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Renan compara gestão Temer a "governo da vingança" e pede mobilização contra reformas

O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), criticou o governo Temer em entrevista - Jonas Pereira/Agência Senado
O líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), criticou o governo Temer em entrevista Imagem: Jonas Pereira/Agência Senado

Gustavo Maia

Do UOL, em Brasília

03/05/2017 16h43Atualizada em 04/05/2017 12h10

O senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder da bancada do seu partido no Senado e ex-presidente da Casa, declarou em reunião com representantes de centrais sindicais na tarde desta quarta-feira (3) que o governo do presidente Michel Temer (PMDB) pode ser comparado ao do presidente Artur Bernardes (1922-1926), “considerado o governo da vingança”.

O senador também cumprimentou os sindicalistas pela greve geral da última sexta (28) e disse que, “na medida do possível, é preciso resistir” às reformas trabalhista –“que revoga a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas)”-- e da Previdência –“contra os trabalhadores e contras as regiões mais pobres do país”. Ambas foram propostas pelo governo federal.

“O último governo que guarda alguma relação com o que está acontecendo hoje no Brasil foi o governo do Artur Bernardes, considerado o governo da vingança. No século 21 isso não pode mais se repetir no Brasil”, afirmou o peemedebista, que nas últimas semanas tem feito críticas públicas às medidas defendidas por Temer.

Renan afirmou ainda que não se pode “permitir que esse desmonte se faça no calendário que essa gente quer”. “Só resistiremos [senadores] na medida que a sociedade cobra se contarmos com a mobilização social. E o papel de vocês é fundamental para que isso aconteça”, completou, sendo aplaudido pelos representantes das centrais.

“É evidente que na medida que houver mobilização nós vamos ver o reflexo disso aqui no Senado Federal”, acrescentou Renan, que se colocou à disposição para encaminhar propostas consensuais para melhorar os projetos.

Na semana passada, a Câmara dos Deputados aprovou a reforma trabalhista, que foi enviada para o Senado. Nesta terça (2), o presidente interino da Casa, senador Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) –que assumiu temporariamente no lugar de Eunício Oliveira (PMDB-CE), em licença-médica-- assinou despacho encaminhando o projeto para as comissões de Assuntos Econômicos e Assuntos Sociais da Casa.

A oposição apresentou requerimentos para que a reforma também passe pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e pela CDH (Comissão de Direitos Humanos), que devem ser votados na sessão plenária desta quarta. No início da tarde, Cunha Lima propôs um acordo à oposição para que a CCJ fosse incluída na tramitação, sem a necessidade de votação dos pedidos.

O encontro aconteceu na sala da liderança do PMDB no Senado e teve a presença de outros senadores que fazem oposição ao governo Temer, entre eles o líder da minoria, Humberto Costa (PT-PE) e a líder do PT, Gleisi Hoffmann (PR), além de Roberto Requião (PMDB-PR), Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM). Esta foi a segunda reunião de Renan com o grupo em menos de um mês.

Dentre os sindicalistas, compareceram à reunião o presidente da CUT (Central Única de Trabalhadores), Vagner Freitas, o deputado federal Paulo Pereira da Silva (SDD-SP), líder da Força Sindical, Ricardo Patah, presidente nacional da UGT (União Geral dos Trabalhadores), entre outros. Em breves discursos, eles pediram apoio dos senadores presentes e prometeram fazer novas paralisações e “não dar paz” a quem votar a favor das reformas no Senado.

Em tom mais conciliador, Renan também declarou que não se pode deixar de discutir as reformas, desde que “em primeiro lugar ouvindo o povo, os trabalhadores”. “Se for necessário, nós vamos conversar com quem for. Os trabalhadores precisam ser ouvidos”, disse.

“Como é que você acaba com a contribuição sindical, e mantém a patronal, do Sistema S? A quem interessa isso?”, questionou o peemedebista, ecoando reclamações dos representantes das centrais que falaram antes dele.

Procurado pelo UOL, o Palácio do Planalto disse que não iria se pronunciar sobre as crítcas de Renan.

Liderança em xeque

Cada vez mais próximo da oposição, Renan foi chamado de “o cara” pelo senador Paulo Paim (PT-RS) e ouviu agradecimentos de Gleisi Hoffmann. Líder da maior bancada partidária do Senado –composta por 22 dos 81 senadores, quase um terço do total--, Renan tem irritado o governo Temer e passou a ter sua liderança questionada por governistas, que passaram a defender a sua destituição do cargo.

Reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" desta quarta afirma que ganha corpo uma operação para tirar Renan Calheiros da liderança do PMDB do Senado. O primeiro passo foi impedir que a reforma trabalhista fosse incluída na pauta da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). O colegiado é presidido por um aliado do senador alagoano.

Sem tratar abertamente da articulação para tirá-lo do posto, Calheiros disse que “o PMDB vai discutir democraticamente o que vai fazer pela sua maioria. “Se for incompatível com a liderança do PMDB defender os trabalhadores, vocês não duvidem o que pode acontecer”, disse a jornalistas ao fim da reunião.

Durante sua fala aos sindicalistas, o líder do PMDB no Senado também falou sobre a repercussão do seu comportamento na imprensa.

“As pessoas se julgam no direito o que um senador pode defender e não pode defender, se é ou não é coerente com a sua trajetória de vida e a sua participação no Parlamento. E isso se coloca para a sociedade como se fosse uma verdade. O Parlamento não pode concordar com isso”, afirmou.