Derrotado no 1º turno, Fruet diz que cogitou não se candidatar, mas sai "em paz"
Derrotado na busca pelo segundo mandato de prefeito de Curitiba, Gustavo Fruet (PDT) afirmou, em entrevista exclusiva ao UOL, que cogitou nem se candidatar em outubro passado, mas deixa o cargo "em paz".
Fruet não chegou nem ao segundo turno --ficou mais de 33 mil votos atrás do segundo colocado, ou mais de três pontos percentuais de diferença. Foi a maior derrota de um candidato à reeleição na cidade.
Será sucedido por um adversário, Rafael Greca (PMN), que passou a campanha a repetir um bordão: "Se está difícil pra você, Fruet, deixa que eu faço". "Agora, ele vai ter que mostrar que sabe fazer com crise, queda de receita e dívida que vem se acumulando ao longo dos anos", provocou o pedetista.
"Claro que queria ter vencido a eleição", admitiu, ao fim da conversa. Apesar disso, disse estar "cada dia mais aliviado". "Tem gente que solta foguete quando ganha eleição. Mal sabe o que virou a gestão pública. Quem quer fazer política, mas vê o grau de controle que existe hoje, dificilmente participa. Dou um número: em quatro anos, respondemos mais de 20 mil ofícios dos órgãos de controle", justificou.
Numa longa conversa, a poucos dias do fim do mandato, Fruet foi pessimista na avaliação da crise em que está enfiada boa parte da classe política brasileira. "Faliu o esquema tradicional de partidos, o sistema de financiamento [eleitoral] --eleição é cara, democracia é cara."
Lamentou --por três vezes, ao longo da entrevista-- a "generalização da criminalização da política". "Estou vendo pessoas da minha geração desistindo de disputar eleições. O mesmo vazio [de líderes políticos] que o Brasil viveu com a ditadura vai viver agora", vaticinou.
Ex-tucano --era deputado federal do partido quando foi sub-relator da CPI dos Correios, que desvendou o esquema do mensalão petista--, Fruet disparou contra o governador Beto Richa (PSDB), de quem já foi aliado e com quem considera "improvável" uma reconciliação. Falou em "pequenez" do governador --que acusou de reduzir em 53% os repasses a Curitiba. "Os repasses caíram porque a prefeitura não tem certidão negativa do TCE (Tribunal de Contas do Estado). Ou seja, está proibida de receber recursos", respondeu a assessoria de imprensa de Richa.
Ele revelou ainda que trabalha em uma espécie de "diário", com anotações sobre a gestão à frente da Prefeitura de Curitiba.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
UOL - O senhor saiu de uma eleição surpreendente em 2012 para um mandato turbulento e uma derrota dura ainda no primeiro turno quando tentou a reeleição. O que deu errado?
Gustavo Fruet - Minha trajetória sempre foi na contramão da lógica, contra expectativas e contra pesquisas. Todas as minhas eleições [foram assim]. Em 2016, eu cheguei a avaliar não disputar a eleição. Como muitos prefeitos não disputaram. Houve uma mudança de humor a partir de junho de 2013. Não se recuperou mais o índice de aprovação do primeiro trimestre de 2013. Foi uma lua de mel muito curta.
Em que momento o senhor cogitou desistir de tentar a reeleição?
Antes das convenções partidárias. Qual foi a avaliação? O índice de desaprovação --e não foi só comigo, mas com muitos prefeitos de cidades grandes e médias do centro-sul do país-- mudou. Vivemos um momento que vai contra a lógica da política tradicional. Mas --e falo com tranquilidade, pois passou o período eleitoral-- Curitiba ficou na contramão da crise do governo do Estado e do governo federal. Não tivemos crise com o Legislativo, paralisação do serviço público de forma definitiva, um ajuste fiscal que tenha provocado forte reação da sociedade --ainda que tenhamos feito um ajuste, que não era feito há 14 anos, na planta genérica do IPTU. Estamos modernizando a planta da administração tributária municipal. Ampliamos serviços na cidade. É muito diferente do que houve no Estado, no governo federal, até em outras prefeituras. Tem um fator relevante: a comunicação disso. É uma batalha muito difícil.
O grau de tolerância da sociedade está próximo de zero, o que é compreensível. Some-se a isso a generalização da criminalização da política. As pessoas estão fechadas a um debate racional.
