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Em quatro anos, propina paga foi maior que lucro da Odebrecht

Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress
Imagem: Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

18/04/2017 04h00

O valor pago pela Odebrecht em propina e caixa dois superou o lucro líquido da empresa em quatro anos dentro do período que vai de 2006 a 2014. A constatação é resultado de um levantamento que cruzou dados sobre os pagamentos feitos pelo setor de operações estruturadas da companhia, responsável pelo pagamento de vantagens indevidas, e os relatórios anuais da Odebrecht ao mercado. 

De acordo com o delator Hilberto Mascarenhas, do setor de operações estruturadas, a Odebrecht pagou US$ 3,3 bilhões em propinas e caixa dois entre os anos de 2006 e 2014. No mesmo período, a companhia teve um lucro líquido (calculado após pagamento de impostos, depreciações e outras taxas) de US$ 4,1 bilhões

Apesar de o lucro total acumulado no período ser maior do que o valor pago em propina, houve quatro anos entre 2006 e 2014 em que o volume de vantagens indevidas pagas pela companhia foi superior ao lucro. Isso aconteceu em 2006, 2011, 2013 e 2014.

Em 2006, a empresa registrou um lucro líquido de US$ 59 milhões e pagou US$ 60 milhões em propinas e caixa dois. Em 2011, a companhia teve um lucro de US$ 24 milhões, mas distribuiu US$ 520 milhões em vantagens indevidas. Em 2013, as propinas somaram US$ 730 milhões enquanto o lucro líquido foi de US$ 210 milhões. Em 2014, o valor pago em propinas foi de US$ 450 milhões enquanto o lucro foi de US$ 211 milhões.

Apesar de ter registrado anos em que o valor de propina foi superior ao lucro da companhia, os dados financeiros da companhia indicam que ela “enriqueceu” ao longo do período.

Entre 2006 e 2014, o patrimônio da Odebrecht S.A aumentou 565% entre 2006 e 2014, saindo de R$ 2,6 bilhões para R$ 17,3 bilhões. Patrimônio líquido é a soma de todos os ativos de uma companhia menos os seus passivos. 

Delações

Na semana passada, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luiz Edson Fachin tirou o sigilo das delações premiadas de 78 executivos da Odebrecht no âmbito da Operação Lava Jato.

Ao todo, Fachin autorizou a abertura de inquéritos contra oito ministros, 24 senadores, 39 deputados federais e um ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).

Noventa e oito políticos foram citados pelos delatores. Além dos inquéritos autorizados por Fachin, dezenas de petições foram encaminhadas a instâncias inferiores que podem ou não autorizar a abertura de mais inquéritos. 

Os inquéritos vão apurar se as informações repassadas pelos delatores contra políticos com foro privilegiado têm ou não procedência. Após a finalização do inquérito, caberá ao Ministério Público oferecer denúncias ou não.

Em nota encaminhada na semana passada, a Odebrecht disse ter reconhecido “seus erros” e “pediu desculpas”. A companhia disse que “está fazendo a sua parte neste compromisso com o Brasil” e que já adotou um novo modelo de governança normas rígidas de combate à corrupção na companhia.