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Aécio pediu R$ 6 milhões em doações ilegais à Odebrecht em 2014, dizem delatores

Pimenta da Veiga (à esquerda), Aécio (centro) e Anastasia fazem campanha em 2014 - Orlando Brito - 29.set.2014/Coligação Muda Brasil
Pimenta da Veiga (à esquerda), Aécio (centro) e Anastasia fazem campanha em 2014 Imagem: Orlando Brito - 29.set.2014/Coligação Muda Brasil

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

12/04/2017 23h14Atualizada em 12/04/2017 23h18

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) pediu ao grupo Odebrecht R$ 6 milhões em doações ilegais para a sua campanha e a de aliados em 2014, segundo as delações de Marcelo Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior e Sérgio Luiz Neves, todos ex-executivos do conglomerado.

A PGR (Procuradoria-Geral da República) classifica os pagamentos como “vantagens indevidas a pretexto de campanhas do senador à Presidência da República” e de outros políticos, como o senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), o deputado federal Dimas Fabiano (PP-MG) e o ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB-MG), candidato derrotado ao governo de Minas em 2014.

De acordo com Sérgio, o codinome de Anastasia no sistema de pagamentos ilegais da Odebrecht era “Dengo”, enquanto Aécio era o “Mineirinho”. A operação de R$ 6 milhões foi batizada como “Gordo”.

Segundo a PGR, os políticos podem ter cometido crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Já os funcionários da Odebrecht podem ter incorrido em lavagem de dinheiro e corrupção ativa.

Pagamentos em dinheiro vivo

Segundo Benedicto Júnior, Aécio teria pedido a ele a doação antes do primeiro turno de 2014. O dinheiro seria gerenciado por Dimas e Oswaldo Borges da Costa Filho, que aparece em outras denúncias de delatores como operador de caixa 2 de Aécio.

Dimas Toledo - Reprodução/ Facebook - Reprodução/ Facebook
Deputado Dimas Fabiano (PP-MG)
Imagem: Reprodução/ Facebook

Os pagamentos foram organizados por Sérgio Luiz Neves, então superintendente da Odebrecht em Minas, e feitos por meio do Setor de Operações Estruturadas do grupo --nada mais do que um departamento criado para pagar propinas e caixa 2. Esta área era chefiada por Hilberto Mascarenhas Alves da Silva Filho.

De acordo com os delatores, R$ 3 milhões ficaram sob poder de Dimas e seriam distribuídos a aliados do deputado. A outra metade, a cargo de Oswaldo, foi destinada a Pimenta da Veiga (R$ 2 milhões), Anastasia (R$ 500 mil) e ao próprio Aécio (R$ 500 mil).

Os pagamentos foram feitos em dinheiro vivo, contaram os ex-executivos. Um total de R$ 2,5 milhões foi entregue em um apartamento em Lourdes, bairro nobre de Belo Horizonte. Sérgio Neves contou ter pago os R$ 500 mil destinados a Aécio a Oswaldo Borges da Costa Filho em uma concessionária de máquinas e caminhões na BR-381.

Já os R$ 3 milhões pagos a Dimas Fabiano foram entregues pela equipe de Hilberto Silva em 12 parcelas de R$ 250 mil a um assessor do parlamentar chamado Anderson, em seu apartamento no bairro do Sion, também em Belo Horizonte.

Outro lado

A assessoria de Aécio enviou nota segundo a qual o senador "pediu apoio, como dirigente partidário, a várias candidaturas do PSDB, sempre de acordo com a lei." Segundo o comunicado, "nas declarações divulgadas hoje, os delatores foram unânimes em dizer que as doações eleitorais feitas ao senador Aécio Neves jamais envolveram algum tipo de relação ilícita, propina ou contrapartida."

Ainda de acordo com a assessoria do senador, "em vídeo divulgado hoje, Marcelo Odebrecht fez a seguinte declaração sobre os contatos mantidos com o senador Aécio: “Nunca teve uma conversa para mim de pedir nada, vinculado a nada.'"

Em nota, a assessoria de Antonio Anastasia disse que, em toda sua trajetória, o senador "nunca tratou de qualquer assunto ilícito com ninguém." 

O UOL ligou para o gabinete de Dimas Fabiano e para a sede do PP em Brasília, mas ninguém atendeu os telefones. Na terça (11), após a abertura de investigação sobre o caso por ordem do STF, Dimas Fabiano afirmou que “jamais teve contato com a Odebrecht, não tendo sido destinatário de recursos pela empresa”. Pimenta da Veiga não foi encontrado.

Oswaldo Borges da Costa Filho foi procurado por e-mail e telefone ao longo da noite de quarta, mas não respondeu às tentativas de contato.