E há razão para isso. A gente não sabe qual vai ser a operação [da Polícia Federal] amanhã, o que vai estourar semana que vem. Há um sentimento de profunda descrença com a atuação na vida pública. Não só aqui. E havia uma expectativa com relação à gestão. E, apesar de ter cumprido 85% das propostas, grandes projetos, de impacto, como o metrô, não saíram. Gera uma frustração. Faço a autocrítica, mas há questões que fogem do nosso controle. Por exemplo: a crise financeira. Houve queda na receita real, em três anos. De 2015 a 2016, caiu 5,32%. E me refiro à arrecadação municipal, mas também às transferências estaduais e federais. Ao mesmo tempo, a demanda aumentou. Fizemos um enorme ajuste fiscal, uma economia de R$ 1 bilhão, e ampliamos investimentos. Mas como se comunica isso num cenário de crise como esta?
Muita gente comenta ter a impressão de que a cidade ficou "abandonada". Um exemplo: a iluminação pública na Boca Maldita, no centro da cidade, ficou apagada por semanas. O senhor concorda que a gestão foi lenta para responder a problemas cotidianos como esse?
Não. Tanto que a rede social da prefeitura é um caso [de sucesso] no Brasil. Inclusive para o setor privado.
No mundo virtual. Mas, no real, o senhor mesmo disse ter tido dificuldades em comunicar o que a gestão realizou.
É um momento desafiador. Sobre a iluminação: pela primeira vez, foram trocados todos os postes republicanos. Mas isso não é ofertado com regularidade no mercado. A entrega demora. E, ao contrário do setor privado, o público tem procedimentos, a lei de licitações. O prazo de resposta é sempre maior que no privado. Me lembro, quando quebraram vários vidros do prédio da prefeitura numa manifestação, em 2013. Eram vidros da década de 1960, vieram da Bélgica. Não são vidros que se encontrem regularmente no mercado. Foram quase seis meses para o vidro chegar e ser substituído.
O senhor acha que a democracia brasileira está em risco?
Não. Mas faliu o esquema tradicional de partidos, o sistema de financiamento [eleitoral] --eleição é cara, democracia é cara.
Como se financia isso sem que se gere a ideia de que qualquer doação é fruto de desvio, que se generalizou?
Vai entrar em colapso o modelo federativo. Os municípios não vão dar conta de assumir seguidas responsabilidades sem contrapartida. O que aconteceu com os Estados vai acontecer também com os municípios que não se prepararam. Questão de tempo. Atrasos de salários, de 13º, vão se tornar mais comuns.
Curitiba inclusive?
Estamos no limite, graças a todos os cortes no custeio que fizemos nesses quatro anos. Diminuímos em 33% o custeio da cidade, mantivemos os índices da Lei de Responsabilidade Fiscal. Onde mais gastamos dinheiro, nessa gestão, foi na previdência [dos servidores públicos]. Repassamos ao fundo R$ 1,3 bilhão, do orçamento. Nunca foi feito isso na história.
Gustavo Fruet sempre foi tido como um dos grandes nomes de sua geração de políticos. O senhor foi um parlamentar influente, foi sub-relator da CPI do Mensalão, quase foi eleito senador. Agora, sai da prefeitura mal avaliado e derrotado nas urnas. Como avalia essa fase dentro de sua carreira política?
[Irônico] Não sou tão trágico e descarto o suicídio, mas ante uma avaliação dessas preciso ir ao psiquiatra depois. [Retomando a calma] Sem querer ser ingênuo ou falso moralista, estou na vida pública por vocação. Acho que o tempo vai mostrar muito do que foi feito. Por exemplo: reduzimos, na crise, o histórico da dívida em 40%. Muitas decisões [da gestão] vão ter um efeito lá na frente. Gosto do que faço, é um projeto de vida, uma paixão. Mas, felizmente, não dependo disso.
Não tenho obsessão de sempre estar com mandato, de estar na situação. Pelo contrário --a maior parte da minha pública foi na oposição. Isso dá independência.
De qualquer maneira, o processo político, no Paraná, é autofágico, destrutivo. Estou vendo pessoas da minha geração desistindo de disputar eleições. O mesmo vazio que o Brasil viveu com a ditadura vai viver agora. É difícil apontar cinco nomes do Paraná que possam ter um projeto nacional. O recado que está se passando é que a política é um lugar só de bandido. Quem quer fazer política, mas vê o grau de controle que existe hoje, dificilmente participa. Dou um número: em quatro anos, respondemos mais de 20 mil ofícios dos órgãos de controle. Respondo a ações como, por exemplo, para colocar banheiro, ar condicionado, em estação-tubo. Quem tem uma vida consolidada e olha racionalmente um processo desses, não participa.
