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Especialistas apontam clima como causa mais provável para queda de avião de Teori

Equipes de socorro deixaram o cais em Paraty para buscas por corpos de vítimas de acidente aéreo que matou o ministro - Hanrrikson de Andrade/UOL
Equipes de socorro deixaram o cais em Paraty para buscas por corpos de vítimas de acidente aéreo que matou o ministro Imagem: Hanrrikson de Andrade/UOL

Vinícius Casagrande

Colaboração para o UOL, em São Paulo

20/01/2017 16h03

Especialistas consultados pelo UOL afirmam que ainda é cedo para determinar os motivos que causaram a queda do avião que levava o ministro do STF  (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki a Paraty (RJ). No entanto, apontam que, com as informações disponíveis até o momento, as más condições do clima devem ser realmente as mais prováveis causas da queda a apenas 2 km da pista do aeroporto.

“A condição do tempo é uma causa provável. Não é o primeiro acidente que acontece na região nessas condições e provavelmente não será o último”, afirma o comandante Miguel Ângelo, diretor de segurança operacional da Aopa Brasil (Associação de Pilotos e Proprietários de Aeronaves).

Segundo relatos de testemunhas que presenciaram a queda, chovia forte no momento do acidente e o piloto teria feito uma curva, abandonando a aproximação final para a pista de Paraty. Nesse momento, o avião perdeu altitude e se chocou com a água.

A rota

O avião King Air C90GT decolou do aeroporto de Campo de Marte, na capital paulista, às 13h01 com destino a Paraty. Ainda não há informações precisas sobre a rota que o avião teria seguido.

O mais provável, no entanto, é que o avião tenha utilizado os chamados corredores visuais (rotas predeterminadas para esse tipo de operação). Após a decolagem, o avião seguiria em linha reta até Caraguatatuba e depois sobrevoando o mar até a entrada da baía da Ilha Grande. Nesse ponto, era necessária uma curva à esquerda para iniciar a aproximação ao aeroporto de Paraty.

O piloto, então, teria iniciado a descida para o pouso, mas com a chuva intensa sobre a pista desistiu da aproximação, iniciando a arremetida. No entanto, por haver muitas montanhas à frente, a arremetida em Paraty exige que seja feita uma curva para evitar uma colisão com os obstáculos naturais (normalmente o avião segue em linha reta até ganhar altitude novamente).

O piloto Osmar Rodrigues conhecia bastante a região e fazia essa rota havia pelo menos 15 anos. Rodrigues era considerado por pilotos que trabalham no Campo de Marte o mais experiente da rota São Paulo - Paraty.

Voo visual

O aeroporto de Paraty não conta com serviço de controle de tráfego aéreo e tampouco com informações meteorológicas. Para realizar o pouso com segurança, é exigida visibilidade horizontal mínima de 5 km (distância da qual o piloto tem de avistar a pista) e teto de 450 metros (distância entre o solo e a camada de nuvens).

“O voo é totalmente visual. Não é nada inseguro, mas é limitado”, afirma o comandante Miguel Ângelo. Piloto de avião há 45 anos, ele ressalta que é comum os pilotos utilizarem o GPS como um auxílio à navegação aérea. “O GPS tem tudo para ajudar, mas se operado nas condições erradas pode ser um problema”, diz.

Condições da pista

Apesar das limitações do voo, o especialista em aviação civil e professor universitário de economia e planejamento do transporte aéreo Adalberto Febeliano afirma que o aeroporto de Paraty é seguro. “É um aeroporto totalmente adequado para a operação daquele avião. É um aeroporto com pista pavimentada, mas você faz a aproximação em uma única direção, por sobre o mar. Se ele arremeteu, é porque talvez tivesse uma chuva localizada ou uma condição de vento muito forte que fez ele dar essa volta adicional. Mas isso é absolutamente normal na aviação”, afirma.

O comando Miguel Ângelo, no entanto, critica a falta de recursos de apoio à navegação aérea na região. “Como é possível uma região turística não ter nenhum tipo de apoio? Guarujá, Ubatuba, Paraty e Angra dos Reis não têm nenhum apoio. Isso é um problema”, afirma.

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A investigação

As informações até o momento sobre o que aconteceu no momento do acidente têm como fonte principal as pessoas que estavam no local na hora da queda. Os especialistas, no entanto, ressaltam que é necessário avaliar as declarações com cuidado. “As pessoas que não entendem de aviação podem achar que viram uma coisa, mas podem estar enganadas”, diz o comandante Miguel Ângelo.

Após serem retirados do mar da Paraty, os destroços do avião devem ser levados para o aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro, para a perícia dos investigadores do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos).

Esse tipo de avião não costuma contar com caixa-preta, já que aviões particulares não têm essa obrigação legal. O avião que caiu em Paraty, no entanto, tinha um equipamento que grava as conversas na cabine de comando e que já retirado do mar. Com isso, a investigação será feita com a análise das conversas do piloto e das condições dos destroços, avaliando a parte estrutural, fuselagem e motores do avião. Não há prazo para a conclusão da investigação.