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Para não "depender de empresário", Lula defende fundo para campanhas eleitorais

Foto: ABr
Imagem: Foto: ABr

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

24/07/2017 09h55Atualizada em 24/07/2017 10h30

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a criação de um fundo para o financiamento das campanhas eleitorais, durante entrevista dada na manhã desta segunda-feira (24) à rádio Tiradentes, no Amazonas. Segundo ele, “o Brasil não vai ter jeito” se não houver mudanças na legislação eleitoral.

“Se os políticos não tiverem coragem de mudar a legislação eleitoral para criar um fundo de financiamento de campanha, para que não fique mais dependendo de empresário, o Brasil não vai ter jeito”, disse o ex-presidente ao ser questionado se não sabia da relação “promiscua” entre os partidos e empresas por meio do pagamento de propinas.

A criação de um fundo público para financiamento de campanha com recursos da União está em debate na comissão especial de reforma política da Câmara dos Deputados. No próximo dia 3 de agosto, será analisada a proposta sobre a criação do FFD (Fundo Especial de Financiamento da Democracia) que, caso aprovado, financiará com verba pública as campanhas eleitorais dos partidos já a partir do próximo ano. O fundo deverá ser da ordem de R$ 3,5 bilhões em 2018.

Essa foi a terceira entrevista concedida pelo ex-presidente Lula após ter sido condenado a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em esquemas ligados a contratos entre a empreiteira OAS e a Petrobras.

Ainda durante a entrevista, Lula disse que "propina foi uma palavra inventada pelos empresários ou pelo Ministério Público para tentar culpar os políticos”.

“Os empresários sempre deram dinheiro para campanha. Não conheço político em Manaus que vendeu a casa dele para ser candidato. Não conheço um político em São Paulo que vendeu a casa, o carro para ser candidato. Todos eles pedem dinheiro a empresário. A diferença é que agora eles transformaram as doações em propinas. Então ficou tudo criminoso”, disse antes de defender a criação do fundo.

A última campanha petista para a Presidência foi alvo de contestação na Justiça Eleitoral. A principal acusação contra a chapa que elegeu Dilma e Temer era a de que a campanha havia recebido doações ilegais de empresas beneficiadas pelo esquema de corrupção na Petrobras. Em junho deste ano, a chapa Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) foi absolvida pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) da acusação de irregularidades nas eleições de 2014

Ao todo, a campanha de Dilma prestou contas que recebeu R$ 350.836.301,70, com superávit de R$ 261.238,06, a ser repassado à direção nacional do PT.

As empreiteiras investigadas na operação Lava Jato da Polícia Federal doaram quase R$ 98,8 milhões aos dois candidatos à Presidência que chegaram ao segundo turno das eleições, no dia 25 de outubro, segundo a prestação de contas final divulgada pelo TSE em 2014.

Reeleita, Dilma Rousseff (PT) foi a que mais recebeu dinheiro das oito construtoras sob investigação: Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Engevix, Galvão Engenharia, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão. O total chegou a R$ 64.636.179,25. As maiores doações foram da Andrade Gutierrez --R$ 21 milhões-- e da OAS, que doou R$ 20 milhões.

Já Aécio Neves (PSDB) recebeu pouco mais da metade de seis construtoras: Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão. Somadas as doações, foram doados ao candidato R$ 34.170.000. A Andrade Gutierrez foi também a campeã de doações ao tucano, repassando R$ 19 milhões.

Lulinha paz e amor é passado

Lula também foi questionado sobre o porquê de vir adotando um discurso cada vez mais agressivo ao confrontar notícias veiculadas pela imprensa sobre os processos que responde na Justiça.

“Eles sabem que não vão me derrubar porque eu tenho aliado forte que é o povo trabalhador desse país. Então eu sou obrigado a me rebelar, a denunciar”, disse.

“Quando tento ser duro na minha defesa é porque no dia que você for chamado de ladrão, o dia que te acusarem de lavagem de dinheiro, o dia teu neto chegar em casa perguntando se é verdade o que estão falando, você vai ser muito mais duro do que eu, vai ficar com muito mais raiva do que eu”, respondeu, acrescentando que “gostaria de não ser duro com ninguém, mas não posso ser muito afetuoso com quem me bate 24 horas por dia”, disse.

Mais Lava Jato

A ação penal conhecida como o "processo do tríplex", em que Lula foi condenado, chegou ao fim na primeira instância, mas Lula e Moro deverão se encontrar em uma nova oportunidade ainda este ano.

O ex-presidente é réu em um segundo processo na Justiça Federal no Paraná. Ele é acusado de participar de um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a empreiteira Odebrecht e a Petrobras. Ele será interrogado por Moro em 13 de setembro.

Lula pode se tornar réu ainda em um terceiro processo com Moro na Lava Jato. O MPF ofereceu, em 22 de maio, uma nova denúncia contra Lula, acusando-o, mais uma vez, de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Desta vez, os crimes envolvem um sítio em Atibaia (SP). Segundo os procuradores, o imóvel passou por reformas custeadas pelas empresas Odebrecht, OAS e Schahin em benefício do petista e de sua família. Em troca, os três grupos teriam sido favorecidos em contratos com a Petrobras.

Moro ainda não decidiu se acolhe ou não os novos argumentos da força-tarefa da Lava Jato.