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Petistas entram com ação para investigar elo entre filme e agentes da Lava Jato

Ary Fontoura (azul) vive Lula em filme "Polícia Federal", sobre a Lava Jato - Ique Esteves/Divulgação
Ary Fontoura (azul) vive Lula em filme "Polícia Federal", sobre a Lava Jato Imagem: Ique Esteves/Divulgação

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

05/04/2017 15h54Atualizada em 05/04/2017 18h52

Três deputados federais do PT anunciaram nesta quarta-feira (5) que irão apresentar representações contra agentes da Polícia Federal e contra o juiz federal Sergio Moro, responsável por processos da Operação Lava Jato.

Os parlamentares disseram ter coletado indícios de irregularidades na ligação deles com a produção do filme "Polícia Federal - A Lei É para Todos", que vai contar a história da operação e tem estreia prevista para o mês de julho.

Orçado em R$ 15 milhões, com investidor secreto, a produção teve armas, uniformes, carros, helicóptero e avião cedidos pela Polícia Federal. O produtor Tomislav Blazic e atores relataram à imprensa visitas à carceragem da PF e acesso a material da investigação.

A conduta de pelo menos dez integrantes da Polícia Federal será alvo de pedido de investigação no MPF (Ministério Público Federal), assinada pelos deputados Paulo Pimenta (PT-RS), Wadih Damous (PT-RJ) e Paulo Teixeira (PT-SP).

De acordo com os petistas, a representação pleiteando a "responsabilização criminal" dos agentes será protocolada na Procuradoria de Combate à Corrupção, em Brasília, na tarde desta quinta (6).

Os parlamentares acusaram os policiais de praticarem crimes de improbidade administrativa, peculato, abuso de autoridade e prevaricação por conta da ligação com o filme.

"No direito público, aquilo que não é permitido, é proibido. Não há base legal para que a PF patrocine um filme que relate uma operação que ainda está em curso”, declarou Damous.

O deputado informou que o produtor do filme e os atores do elenco da produção serão listadas como testemunhas, "para confirmar ou desmentir as denúncias".

A reportagem procurou a Polícia Federal, mas não obteve resposta até o momento.

Condução coercitiva

Contra Moro, os deputados disseram que vão ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça). O juiz, que havia determinado que não houvesse, "em hipótese alguma", filmagem da condução coercitiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em março do ano passado, teria permitido que as imagens fossem cedidas à equipe do filme.

Os deputados citaram uma entrevista do ator Ary Fontoura, que interpreta Lula no filme, na qual ele diz que teve acesso ao vídeo produzido pela PF.

Lula - condução coercitiva - Paulo Whitaker/Reuters - Paulo Whitaker/Reuters
Lula acena para militantes após prestar depoimento após receber mandado de condução coercitiva
Imagem: Paulo Whitaker/Reuters

Acionado pela defesa de Lula no dia 23 do mês passado, Moro determinou que fosse apurada a responsabilidade criminal dos agentes policiais, e escreveu em despacho que "não cabe a este Juízo impor censura a veículos de comunicação ou mesmo à produção de algum filme".

O juiz afirmou ainda que petição de Lula baseava-se "tão somente" em reportagem jornalística, da revista "Veja" e que "não consta que qualquer gravação efetuada durante a diligência de condução coercitiva tenha sido disponibilizado à produção do filme ou a qualquer veículo de imprensa".

Em reportagem sobre os bastidores do filme, a revista informa que "teve acesso à íntegra da gravação de todo o processo, feita por câmera digital acoplada ao uniforme de um agente da PF".

"Ninguém pediu que ele funcionasse como censor. Pede-se que ele funcione como juiz, e que fizesse obedecer e respeitar as suas próprias determinações judiciais. Ele está incorrendo, no mínimo, em falta disciplinar, o que será apreciado pelo CNJ", disse o deputado Wadih Damous.

Intimado por Moro para prestar esclarecimentos sobre a reclamação do ex-presidente, o delegado da PF Igor Romário de Paula admitiu, por escrito, que foram "realizadas imagens" durante a ação pela Polícia Federal, mas disse que elas "não foram cedidas [...] a qualquer pessoa, empresa ou veículo de comunicação".

Ministro da Justiça

Os parlamentares também anunciaram que solicitaram a convocação do ministro da Justiça, Osmar Serraglio (PMDB-PR), na Comissão de Direitos Humanos da Câmara. "Houve violação do direito à privacidade", explicou Damous.

Os petistas apresentaram ainda requerimentos de pedidos de informação sobre o caso direcionados a Serraglio e ao diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra protocolados na Câmara entre os dias 17 e 22 de fevereiro, que até o momento não foram respondidos.

No fim do mês passado, o deputado Paulo Pimenta apresentou reclamação ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e ao ministro da Justiça, por conta do descumprimento da Lei de Acesso à Informação por conta da PF.