferia) são os com maior número de negros.

Morador de uma mansão no Jardim Europa, bairro rico e central da capital paulista, Doria admitiu ter visitado a periferia pela primeira vez na vida durante a campanha e que a situação de pobreza que encontrou "tocou muito o coração". "O sofrimento desse povo foi muito impactante", afirmou, garantindo que faria "uma gestão com prioridade para os mais pobres".

Para Eloi Estrela, cuidar da periferia e, por consequência da população negra, significa gerar empregos nesses bairros mais distantes, onde a infraestrutura de trabalho, serviços e lazer é precária; estimular o empreendedorismo; oferecer educação e escola de qualidade, além da mesma saúde que se encontra nos Jardins.

O líder do Tucanafro sublinha, entretanto, que o negro não pede concessão nem privilégio, mas "as mesmas políticas que são oferecidas aos brancos". "Precisamos só de igualdade. Tudo que for feito deve ser feito para todos", afirma.

Voto negro

Doria e o negro - Divulgação - Divulgação
Doria diz que governará para todos
Imagem: Divulgação

Eloi recorda da posição majoritária (ou quase) do negro no município de São Paulo, para afirmar que "quem elegeu Doria foi o negro, doa a quem doer". Para ele, se a periferia é a maioria, e a maioria é negra, o tucano se sagrou vencedor já no primeiro turno das eleições municipais impulsionado em grande medida pelo voto do negro.

Doria venceu em São Paulo em 56 das 58 zonas eleitorais. Perdeu apenas em Parelheiros e no Grajaú, duas regiões pobres de periferia, superado em ambas por Marta Suplicy (PMDB). Segundo dados do Censo 2010 do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), São Paulo é o município brasileiro com o maior número de pessoas que se declararam pretas e pardas: cerca de 4,2 milhões ou 37% do total da população paulistana em 2010 (que era de 11,253 milhões de pessoas).

O presidente do Tucanafro também é árduo defensor da manutenção da Secretaria Municipal de Promoção da Igualdade Racial, cujo futuro se encontra indefinido com a vitória de Doria. "A secretaria [da Igualdade Racial] foi uma conquista e tem de ser mantida." Eloi também é crítico da política para o negro do governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin: "Cadê a secretaria estadual da Igualdade Racial no Estado?", cobra. No governo paulista do PSDB, há uma Coordenação de Políticas para a População Negra e Indígena, dentro da secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.

Durante a campanha, em nome de uma suposta gestão mais eficiente, Doria disse que reduziria o número atual de secretarias de 27 para 20 e a da Igualdade Racial poderia ser incorporada à de Assistência Social, perdendo "status". Procurada pela reportagem, a assessoria de Doria informou que ainda "não há definição" sobre o caso, uma vez que grupos de trabalho recém começaram a estudar o modelo da próxima gestão da prefeitura.

"O Doria é uma pessoa, e o governo não é o Doria. O governo tem de ser de todos, tem de se governar para todos", resume o líder da militância negra paulista do PSDB. "Hoje Doria é o nosso prefeito, o meu prefeito, mas precisamos de igualdade nas oportunidades."