Colegas do STF e do STJ realçam equilíbrio e alta competência de Teori
Na manhã em que divulgou a decisão pelo afastamento do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, o ministro STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki deixou transparecer uma de suas principais características: o apego técnico. O ministro virou a madrugada elaborando o texto daquela decisão, no qual concluía que a continuidade do parlamentar no cargo iria “de representar risco para as investigações penais sediadas neste Supremo Tribunal Federal” e que ira conspirar “contra a própria dignidade da instituição por ele liderada”.
Com a morte de Zavascki nesta quinta-feira (19), em acidente aéreo em Paraty (RJ), o preparo técnico foi a característica mais lembrada por amigos que foram seus colegas no STF e no STJ. “Teori talvez fosse o mais equilibrado e um dos mais competentes [do STF], e tinha respeito geral. Era um exemplo para todos os outros da postura de um verdadeiro magistrado”, considerou o amigo e ex-ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Gilson Dipp. Questionado sobre se Teori ser técnico em suas decisões, Dipp concordou e realçou sua “alta competência”.
O ministro Luís Roberto Barroso também ressaltou o perfil “preparado” do colega de Supremo. “Teori era um homem íntegro, preparado e trabalhador. Perco um amigo querido, que eu recebia em casa com frequência. O Tribunal perde um juiz especialmente vocacionado. E o país perde um grande homem. Somos todos vítimas de uma trapaça da sorte."
Para Dipp, Zavascki deixa a relatoria da Operação Lava Jato como principal legado do período dos três anos em que compôs o colegiado do STF. “Teori deixa para o Supremo um dos maiores legados de todos os tempos e não vai conseguir ser substituído. Vai ser muito difícil encontrar alguém com a personalidade, a seriedade e o perfil de ministro do Supremo como ele tinha”, afirma.
Relatoria da Lava Jato rendeu apoios e críticas
Zavascki colheu apoios e críticas ao longo da condução da relatoria da iniciada em 2014. O afastamento de Cunha e a autorização para a prisão preventiva do ex-senador Delcídio do Amaral em pleno exercício de seus mandatos foram comemorados pela opinião pública. Em ambas as ocasiões, o ministro foi apontado como aliado do juiz Sérgio Moro por causa dessas decisões.
A popularidade, contudo, não importava para Zavascki. Não à toa, repreendeu publicamente o juiz Sérgio Moro após o vazamento de conversa telefônica entre a então presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula. A decisão lhe rendeu ataques nas redes sociais – entre elas, a de que seria petista.
Uma única paixão pública: o Grêmio
Zavascki era avesso à aparição pública. Reservado e de poucas palavras, o ministro não gostava de dar entrevista. Os relatos é de que essa característica foi potencializada a partir de agosto de 2013, quando a mulher dele faleceu em decorrência de um câncer.
A juíza federal Maria Helena Marques de Castro Zavascki era mais jovem que o ministro, que a conheceu quando dava aulas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Dipp, amigo de quase três décadas, relata que apesar dos churrascos e da relação mantida desde os tempos de advogados do TRF da 4ª Região, em Porto Alegre, onde ingressaram juntos em 1989.
“Ele era reservado e muito discreto na vida pessoal. Eu tive várias conversas com ele, inclusive depois que ele perdeu a mulher, mas ele sempre foi muito reservado para gente saber o que acontecia”, recorda.
A única paixão pública do ministro era o Grêmio. A relação com o ex-deputado e ex-ministro Paulo Otone, de quem foi estagiário quando cursava direito, levou Zavacki a virar conselheiro do Grêmio.
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