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Geddel nega corrupção e diz que ação da PF é fruto de "ilações e suposições"

Celular de Cunha foi apreendido durante operação da PF em dezembro de 2015 - Evaristo Sá-16.abr.2016/AFP - Evaristo Sá-16.abr.2016/AFP
Celular de Cunha foi apreendido durante operação da PF em dezembro de 2015
Imagem: Evaristo Sá-16.abr.2016/AFP

Do UOL, em São Paulo

13/01/2017 20h26

Alvo de uma operação da PF (Polícia Federal), o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) diz que ação foi gerada por "ilações e suposições", nesta sexta-feira (13), depois que agentes policiais foram à casa dele para cumprimento de mandados de busca e apreensão. Os sigilos bancário e fiscal do peemedebista também foram quebrados por ordem da Justiça. A Operação "Cui Bono?" ("A quem beneficia?"), deflagrada pela PF, põe sob suspeita o partido do presidente Michel Temer, PMDB. O grupo político também não se manifestou nesta sexta.

De acordo a PF, membros do PMDB, Geddel e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha são suspeitos de participar de um esquema de fraude na liberação de recursos da Caixa Econômica Federal para empresas entre 2011 e 2013. À época, Geddel era o vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco. 

A defesa de Geddel afirmou, por meio de nota, que a "operação decorre de ilações e meras suposições". O advogado Gamil Föppel disse, no texto, que a investigação "não aponta concretamente qualquer valor que tivesse recebido" pelo ex-ministro. A defesa também negou que Geddel tenha cometido "atos de corrupção ou lavagem de dinheiro".

Por meio de nota, um dos advogados de Cunha, Pedro Ivo Velloso, informou que a defesa do ex-deputado "não teve acesso até o momento à investigação, mas, desde já, rechaça veementemente as suspeitas divulgadas. Tão logo tenha acesso à investigação, irá se pronunciar especificamente sobre cada acusação."

Membros do PMDB se calaram sobre a operação da PF. O PMDB não emitiu nota oficial ou se manifestou pelas redes sociais. O UOL também entrou em contato com os telefones da presidência nacional do partido e da assessoria de comunicação social do PMDB nacional, mas sem sucesso.

Empresas envolvidas

De acordo com a PF, o esquema envolveria Geddel, o vice-presidente de Gestão de Ativos do banco, Marcos Vasconcelos, além do servidor da Caixa José Henrique Marques da Cruz, e empresas dos ramos de frigoríficos, de concessionárias de administração de rodovias e de empreendimentos imobiliários, além de um operador do mercado financeiro.

A investigação cita os nomes das empresas BR Vias, Oeste Sul, Marfrig, J&F Investimentos, Grupo Bertin, JBS, Big Frango, Digibrás, Inepar, além da Prefeitura de Barra Mansa (RJ).

Em relação à operação da PF, a Caixa afirmou, por meio de nota, que está em contato permanente com as autoridades, "prestando irrestrita colaboração com as investigações." O banco não fez referência aos funcionários citados.

O gerente jurídico da Inepar, Paulo Franco, afirmou que "da parte da companhia, que tomou conhecimento hoje sobre o assunto, não identificamos nenhuma relação da empresa com as pessoas citadas, com instituições, com a Caixa e com os políticos citados. Não identificamos internamente nenhuma das informações que foram noticiadas".

A Oeste Sul informou, por meio de nota, que não recebeu notificação oficial sobre o assunto, e está à disposição para qualquer esclarecimento. A assessoria de comunicação da BR Vias disse que a empresa está "colaborando com as autoridades para o total esclarecimento dos fatos".

A JBS e a Big Frango informaram que não foram alvos da operação da PF. O grupo empresarial afirmou que "pauta suas relações na ética e profissionalismo e tem convicção da regularidade das suas práticas". Ainda segundo a JBS, a companhia mantém a transparência de todas as suas atividades "que são realizadas dentro da legalidade".

Já a Marfrig afirmou, em nota, que não foi alvo de qualquer medida da PF. Segundo a empresa, a Caixa ou qualquer um de seus fundos não são acionistas relevantes da companhia. A Marfrig nega ter tido privilégios por meio do esquema fraudulento. Ainda segundo o texto, as operações com o banco "sempre foram feitas em condições de mercado, com custos equivalentes aos dos bancos privados, com garantias reais". "Todas as operações contratadas durante o período apurado nas investigações (2011-2013) foram devidamente liquidadas no prazo e condições, não restando em relação a estas quaisquer débitos em aberto."

A J&F afirmou que as relações com a Caixa ocorreram "de forma profissional e na mesma forma de concorrência e tratamento com instituições privadas".

A Prefeitura de Barra Mansa afirmou que pretendia fazer um convênio com a Caixa para a gestão da conta bancária da prefeitura, em 2012. Diante da falta de resposta do banco, o governo municipal desistiu de fazer a proposta.

O UOL entrou em contato com o Grupo Bertin, que não enviou uma nota de posicionamento. A Digibrás não foi encontrada nos telefones da empresa de Manaus ou São Paulo, nem retornou o e-mail.

Operação

A operação de hoje, chamada "Cui Bono?" --referência a uma expressão latina que significa "a quem beneficia?"--, é derivada da CatilináriasDesdobramento da Operação Lava Jato, ela foi realizada em 15 dezembro de 2015.

Na ocasião, agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão que atingiram líderes do PMDB, como Cunha.

O celular de Cunha encontrado na operação foi periciado e, "mediante autorização judicial de acesso aos dados do dispositivo, a PF extraiu uma intensa troca de mensagens eletrônicas" entre o ex-deputado e Geddel, informou a instituição.

O caso passou a ser da alçada da Justiça Federal do Distrito Federal depois que Cunha e Geddel perderam o foro privilegiado.

Geddel foi nomeado para o cargo de vice-presidente da Caixa Econômica Federal pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em 2011, primeiro ano de seu mandato inicial no Planalto. Ele ficou no cargo por dois anos até que, em 2013, comunicou que sairia porque iria apoiar uma candidatura contrária à do então governador baiano Jaques Wagner (PT).

Considerado um dos principais aliados de Michel Temer, Geddel chegou a ser ministro no atual governo, mas deixou o cargo em novembro após o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero acusá-lo de tê-lo pressionado a rever uma decisão que impede a construção de um empreendimento imobiliário onde o então ministro da Secretaria de Governo adquiriu apartamento, em Salvador.

Cunha teve seu mandato de deputado federal cassado em setembro. Ele está preso em Curitiba desde outubro.