O que o senhor vai fazer a partir de janeiro? Vai se afastar da política?
[O ex-presidente José] Sarney falou isso uma vez: a política só tem porta de entrada. É claro que deixo de ter uma tribuna. Volto para o escritório [de advocacia], estou preparando uma sequência de palestras sobre gestão pública e das cidades. E vou definir qual será o futuro, se haverá processo eleitoral. Fiz um diário da gestão. Preenchi sete cadernos. Vou organizar isso ano que vem.
Vai publicar?
Haverá um capítulo especial sobre o transporte. O que mais tem no diário são temas relativos a isso. Durante quatro anos, não teve um mês sem ameaça de greve, paralisação ou quebra contratual.
Seus adversários e muitos eleitores dizem que Fruet "nasceu para o Legislativo, não para o Executivo". O que tem a dizer a respeito?
É bom lembrar que fui parlamentar por 14 anos, num momento de grande exposição, em áreas que talvez poucos dessem atenção, o Conselho de Ética, as CPIs. Com o tempo, aquilo me deu uma enorme visibilidade. Fui prefeito por quatro anos; é uma avaliação que o tempo vai corroborar ou não, mas reitero: foram quatro anos na contramão da tragédia que foram o governo federal, o estadual e muitas prefeituras. Numa conjugação de crises política e econômica sem precedentes.
O senhor tem dito que o tempo fará justiça à sua gestão. De que forma, se o senhor terá um adversário seu no comando da prefeitura, e que talvez tome para si possíveis acertos de sua administração?
Não falo em justiça. Mas qualquer avaliação que se faz no momento tende a ter uma carga emocional. A cidade avançou na saúde, na educação. Dizem: "puxa, mas [Fruet] não fez nada". É o melhor índice de educação básica do Brasil. A maior redução do índice de mortalidade infantil do país. Parece que isso surge do acaso. É a única capital que zerou demanda [em pré-escolas] para crianças a partir de quatro anos. Faz mais de um ano que não tem uma família desabrigada por enchentes. É o maior volume de entregas de casas, de obras de infraestrutura.
Eles [equipe de Greca] vão ter que fazer mais, e manter esses padrões de qualidade. Não se chega a isso por acaso. Curitiba marcou sua história por um tripé: zoneamento, sistema viário e transporte público. Essas três áreas chegaram a ter 70% do orçamento. Hoje não têm 10%. Porque hoje 65% estão em educação, saúde e assistência social. É uma mudança no modelo de gestão, na responsabilidade do município. Não sofro com resultado eleitoral. Ninguém morreu.
Tem gente que solta foguete quando ganha eleição. Mal sabe o que virou a gestão pública.
[Perder a eleição] Não é motivo de depressão. Confesso que estou cada dia mais aliviado.
Sua vice-prefeita, Mirian Gonçalves, do PT, andou às turras com seu principal secretário, Ricardo Mac Donald. O motivo são decretos baixados por ela, inclusive para desapropriação de áreas para habitação popular, enquanto o senhor estava em viagem oficial. Mac Donald diz que ela traiu o senhor. É a sua visão? Vai cassar os decretos?
A gente tem que terminar o mandato com dignidade. A relação que tive com os secretários sempre foi de muita lealdade. Não custava ela ter falado comigo antes. Cria um constrangimento de ordem pessoal.
Esse caso é talvez o último capítulo de uma relação conturbada que o senhor teve com o PT. Há quem diga que sua aliança com o partido, historicamente rejeitado em Curitiba, mesmo antes de mensalão e petrolão, foi seu calcanhar de Aquiles. Concorda? Se pudesse voltar a 2012, o que faria?
Para um analista, é sempre mais fácil apontar a contradição dos outros. Agora, quem está na vida pública e tem que tomar decisões praticamente todo dia, é muito difícil imaginar que a política seja feita num caminho só, só na linha reta. Não estou me referindo a desvio de conduta, isso é outra coisa. Na hora em que se fazem alianças, tem que se entender as circunstâncias. O eleitor do Paraná é mais conservador --no sentido positivo. Em Curitiba, também, em relação a outras capitais. Mas aqui defendendo valores defensáveis, não conservador no sentido de ser reacionário. Mas o que ocorreu com o PT vai além disso, da questão ideológica: é o bombardeio e toda a exposição a partir do mensalão e agora com as denúncias da Petrobras. Com o adicional de que a investigação se dá a partir de Curitiba.
O senhor acha que há excessos na Lava Jato? O partido e seus defensores veem perseguição por parte dos promotores, do juiz Sergio Moro.
