Esporte, turismo, porto e UPP. Eike foi "fada madrinha" do Rio por quase 10 anos
Durante a “época de ouro” do grupo EBX, o empresário Eike Batista foi também uma espécie de “fada madrinha” de investimentos no Rio de Janeiro. Da campanha para a realização da Olimpíadas 2016 na capital fluminense às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadoras), menina dos olhos da administração do ex-governador Sérgio Cabral, Eike esteve presente em boa parte dos principais projetos realizados no Estado nos últimos 10 anos.
Com prisão preventiva decretada e procurado pela Polícia Federal desde o início da manhã desta quinta-feira (26) por ter pagado propina para Cabral utilizando um contrato fictício, Eike era muito próximo ao ex-governador. Os dois costumavam rebater as acusações de conflito de interesse -- além de participar dos projetos, o que acarreta uma série de isenções fiscais ao grupo EBX no Estado, ele foi um dos principais doadores das campanhas do peemedebista --, dizendo que a amizade e os laços pessoais não beneficiavam o empresário em negócios com o governo fluminense.
O relacionamento entre Eike e Cabral chegou a ser alvo de investigação após vir à tona que o empresário havia emprestado um jatinho para o político ir a uma festa, em junho de 2011. Mas o procurador-geral de Justiça do Rio, Cláudio Lopes, concluiu que a conduta do governador foi questionável no campo da ética, mas não resultou em improbidade administrativa, e o processo foi arquivado.
Rio 2016
Em 2007, logo após Sergio Cabral assumir seu primeiro mandato como governador, Eike doou mais de R$ 20 milhões para a candidatura brasileira que elegeu o Rio como cidade-sede da Olimpíada, deixando para trás Doha, Chicago, Tóquio e Madri. Foram duas doações, de R$ 10 milhões e R$ 13 milhões, feitas através do grupo EBX.
Hotel Glória
Já pensando nos grandes eventos, Eike comprou, em 2008, o famoso hotel Glória, rebatizado de Glória Palace Hotel. O Grupo EBX também planejava converter o Hilton Santos, conhecido como "Morro da Viúva", do Clube de Regatas do Flamengo, em hotel Parque do Flamengo, ambos abandonados.
A meta era reformar o hotel a tempo de reinaugurá-lo para a Copa de 2014. Mas, com a crise do grupo X, a reforma foi paralisada ainda em 2013. Em fevereiro de 2014, Eike anunciou a venda do hotel para um grupo suíço, mas o negócio acabou não ocorrendo e, na metade de 2016, o empresário vendeu o empreendimento para um fundo de investimentos árabe.
Marina da Glória
No ano seguinte, em 2009, o empresário assumiu o controle da MG Rio Gerenciamento e Locações, que detinha a concessão do Complexo da Marina da Glória, no Aterro do Flamengo, tombado pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A ideia de Eike era criar um polo comercial e hoteleiro, casando com a marina a operação do vizinho Hotel Glória.
O empresário pretendia construir um centro de convenções, um estacionamento subterrâneo para 1.500 veículos e pelo menos 800 vagas para barcos, projeto que acabou vetado pelo Iphan pelo excesso de edificações. Ele ainda tentou emplacar, em 2013, um projeto simplificado, mas já com o capital do grupo EBX diminuindo na bolsa, acabou vendendo a empresa que administrava o local para a BR Marinas.
UPPs
Em 2010, Eike anunciou a doação de R$ 20 milhões para o governo do Rio e o compromisso de entregar o mesmo valor todos os anos, até 2014, para compra de equipamentos e construção de novas Unidades de Polícia Pacificadora. Hoje combalido, o projeto foi uma das principais bandeiras políticas do candidato Cabral durante sua campanha para reeleição em 2010. Em agosto de 2013, a EBX decidiu rescindir os convênios firmados com a Secretaria de Segurança do Rio – na mesma época, a petrolífera OGX, parte do grupo, perdeu cerca de 80% de seu valor na bolsa.
Um time de vôlei para o Rio
Em abril de 2011, Eike fez seu primeiro investimento esportivo e criou um time de vôlei: o RJX. Com nomes como os medalhistas olímpicos Dante, Bruninho e Leandro Vissotto, a equipe venceu a Superliga Masculina, em abril de 2013. Com isso, o Rio voltou a ter um campeão nacional em torneios masculinos de vôlei após 32 anos -- o último havia sido o Atlântica/Boavista, em 1981. No final do ano, o grupo EBX retirou o patrocínio do time, que chegou a mudar de nome, mas não conseguiu mais se manter.
Rock In Rio
Em 2012, Eike adquiriu metade das ações da companhia Rock World, proprietária da marca Rock in Rio, controlada pelo empresário Roberto Medina. Em 2014, o empresário reduziu de 50% para 20% a participação da IMX, braço de entretenimento do grupo, no evento e em 2015, vendeu a sua parte no negócio.
Maracanã
Eike Batista e a Odebrecht saíram na frente na disputa pelo controle do Maracanã. O Consórcio Maracanã SA, formado pela Odebrecht Participações, IMX Venues e AEG Administração de Estádios do Brasil, acabou vencendo a licitação pelo controle do estádio. Hoje a Odebrecht, que tenta devolver o estádio ao Estado, possui 95% da concessão - o restante é da americana AEG. A IMX, de Eike, tinha 5% mas os cedeu à empreiteira.
Superporto do Açu
O empresário capitaneou ainda a construção do Superporto do Açu, cercada de polêmicas. Em 2013, por exemplo, o Ministério Público Federal em Campos dos Goytacazes (RJ) afirmou que as obras do porto causaram a salinização de água e solo na região. Com mais de 25 km de docas, píeres e quebra-mares, o Açu foi um dos investimentos mais ambiciosos do empresário, que acabou tendo que se desfazer de grande parte do porto ao longo dos anos.
Ele cedeu o controle de Açu à EIG Energy Partners, sediada em Washington, em 2013, em troca da promessa de investimentos de US$ 562 milhões no porto inacabado. Após iniciar o projeto portuário, em 2007, Eike agora possui menos de 0,3% das ações da empresa responsável pelo local e evitou até participar da inauguração dos primeiros terminais do porto, na metade do ano passado.
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