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O que esperar dos políticos após as delações da Odebrecht?

Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL) são 2 dos senadores citados na lista de Fachin - Andressa Anholete - 31.ago.2016 /AFP
Romero Jucá (PMDB-RR) e Renan Calheiros (PMDB-AL) são 2 dos senadores citados na lista de Fachin Imagem: Andressa Anholete - 31.ago.2016 /AFP

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

17/04/2017 04h00Atualizada em 17/04/2017 09h07

As delações dos executivos e ex-executivos da Odebrecht abalaram as estruturas da política nacional, mas também abrem espaço para um novo perfil na gestão pública, na avaliação de especialistas ouvidos pelo UOL.

Após a lista com os nomes dos políticos citados nos acordos de colaboração, divulgada por decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Edson Fachin, na última semana, os cientistas políticos Ricardo Caldas e Carlos Melo afirmam que o maior impacto deverá ocorrer no contexto eleitoral.

Segundo eles, a entrada de "outsiders" na política, tendência já observada no pleito municipal de 2016, ganhará ainda mais força, inclusive na corrida presidencial do ano que vem.

Caldas destaca, no entanto, que esse é um processo que deve ocorrer "de fora para dentro", já que os políticos não teriam sinalizado sinais de mudança.

O que podemos esperar deles? Acho que o mesmo que eles já fazem. Nada mudou nesse sentido. Para eles, esse momento pós-delação é como um dia normal de trabalho. O sistema é o mesmo Ricardo Caldas, cientista político da UNB

"Mas para o eleitor, é importante observar que há um movimento no sentido contrário. Há uma expectativa em relação a entrada de políticos novos no ano que vem. Já no ano passado, houve um amadurecimento. Pela primeira vez, o eleitor fez uma coisa diferente e deu chance a candidaturas que antes seriam inexpressivas", completou ele, que é professor da Universidade de Brasília.

O cientista político também disse considerar que a disputa pela Presidência da República fará com que os partidos tradicionais, como PT e PSDB, se aproximem da lógica "outsider".

"O PSDB e o PT vão ter que rever suas candidaturas. Acho muito improvável, por exemplo, que o Lula seja o candidato do Partido dos Trabalhadores. As pessoas vão querer uma novidade, e o Lula não é mais uma novidade. O mesmo vale para o Aécio, o Alckmin, o Serra. O próprio PSDB talvez tenha que dar um passo para trás", afirmou.

Para Caldas, essa reconfiguração da política brasileira dá fôlego a nomes como o atual prefeito de São Paulo, o empresário João Doria (PSDB). "Mas ele é um falso outsider, na verdade, porque ele já está inserido ao sistema. De qualquer forma, é um nome que surge com força."

Incerteza

Já Melo, que é blogueiro do UOL, afirmou preferir não se arriscar a dizer o que os brasileiros poderiam esperar dos políticos no contexto pós-delações. "Quem disser que sabe como vai ser, ou está enganando ou está delirando. O grau de incerteza é muito grande", disse. Assim como Caldas, o professor do Insper-SP disse acreditar em uma ruptura forçada por "setores fora da política".

"É claro que essas delações minam ainda mais a credibilidade do sistema político. Atingem indiscriminadamente quase todos os partidos do sistema político. São políticos de várias vertentes. Essas delações tendem a criar um vácuo, um espaço vazio. Ele pode ser ocupado ou por setores de fora da política ou por setores novos", explicou.

De acordo com o cientista político, em um quadro de curto prazo, os resultados da Operação Lava Jato podem acabar atrasando reformas necessárias à economia do país, pois o Congresso passará a "tergiversar" para "ganhar tempo". Quanto mais tempo ganho, afirmou o professor, maior seria a chance de reduzir os danos provocados pelo trabalho do Ministério Público Federal, da Receita Federal e da Polícia Federal.

O governo será pressionado a dar outros encaminhamentos para a crise econômica. Acho que a situação ainda pode ser agravar muito. É como jogar gasolina na fogueira. A política prejudica a economia, e a economia prejudicada atrapalha ainda mais a política Carlos Melo, cientista político do Insper e blogueiro do UOL

Melo disse, por fim, que o momento conturbado pelo qual o país atravessa cria ainda uma brecha "perigosa" para a entrada de candidaturas mais "radicalizadas".

"Essa coisa do outsider é interessante por um lado, mas também há uma abertura perigosa para alguns extremismos. O centro do espectro político foi todo atingido e há uma grande crise de liderança no país. Os poucos líderes que ainda estão ativos foram atingidos pelas delações, gerando um clima de bastante incerteza."