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Executivo da JBS revela código de Temer para propina a Cunha: 'alpiste para passarinho'

Do UOL, em São Paulo

19/05/2017 16h43Atualizada em 19/05/2017 19h07

“Tá [sic] dando alpiste para o passarinho? O passarinho tá [sic] tranquilo na gaiola?” Segundo Ricardo Saud, executivo da holding J&F, essas frases foram usadas pelo presidente Michel Temer (PMDB) para se referir à propina dada ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), detido pela Operação Lava Jato.

Ainda de acordo com Saud, um dos sete delatores da JBS, Cunha e o doleiro Lúcio Bolonha Funaro --que também está preso-- recebiam dinheiro para ficar em silêncio, sem colaborar com as investigações.

Em delação ao Ministério Público no dia 10 de maio deste ano, o executivo contou que Joesley Batista, dono da JBS, se encontrou com Temer para dizer que “estava acabando o alpiste do passarinho”. Ou seja, que a empresa deixaria de pagar a propina. No que o presidente teria afirmado: ''Continua, isso é muito importante''. 

A companhia então continuou com os repasses.  “Vamos pagar mais um ou dois, só, até o Michel Temer resolver como é que vai pagar isso. Porque nós já cumprimos nossa parte, não vamos mais ficar segurando ninguém”, teria dito Batista a Saud. 

Saud acredita que a fala dos detidos poderia comprometer “a República e a nossa empresa”. “A República como um todo. Não é só político. É o Executivo, o Legislativo todo. Ali todo mundo trabalha junto.”

Na gravação divulgada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), o momento em que Temer diz "Temos que manter isso, viu?" conta com vários trechos inaudíveis. Sem a transcrição oficial do diálogo, não é possível cravar que o presidente fez o comentário dando aval aos pagamentos. Segundo a presidência, "a acusação não procede e o diálogo do presidente com o empresário Joesley prova isso".

Em pronunciamento na tarde de quinta, Temer negou ter dado aval à compra de silêncio. “Ouvi realmente o relato de um empresário, que, por ter relações com um ex-deputado, auxiliava a família do ex-parlamentar. Não solicitei que isso acontecesse e somente tive conhecimento de fato dessa conversa pedida pelo empresário. Repito e ressalto: em nenhum momento autorizei que pagassem a quem quer que seja para ficar calado. Não comprei o silêncio de ninguém, por uma razão singelíssima: exata e precisamente porque não temo nenhuma delação. Não preciso de cargo público nem de foro especial, nada tenho a esconder, sempre honrei meu nome: na universidade, na vida pública, na vida profissional, nos meus escritos, nos meus trabalhos, e nunca autorizei, por isso mesmo, que usassem meu nome indevidamente”.

Temer confirmou o encontro, mas disse que "jamais solicitou pagamentos para obter o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha" e negou ter participado ou autorizado "qualquer movimento com o objetivo de evitar delação ou colaboração com a Justiça pelo ex-parlamentar".

Já Cunha, em nota redigida de próprio punho, afirmou que Joesley Batista mentiu ao dizer que estava pagando pelo seu silêncio. “Estou exercendo o meu direito de defesa, não estou em silêncio e tampouco ficarei”, diz Cunha no texto. Ele reforçou ainda que “jamais” pediu “qualquer coisas ao presidente Michel Temer”. 

O executivo da J&F não especifica o valor pago a Cunha, mas diz que Funaro recebe R$ 400 mil mensais da empresa desde que foi preso, em julho de 2016. “Criou-se um mensalinho”, resumiu. O repasse era feito inicialmente ao irmão de Funaro. Depois, passou a ser recebido por Roberta, a irmã. Em um desses encontros, gravado pela Polícia Federal, ela estava acompanhada de uma criança de quatro anos.

Antes do "mensalinho", a J&F já pagava propina ao doleiro referente a um processo da Eldorado Brasil, empresa de celulose da holding. “O Lúcio nunca foi próximo do grupo, sempre foi uma pessoa que chantageou muito o grupo. [...] Ele procurava as peças nos lugares certos para sair cobrando propina das pessoas”, resumiu Saud.

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UOL Notícias

O UOL tentou contato com os dois novos advogados de Eduardo Cunha - Rodrigo Rios e Ticiano Figueiredo -, mas nenhum deles atendeu aos telefonemas.

Segundo o advogado do doleiro Lúcio Bolonha Funaro, Bruno Espiñeira, ele e o cliente só vão se posicionar após analisar cuidadosamente o material da denúncia. “Estamos encarando da mesma forma como qualquer delação, que muitas vezes acontece com o delator apenas querendo se librar de problemas e distorcendo fatos”.