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Lava Jato faz buscas em endereços de ex de Cabral após suspeita de lavagem com obras de arte

Rodrigo Félix/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo
Imagem: Rodrigo Félix/Agência de Notícias Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo

Do UOL, no RIo

08/05/2017 11h05Atualizada em 08/05/2017 11h05

A 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro expediu dois mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Suzana Neves, ex-mulher do ex-governador Sérgio Cabral, preso desde novembro passado. Os mandados são cumpridos nesta segunda-feira (8) em Araras (RJ) e São João del-Rei (MG).

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), Suzana Neves comprou, em nome de sua empresa Araras Empreendimentos Consultoria e Serviços Ltda, um imóvel em São João del-Rei por R$ 600 mil --a suspeita dos investigadores é de que ela não teria recursos de origem lícita compatível para essa aquisição.
 
O MPF apura se o imóvel está sendo utilizado para guardar bens de valor adquiridos com recursos ilícitos de organização chefiada por Cabral, como por exemplo obras de arte. Segundo apuração dos investigadores, em janeiro e fevereiro passados, teria havido um descarregamento de um “container de quadros” na casa.
 
A Receita Federal detectou ainda que a Araras Empreendimentos teve movimentação financeira incompatível com a receita bruta declarada e distribuiu lucros e dividendos incompatíveis com as receitas auferidas, nos exercícios de 2007 a 2009 e de 2011 a 2015. O levantamento demonstra que a sede da empresa é a própria residência de Suzana, no bairro da Lagoa, zona sul do Rio, e que não há nenhum empregado registrado.
 
As investigações apontam que Suzana Neves usou sua empresa para ocultar a origem ilícita de R$ 1.266.975,00. Entre 25/10/2011 e 13/12/2013, foram identificadas 31 transferências bancárias de recursos oriundos do grupo de empresas da empreiteira FW Engenharia, por intermédio da empresa Survey Mar e Serviços Ltda, que realizou pagamentos à Araras Empreendimentos a título de serviços de consultoria em valor quase duas vezes maior que a sua renda bruta declarada. Quase 50% dos valores recebidos pela Survey da FW no período analisado pela investigação foram repassados logo em seguida para a empresa de Suzana Neves, segundo informações da Lava Jato no Rio.
 
O MPF diz que "toda a movimentação aponta para lavagem de dinheiro pago como propina à organização criminosa em contratos que o governo do Estado do Rio de Janeiro firmou com a FW Engenharia". 
 
A reportagem do UOL tenta contato com a defesa de Suzana Neves. Os advogados de Cabral têm afirmado que só se manifestarão em juízo.
 

Calicute

 
Em diligências de busca e apreensão autorizadas durante a Operação Calicute, foram apreendidas anotações que indicam o pagamento de propina pela empreiteira FW Engenharia em benefício da organização de Cabral. De acordo com as investigações, um dos contratos firmados com a empresa, no valor de R$ 35 milhões, teve por objeto a elaboração de projeto executivo e a execução de obras complementares de urbanização no Complexo de Manguinhos, comunidade da zona norte beneficiada pelo PAC Favelas. A contratação foi financiada com recursos da União provenientes do Programa de Aceleração do Crescimento.
 
A força-tarefa da Lava Jato no Rio acusa Cabral de instituir, ao assumir o governo fluminense, em 2007, um esquema de cartelização de empresas e favorecimento em licitações, mediante pagamento de propina de cerca de 5% em obras públicas de construção civil. Investigações apontam quem essa organização desviou mais de US$ 100 milhões dos cofres públicos mediante envio de recursos para o exterior.