Praticamente todas as decisões [de Moro] estão sendo confirmadas ou pelo Tribunal Regional Federal ou pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça). Não se manipula tanta gente por tanto tempo. Estamos falando de um número expressivo de promotores na força-tarefa, de pelos 50 magistrados nos vários tribunais.
O que acho que está acontecendo é que não há vácuo no poder. Pela perda de credibilidade do Legislativo, pela descrença na política tradicional, está sendo natural havendo uma exposição que não havia dos promotores e do Judiciário, que pode chegar a um momento de overdose.
É uma outra questão. Mas está sendo natural eles ocuparem esse espaço de expectativa. Para alguns setores da sociedade, essa operação, os promotores, a magistratura, se tornaram referência para recompor o país numa outra dimensão. Esse não é o papel do Judiciário, ou do Ministério Público, mas isso se deve à omissão, à perda de força da política tradicional. Isso me preocupa? Quem nós temos hoje para promover um diálogo no país? O presidente Michel Temer não está conseguindo, apesar da força no Congresso.
O senhor sempre foi visto como um político de centro. Seguirá filiado ao PDT, partido que deverá encabeçar a chapa de esquerda para a Presidência em 2018?
Num cenário como o de hoje, me desculpe a grosseria, quase que se reduziu a política a quem tem e quem não tem caráter. Não é moralismo. Virou uma grande batalha. Não sei quem vai sobreviver para fazer política no Brasil. Veja minha postura, muito mais que meu discurso, em Curitiba, ao sair de 26% para 30% do orçamento em educação, de 17% para 21,5% na saúde, de 3% para quase 7% na assistência social. Isso mostra qual minha posição se for pensar no espectro ideológico.
O senhor se vê à esquerda?
Na hora em que a gente faz política social, de inclusão, na saúde, se for pensar nos padrões herméticos da divisão ideológica, sim. Mas nós reabrimos a cultura ao setor privado. E precisa. Tem que ter parceria. Isso seria tratado como algo à direita. Não dá pra reduzir e ser tão simplista assim. Acho que o PDT tem uma história muito importante, muito bonita, e aqui toda a expectativa em torno do [ex-senador e ex-diretor do Banco do Brasil, sob Dilma Rousseff] Osmar Dias e uma possível candidatura ao governo do Estado em 2018. É o tempo que vai responder, e os movimentos da política. Mas fico muito tranquilo de poder sair na rua, terminar a gestão.
Há uma frase, atribuída a Tancredo Neves, que diz o seguinte: "em política, não se fica nem tão perto que não se possa descolar, nem tão distante que não se possa aproximar". No caso do senhor e do governador Beto Richa, a ruptura foi grande demais para que haja uma reaproximação?
Eu acho que sim. É muito improvável [a reaproximação]. E não é nem pelo aspecto pessoal. Tem tanta coisa ridícula, o entorno é tão ridículo. Gasta-se tanto tempo e energia com bobagem. Vejo como a fofoca interfere na vida política.
O senhor pode me dar um exemplo?
Poderia dar vários. A entourage, que depende do carguinho, o tempo todo estabelecendo confusão. Sempre uma preocupação de que eu seria o grande adversário dele, que seria um contraponto. Daí a dificuldade que nós tivemos. O grande exemplo está aqui [pega um relatório que sua assessoria preparou para o UOL, com feitos da gestão e redução de repasses de dinheiro federal e estadual à cidade]: a redução das transferências estaduais chegou a 53%.
O senhor encara isso como retaliação política?
É uma pequenez dele. A questão do [fim do subsídio ao] transporte (cujo retorno Richa anunciou um dia após a vitória do aliado Rafael Greca), da Oficina de Música [cuja 35ª edição foi cancelada pelo prefeito eleito, que alega falta de dinheiro]. Para Copel e Sanepar, não financiar um evento como a Oficina de Música, que nem é da cidade, mais, é do país, é diminuir demais a visão de gestão pública por questões de ordem pessoal. Buscamos apoio junto a Copel e Sanepar. Da Copel, havia sinalização [de que haveria apoio], mas agora temos a notícia de que não dará apoio à oficina de música no ano que vem.
[Consultadas pela reportagem do UOL, ambas responderam da mesma forma. "A Copel não recebeu da prefeitura de Curitiba ou da Fundação Cultural de Curitiba nenhum pedido de apoio ou patrocínio para a edição 2017 da oficina", afirmou a assessoria da estatal de energia. "A Sanepar não recebeu nenhum pedido da Prefeitura Municipal de Curitiba e nem da Fundação Cultural de Curitiba para patrocinar a Oficina de Música de Curitiba", disse a da empresa pública de saneamento.]
