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Ex-presidente da Caixa afirma que Cunha pressionou por liberação de projetos

O então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, durante coletiva em 2013 - Sergio Lima/Folhapress
O então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, durante coletiva em 2013 Imagem: Sergio Lima/Folhapress

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

26/07/2017 15h31Atualizada em 26/07/2017 16h09

O ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Hereda afirmou em depoimento à Justiça Federal nesta quarta-feira (26) que o então deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) o pressionou pela liberação do financiamento de projetos pela Caixa, durante uma reunião em 2014. Hereda prestou depoimento por videoconferência, da sede da Justiça Federal na Bahia.                        

Segundo Hereda, Cunha ameaçou convocá-lo para prestar depoimento "à CPI da Petrobras”, durante uma reunião de clima tenso na Câmara dos Deputados, com a presença do então presidente da Câmara Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

“Eu tomei como uma ameaça para me causar constrangimento”, disse Hereda, que é filiado ao PT e ocupou a presidência do banco estatal no governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Em 2014, estava em funcionamento no Congresso Nacional a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) da Petrobras, encerrada em dezembro daquele ano.

Segundo Hereda, a assessoria da Caixa o informou sobre ao menos três requerimentos para sua convocação que foram apresentados à CPMI e terminaram não sendo aprovados. 

“O senhor Eduardo Cunha reclamava do andamento dos projetos, mas que a gente andava muito rápido com os da Petrobras, e falou que se a gente aprovasse da Petrobras antes dos outros [projetos] que ele ia me convocar na CPI da Petrobras”, disse Hereda. 

No depoimento, Hereda não especificou quais projetos Cunha queria ver aprovados pela Caixa, ou qual a modalidade desses financiamentos. Hereda respondeu a perguntas dos advogados de defesa no processo, do juiz Vallisney de Souza Oliveira, titular da 10ª Vara da Justiça Federal do Distrito Federal, e da representante do MPF (Ministério Público Federal).

Nos arquivos da CMPI da Petrobras de 2014, disponíveis no site do Senado, é possível encontrar dois requerimentos para a convocação de Jorge Hereda. Ambos foram apresentados por Cunha, em agosto daquele ano. Um dos requerimentos é também assinado por outros três deputados do PMDB.

O motivo da convocação alegado nos documentos foi a necessidade de investigar os aportes feitos pela Caixa em refinarias da Petrobras sob investigação na CMPI. Os requerimentos não chegaram a ser votados pela comissão.

O ex-presidente da Caixa foi ouvido nesta quarta-feira como testemunha no processo em que o ex-deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o ex-ministro e ex-deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB) são acusados de participar de um esquema de corrupção na Caixa Econômica Federal para liberação de recursos do FI-FGTS, fundo de investimento estatal.

A denúncia contra Cunha e Alves teve como base as investigações da Operação Sepsis. 

Segundo o MPF (Ministério Público Federal), entre os anos de 2011 e 2015, o então deputado Eduardo Cunha atuou em um esquema de cobrança de propina a empresas beneficiadas pela Caixa Econômica Federal e ao FI-FGTS.

O esquema teria contado com a participação de Fábio Cleto, ex-vice-presidente de Loterias da Caixa Econômica Federal que posteriormente assinou um acordo de delação premiada.

Além de Cleto, Cunha e Alves, também foram denunciados no processo o corretor Lúcio Funaro, apontado como operador do PMDB, e o empresário Alexandre Margotto, que firmou acordo de colaboração premiada.

Hereda afirmou no depoimento desta quarta-feira que a nomeação de Fábio Cleto para a vice-presidência de Fundos de Governo e Loterias da Caixa não foi uma escolha sua, mas uma indicação do PMDB. 

Em resposta ao MPF, o ex-presidente da Caixa disse que não teria nomeado Cleto se a escolha lhe coubesse, pois o ex-executivo "não era pessoa da minha confiança", disse Hereda.

Cleto posteriormente se tornou delator e apontou suspeitas de participação de Cunha no esquema de propinas na Caixa.

Eduardo Cunha tem negado o envolvimento em qualquer prática ilegal. A reportagem do UOL ainda não conseguiu entrar em contato com a defesa do ex-deputado para ouvir sua versão sobre as afirmações de Hereda.

O advogado Marcelo Leal, que representa Henrique Alves no processo, afirmou que não há no processo nenhuma prova contra seu cliente.