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Autor de impeachment de Dilma pede grandeza a Temer: "A melhor solução é renunciar"

O jurista Miguel Reale Jr., durante o processo de cassação de Dilma Rousseff - André Dusek/Estadão Conteúdo
O jurista Miguel Reale Jr., durante o processo de cassação de Dilma Rousseff Imagem: André Dusek/Estadão Conteúdo

Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

18/05/2017 16h56

O jurista Miguel Reale Jr., um dos autores do pedido que resultou no impeachment de Dilma Rousseff (PT), defendeu nesta quinta-feira (18) a renúncia do presidente Michel Temer em virtude de denúncias que o envolvem em atos de corrupção.

"A melhor solução para o país nesse instante, em que começa a se recuperar do ponto de vista econômico, é o presidente renunciar e serem convocadas eleições indiretas, como determina a Constituição. Espero que o Temer tenha essa grandeza", afirmou o jurista, em entrevista ao UOL.

Em pronunciamento na tarde desta quinta, entretanto, Temer descartou essa possibilidade: "Não podemos jogar no lixo da história tanto trabalho feito em prol do país", disse. "Não renunciarei. Repito: não renunciarei."

Para Reale Jr., o objetivo, no pós-Temer, seria o de "encontrar um nome de consenso e isento de qualquer comprometimento, que leve adiante o programa de recuperação do país". O jurista diz que "infelizmente todas as lideranças políticas mais expressivas têm o seu lado B", citando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ex-presidente Dilma e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), também envolvido nas novas denúncias de corrupção junto com Temer.

Segundo Reale Jr., que assinou com o jurista Hélio Bicudo e a advogada Janaina Paschoal o documento inicial que levou à cassação de Dilma e à posse de Temer, "o país não aguenta mais um processo de impeachment, que é doloroso e longo".

Apesar da negativa de Temer em sair, o jurista vê poucas chances de o governo continuar, uma vez que outros partidos, como o PPS e possivelmente o PSDB, podem deixar a base do governo. “Não vejo capacidade de recuperação política para o governo.”

O país não aguenta mais um processo de impeachment, que é doloroso e longo

Miguel Reale Jr., jurista

Se o impeachment foi em vão do ponto de vista do combate à corrupção? Ele diz que não. "Se tivéssemos ficado com a Dilma, muito disso que está aparecendo não teria aparecido. Nós estávamos afundados num processo recessivo e continuaríamos nele", frisou. "Pelo menos o governo Temer trouxe alguma possibilidade de recuperar a economia. Se não tivesse havido o impeachment, estaríamos no caminho da Venezuela. Não tenho a menor dúvida de que foi positivo."

Para Reale Jr., os motivos que o levaram a participar do processo de deposição de um presidente seguem em voga. "Continuamos a lutar contra a anistia [a políticos] e a favor de um processo democrático e de moralidade pública. Esse é o objetivo."