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Jovem presa em ato contra PEC nega posse de explosivos e diz que foi agredida

Protesto contra a PEC 55 aconteceu em frente à frente da Fiesp -- que foi palco, este ano, dos protestos pelo impeachment de Dilma - Taba Benedicto/Folhapress
Protesto contra a PEC 55 aconteceu em frente à frente da Fiesp -- que foi palco, este ano, dos protestos pelo impeachment de Dilma Imagem: Taba Benedicto/Folhapress

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

15/12/2016 06h00

A experiência como estagiária em um hospital filantrópico de São Paulo foi o estopim para que a estudante Wanessa Rojas, 22, fosse às ruas na terça-feira (13) protestar contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 55 – que congela os investimentos em setores como educação e saúde pelos próximos 20 anos. A manifestação realizada na avenida Paulista terminou com invasão e vidraças quebradas na sede da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), entidade que encabeçou, este ano, os protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Wanessa foi presa por volta das 22h e indiciada pelo porte de artefatos explosivos. A estudante, que faz curso técnico de enfermagem na Santa Casa, passou a noite no 78º DP (Distrito Policial), nos Jardins, e foi solta na quarta-feira à tarde durante audiência de custódia no Fórum Criminal da Barra Funda (zona oeste de SP). Além dela, outra jovem, de 21 anos, foi presa também por desacato, mas foi liberada logo pela manhã.

O UOL acompanhou a audiência de custódia da estudante. Ela informou à juíza Carolina Sayeg e ao promotor Moacir Reis que mora com a mãe na região central da cidade e que estuda: durante o dia, o curso técnico de enfermagem, e, à noite, curso preparatório para a segunda fase da Fuvest – ela tenta vaga no curso de letras.

Indagada pela juíza se sabia sobre a divulgação da nota de corte divulgada na terça-feira, a jovem disse que sim. “Sabe sua nota?”, perguntou a magistrada, que respondeu com um “parabéns” à informação de que Wanessa obtivera nota 58 –17 pontos a mais que o necessário e mesma pontuação, por exemplo, de quem concorreu ano passado a uma vaga de direito na mesma seleção.

A jovem disse que bebia uma cerveja com amigos, já na dispersão do ato, quando um rapaz desconhecido entregou a ela uma sacola. Em seguida, disse, uma moto da Rocam a teria atropelado, e policiais a renderam com o rosto da jovem no chão. “Dentro da viatura ainda quiseram me colocar outra bolsa que também não era minha –mas não aceitei. Não tinha nem minha ‘bombinha’ contra a asma”, alegou, ela que afirmou ter sido agredida pelos PMs. “Me jogaram no chão e me bateram. Estou com o corpo cheio de hematomas”, disse, exibido, por exemplo, marcas no rosto.

O promotor questionou a jovem sobre o porquê de ela estar no protesto. “A senhora disse que faz curso à noite. Então, o que estava na rua [no protesto], que não estava no curso?”, perguntou. “Eu tenho os meus motivos para estar em uma manifestação; estava por melhores condições de saúde. Onde trabalho não tem luvas, sabonete...”, afirmou, mas foi interrompida pela juíza – uma vez que a audiência trata das condições em que a prisão em flagrante foi efetuada. Ela não disse em qual hospital é estagiária.

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O promotor pediu à juíza que a jovem respondesse o processo em liberdade, com proibição de viagens para fora de São Paulo sem autorização judicial e com obrigação de se manter em casa à noite. A juíza aceitou apenas a soltura –mas determinou que a estudante compareça uma vez por mês ao fórum para prestar contas de suas atividades, em qualquer dia do mês,  e ordenou que ela fosse submetida a exames que aferissem as agressões relatadas.

Do lado de fora, amigos de Wanessa que estavam no protesto aguardavam a jovem ser solta. Eles negaram que ela portasse artefatos explosivos. “Fizemos uma panfletagem no terminal Parque Dom Pedro sobre a PEC 55 e constatamos que praticamente ninguém sabia o que esse tipo de medida representa. Por isso muita gente critica manifestações: ou por desconhecimento, ou para deslegitimar a nossa causa”, afirmou o músico Remi Barbosa, 32.

“O governo não quer cabeças pensantes que o critiquem, e impor medidas como uma PEC que congela gastos em educação e saúde por 20 anos é uma ótima forma de conseguir isso”, definiu o estudante secundarista Gustavo Ribeiro do Nascimento, 18, que faz curso técnico preparatório para professores na rede pública do Rio de Janeiro.

Sobre a PEC 55, o presidente Michel Temer (PMDB) classificou a aprovação como uma "vitória" e avaliou que o Congresso teve uma "preocupação absoluta com o Brasil". "Quero registrar o meu agradecimento ao Congresso Nacional, que foi de uma preocupação absoluta com o Brasil, que fez essa parceria conosco para que tivéssemos a vitória que estamos tendo na Casa Legislativa", afirmou o peemedebista. Para ele, a medida "visa a tirar o país da recessão".

Sobre a ação em que a jovem foi presa, a PM informou, via assessoria, ter agido sobre “duas pessoas que atacaram e colocaram em risco a integridade física de manifestantes e policiais, em total desrespeito à sociedade Paulista”. “Durante todo o ato houve intensa hostilização contra a tropa, todavia a PMESP agiu com prontidão e resiliência para o melhor desfecho, atuando de forma proporcional e razoável para a garantia da ordem”, informou a nota.