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"Nunca acreditei que ele fosse me absolver", diz Lula sobre sentença de Moro

Lula rebate sentença de Moro em 1º pronunciamento após sentença

UOL Notícias

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

15/07/2017 13h04

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, neste sábado (15), nunca ter acreditado que o juiz federal Sérgio Moro fosse absolvê-lo na ação penal sobre o apartamento tríplex no Guarujá (SP). Lula foi condenado na última quarta-feira (12) a nove anos e seis meses de prisão em regime fechado pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele pode recorrer em liberdade.

Nunca acreditei que ele fosse me absolver. Eu discutia com os meus advogados: 'vocês estão me defendendo juridicamente e ele está me julgando politicamente. Eles não estão julgando o Lula pessoalmente, estão julgando o nosso governo, as coisas que fizemos nesse país.

A afirmação foi feita em um discurso durante a posse da nova diretoria do PT em Diadema, na Grande São Paulo.

Lula disse, ainda, que Moro não deu a sentença "só para me prejudicar", mas que ao condená-lo estaria prestando contas à imprensa.

"Descobri no depoimento que eu fiz que não tinha saída. Estão tão prisioneiros da imprensa, tão subordinados a prestar contas à imprensa, que vocês viram que no meu depoimento para o Moro disse que não tinha como me absolver porque a imprensa ia comer ele. Ele não fez a sentença só para me prejudicar, estava prestando contas a quem os criou, que foi a imprensa brasileira que fortaleceu as mentiras contadas sobre mim", disse.

O ex-presidente afirmou também que, se não fosse condenado, o "golpe não teria sentido".

"Se eles não me condenarem, o golpe não teria sentido. O golpe não fecha se eu não for condenado. Os caras tiveram a coragem de inventar uma mentira para tirar a Dilma. Tiraram a Dilma, elegeram o Temer sob a alegação de que a desgraça do Brasil era a Dilma e o PT. Passado um ano eles percebem que se nós éramos uma desgraça, o Temer é duas desgraças", afirmou.

Como eles deram um golpe na Dilma, para deixar o Lula voltar dois anos depois? A conta não fecha.

O ex-presidente disse que pedirá desculpas se Moro e o Ministério Público Federal provarem com documentos que o apartamento no Guarujá pertence a ele, e prometeu viajar pelo Brasil para que o povo o julgue.

"Se o Moro ou o Ministério Público provarem com um pedaço de papel, um contrato, uma assinatura, um pagamento, um cheiro meu naquele apartamento, eu peço desculpas a vocês e fico quieto. Mas, enquanto eles não provarem, eu vou andar por esse país para vocês me julgarem."

Sobre a crise econômica, Lula disse que sabe como fazer para o país voltar a crescer. "Se vocês quiserem que esse país volte a crescer e a ser respeitado, eu sei como fazer. Se vocês não sabem, deixem de destruir esse país", afirmou.

Aqueles que não gostam de mim, saibam que a punição que deram a mim não é nada diante da punição que deram ao povo brasileiro.

A sentença de Moro

A sentença dada por Sérgio Moro foi baseada na suposta propriedade do apartamento 164-A, no condomínio Solaris, no Guarujá (litoral de São Paulo). As reformas feitas no imóvel pela construtora OAS foram colocadas por Moro como principal prova de benefício de Lula pela empresa. O ex-presidente, no entanto, não tem escritura do imóvel em seu nome, e sim uma carta de intenção e um documento sem assinatura.

"Não se está, enfim, discutindo questões de direito civil, ou seja, a titularidade formal do imóvel, mas questão criminal, a caracterização ou não de crimes de corrupção e lavagem. Não se deve nunca esquecer que é de corrupção e lavagem de dinheiro do que se trata", diz Moro na sentença. O juiz determinou o confisco do tríplex.

O principal alicerce da condenação foram as declarações de Léo Pinheiro, que mudou seu depoimento em abril e disse que Lula seria o proprietário oculto do imóvel do Guarujá (SP). Pinheiro acusou o ex-presidente de ter mandado destruir as provas que o ligassem ao imóvel. Ao depoimento, Moro juntou notícias publicadas pela imprensa e depoimentos de possíveis inquilinos do ex-presidente.

O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) será responsável por julgar, em segunda instância, a decisão do juiz Sérgio Moro. Segundo entendimento recente do STF (Supremo Tribunal Federal), a condenação em segundo grau é suficiente para determinar o cumprimento da pena. Lula espera em liberdade o recurso, já que Moro não pediu sua prisão imediata.