O senhor passou boa parte do mandato dizendo que não era possível fazer muita coisa por conta da situação financeira do município, e reclamou das dívidas que herdou. Mas irá deixar mais de R$ 400 milhões em débito para Rafael Greca, segundo um levantamento do Livre.jor para a Gazeta do Povo. Ao UOL, Greca disse ter dados que mostram uma dívida de mais de R$ 1 bilhão. Está correto dizer que o senhor não conseguiu deixar a casa em ordem?
É impossível zerar a dívida em apenas uma gestão. Segundo: raramente se zera a dívida. Há processos de dívidas consolidadas, com instituições internacionais. Dá pra comparar com o colesterol, tem o bom e o ruim. Às vezes a dívida é importante, permite investimentos na cidade. É a simplificação do debate. Isso vai marcar muito o início da gestão do Greca.
Eu reclamei de dívida sem empenho, eram R$ 570 milhões. A primeira diferença é que nós estamos dando clareza, coisa que eu não tive. Fui descobrir isso à medida que a gestão começou. Vamos procurar apresentar até o fim do ano o valor real, pois ainda temos entrada de recursos com o Refic (plano de recuperação fiscal para empresas, da prefeitura), e temos que fechar o 13º e a folha. Tem um jeito de não ter nenhuma dívida: é só fechar por dois anos todos os serviços da prefeitura. Mas é bom lembrar: eu falava isso [da situação financeira do município, durante a campanha eleitoral] e Greca dizia: "Fruet, se não você não sabe fazer, deixa que eu faço".
Agora, ele vai ter que mostrar que sabe fazer com crise, queda de receita e dívida que vem se acumulando ao longo dos anos.
O que o senhor imagina que virá com Rafael Greca no comando da cidade?
Muito factoide, no começo, rancor dessa gestão e algumas medidas de impacto para mostrar que está fazendo diferente do que foi feito até agora. Eu sempre falei que era a volta de um modelo que não se sustenta mais. Hoje, há um grau de controle, uma mudança na legislação e de participação da sociedade muito diferentes da época em que ele foi prefeito [nos anos 1990]. Ele falou que a primeira medida dele seria a reintegração do transporte metropolitano [com o de Curitiba]. A partir de 2 de janeiro, espero ver a tarifa de toda a região metropolitana custando os R$ 3,70 de Curitiba. Vamos ver se ele vai cumprir essa primeira promessa.
O senhor já disse que irá passar os primeiros meses de 2017 "se defendendo". A que acusações imagina que terá que responder?
Por exemplo, na questão da Oficina de Música: A impressão que tenho é que eles miraram numa coisa e acertaram em outra. Queriam passar a imagem de que a prefeitura está quebrada. Mas erraram porque escolheram o evento mais representativo de Curitiba. É o maior evento de música em início de ano do Brasil. Se ele realmente cancelar, o prejuízo para Curitiba vai se estender pelos próximos 50 anos.
Rafael Greca disse que a acusação feita pelo senhor sobre as obras de arte desaparecidas do acervo municipal foi uma "perfídia", e que lhe custou a derrota. O que o senhor tem a dizer a respeito?
Qual prefeito tem em sua casa uma réplica de uma obra do acervo municipal? E, coincidentemente, de uma obra que não está no acervo? É a inversão de valores que temos no Brasil. Perfídia é o desaparecimento de obras do acervo de Curitiba. Fiz um inventário quando assumi a prefeitura, estou fazendo outro agora: não sumiu nada na minha gestão. Perfídia teria sido deixar desaparecer. Ele que se explique com a perícia que mostra que as obras são exatamente iguais. [Procurado pelo UOL, Greca preferiu não responder.]
O senhor será candidato a algum cargo em 2018?
Vontade eu tenho. Adoro o que faço. Vou tentar, nas primeiras semanas, aguentar as pancadas, depois me manifestar. Vai ser bom ficar um tempo fora. Vejo, hoje, no jornal, em Brasília, as pessoas falando em instituição, regimento, votações. É uma linguagem completamente distante do mundo que vivi aqui, do buraco na rua, da tarifa do ônibus, da vaga na escola…
Qual o senhor prefere?
A daqui, sem dúvida. Brasília é destrutiva. Você se arrebenta pra se eleger, chega lá e é só mais um. Mas tudo a seu tempo.
Claro que queria ter vencido a eleição [para um segundo mandato como prefeito]. Mas saio em paz.
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