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Ex-presidente da Petrobras embarcaria amanhã para Portugal, diz MPF

Luis Ushirobira/Valor
Imagem: Luis Ushirobira/Valor

Mirthyani Bezerra e Vinicius Boreki*

Do UOL, em São Paulo e em Curitiba

27/07/2017 11h06Atualizada em 27/07/2017 16h13

O ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil Aldemir Bendine e o empresário André Gustavo Vieira da Silva, apontado como um de seus operadores financeiros, tinham passagens compradas para Portugal e embarcariam entre hoje e amanhã para o país europeu, segundo informou nesta quinta-feira (27) o MPF (Ministério Público Federal). Bendine foi preso temporariamente hoje por agentes da Polícia Federal durante a 42ª fase da Operação Lava Jato, denominada Cobra. A prisão temporária tem prazo de cinco dias.

Em entrevista na manhã desta quinta, o procurador Athayde Ribeiro Costa afirmou que, até o momento, a investigação havia detectado apenas um bilhete de ida para a Europa do ex-presidente da Petrobras. Ele embarcaria amanhã para Portugal.

A defesa de Bendine enviou à reportagem do UOL duas imagens que seriam de comprovantes da passagem de volta de Bendine, programada para o dia 19 de agosto, em um voo direto de Lisboa ao aeroporto de Viracopos, em Campinas. "O documento mostra claramente que havia passagem de volta, de forma que não existem motivos para suspeita de fuga ou evasão", afirmou o advogado Pierpaolo Bottini.

O empresário André Gustavo também foi preso na manhã de hoje no Aeroporto Internacional dos Guararapes, no Recife. Ele embarcaria para Brasília, que, posteriormente, seguiria à Europa, ainda nesta quinta. O irmão dele, Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior, por sua vez, foi preso em casa também na capital pernambucana. A reportagem não localizou as defesas de André e Gustavo até a publicação desta matéria.  

 “Bendine tem nacionalidade italiana e os operadores possuem negócios consolidados em Portugal. É concreto o risco à ordem pública. Bendine tinha passagem para Portugal marcada para amanhã e as informações dão conta de que André Gustavo também tinha passagem marcada para a data de hoje”, contou o procurador da República, Athayde Ribeiro Costa, durante entrevista a jornalistas na sede da Polícia Federal em Curitiba.

Bendine foi preso temporariamente em Sorocaba, no interior de São Paulo, e, segundo a PF, está a caminho da Curitiba, onde ficará detido temporariamente. A operação que o prendeu se chama Cobra porque faz referência ao codinome dado ao principal investigado nas tabelas de pagamentos de propinas do chamado setor de operações estruturadas da Odebrecht.
 

Costa afirmou que o MPF havia pedido a prisão preventiva dele, por acreditar que havia elementos para isso, mas ela não foi dada pelo juiz federal Sergio Moro. 

“O juiz Sergio Moro optou por prisão temporária, apesar de entender que existiam elementos que caracterizava a necessidade da prisão preventiva. O Ministério Público vai analisar as provas colhidas na fase de hoje e posteriormente avaliará a possibilidade ou não de reintegrar o pedido de prisão preventiva.”

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Em seu despacho, Moro afirma que, apesar da aparente presença dos pressupostos e fundamentos da preventiva, é mais apropriado acolher no momento o pedido subsidiário da prisão temporária e justifica: “A imposição da prisão temporária viabilizará o melhor exame dos pressupostos e fundamentos da preventiva após a colheita do material probatório na busca e apreensão e após a oitiva dos investigados”.

“A medida, por evidente, não tem por objetivo forçar confissões. Querendo, poderão os investigados permanecer em silêncio durante o período da prisão, sem qualquer prejuízo a sua defesa”, diz o juiz no documento.

Moro diz ainda que ao fim do prazo de cinco dias, decidirá sobre prisão preventiva, "caso haja novo requerimento da autoridade policial ou do MPF nesse sentido".

O juiz federal também decretou o bloqueio das contas de Bendine e dos irmãos André e Antônio “até o montante de R$ 3 milhões” e das suas respectivas empresas.

“Observo que a medida ora determinada apenas gera o bloqueio do saldo do dia constante nas contas ou nos investimentos, não impedindo, portanto, continuidade das atividades das empresas ou entidades, considerando aquelas que eventualmente exerçam atividade econômica real. No caso das pessoas físicas, caso haja bloqueio de valores atinentes a salários, promoverei, mediante requerimento, a liberação”, ressalvou.

Uso do nome de Dilma

Segundo Costa, a informação de que ele viajaria para Portugal foi conseguida por meio da quebra telemática de arquivos de nuvem que mostrou mensagens de celulares autodestruídas. “Não se sabe se havia uma passagem de retorno, mas havendo ou não, não muda a necessidade da prisão preventiva”, disse o procurador.

Os suspeitos, segundo o MPF, usavam ferramentas de autodestruição para apagar os seus rastros em uma tentativa de obstrução da acusação. “A partir do momento em que usavam aplicativos com autodestruição de mensagens, eles queriam apagar provas”, diz Costa.

Bendine se tornou presidente da Petrobras com o objetivo de estancar a corrupção. “É assustador que, na altura do campeonato [das investigações], uma pessoa tenha sido nomeada para estancar a corrupção e tenha tido a audácia de praticar atos de corrupção e lavagem de ativos”, afirma Costa.

Por outro lado, o delegado da PF Igor Romário de Paula ressalta que não há mais surpresas com esses fatos. “A operação [Lava Jato] foi deflagrada no momento em que [Bendine] era presidente do Banco do Brasil e depois foi nomeado presidente da Petrobras, com o foco em austeridade para tentar salvar os problemas da Petrobras. Mas ele mesmo cobrava recursos de empreiteiros”, diz.

De acordo com a investigação, quando ainda atuava no Banco do Brasil, Bendine teria solicitado propina de R$ 17 milhões --que teria sido negada por Marcelo Odebrecht. Ao assumir a Petrobras, Bendine teria entrado em contato com o empreiteiro e solicitado R$ 3 milhões em fevereiro de 2015, com o pagamento sendo realizado em três parcelas --em junho e julho de 2015-- pelo Departamento de Operações Estruturadas.

Além de demandar propina após o andamento das investigações da Operação Lava Jato, em 2015, Bendine teria usado o nome da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para demandar propina a empreiteiros.

“Bendine teria usado o nome da então presidente da república para se promover perante os empreiteiros. Mas nada foi apurado em termos concretos em relação à ex-presidente”, afirma o procurador. 

Outro lado

Para o advogado de Bendine, Pierpaolo Bottini, a prisão temporária é "desnecessária". "Desde o início das investigações, Bendine se colocou à disposição para esclarecer os fatos e juntou seus dados fiscais e bancários ao inquérito, demonstrando a regularidade de suas atividades. A cautelar é desnecessária. É arbitrário prender para depoimento alguém que manifestou sua disposição de colaborar com a Justiça desde o início", afirmou Bottini ao UOL.

*Colaboração para o UOL, em Curitiba