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Advogado diz que Temer não é "facínora" e pede que Câmara "espere um ano e meio"

A denúncia contra Temer na Câmara

UOL Notícias

Felipe Amorim

Do UOL, em Brasília

02/08/2017 10h29Atualizada em 02/08/2017 14h23

Representando o presidente Michel Temer (PMDB) no plenário da Câmara, o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, defendeu que os deputados barrem o processo contra o presidente e insinuou que as acusações contra Temer não seriam graves.

Para Mariz, os deputados devem “esperar um ano e meio”, tempo de conclusão do mandato presidencial”, para que Temer seja então processado pela Justiça.

“Não se pode aguardar um ano e meio? Será o presidente da República um facínora que não pode ficar solto?”, perguntou Mariz.

“Estará ele cometendo barbaridades contra a nação ou estará ele, como dito aqui, cometendo em prol da nação uma série de benefícios?”, indagou o defensor. “Não se pode esperar um ano e meio?”, disse.

O defensor também voltou a afirmar que não há provas contra o presidente, pois não haveria nenhum elemento que ligasse Temer à mala de dinheiro recebida por seu antigo assessor, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR).

Flagrado pela Polícia Federal, posteriormente Loures devolveu a mala de dinheiro à Justiça.

“A mala não foi para o destino que queriam que fosse. E desejavam ardentemente que essa mala caísse no colo do presidente da República”, disse Mariz.

O advogado teve direito a 25 minutos de fala no plenário da Câmara, que decide nesta quarta-feira (2) sobre a autorização para que o STF (Supremo Tribunal Federal) possa analisar a denúncia por corrupção contra o presidente Michel Temer (PMDB) apresentada pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Se a Câmara der aval ao processo e o Supremo receber a denúncia, Temer se torna réu e fica afastado temporariamente do cargo. Se condenado, ele pode perder o mandato.

Michel Temer é o primeiro presidente a ser denunciado por corrupção durante o exercício do mandato. Em 1992, quando Fernando Collor foi denunciado pela Procuradoria, já havia sido afastado do exercício do mandato por causa do processo de impeachment aberto contra ele. No entanto, Collor só perdeu de fato o mandato com a condenação pelo Senado, em dezembro de 1992, um mês após a denúncia chegar ao STF.

O presidente passou a ser investigado a partir das delações premiadas da JBS. O empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo, gravou sem o conhecimento de Temer uma conversa com o presidente no palácio do Jaburu, em 7 de março.

No diálogo, Temer aparentemente indica Rocha Loures como seu homem de confiança com quem Joesley poderia tratar de interesses da JBS no governo.

Posteriormente, Loures foi flagrado pela Polícia Federal recebendo uma mala com R$ 500 mil de um executivo da JBS, com quem, segundo as investigações da Procuradoria, teria negociado propina que poderia chegar ao valor de R$ 38 milhões.

Para a Procuradoria, Rocha Loures atuou como um intermediário de Temer, tanto na negociação quanto no recebimento da propina.

O que diz o presidente

Temer tem negado as acusações contra ele. O presidente chegou a afirmar que a denúncia seria uma peça de “ficção”, baseada em “ilações” feitas pela Procuradoria.

A defesa de Temer contratou o perito Ricardo Molina, que elaborou um laudo afirmando que o áudio de Joesley Batista não poderia ser usado como prova, por conter uma série de interrupções que não permitem reconstituir o diálogo por inteiro, além de não ser possível garantir que a gravação não foi editada.

Perícia realizada pela Polícia Federal afirmou que o áudio não tem sinais de edição e que as interrupções são compatíveis com o sistema do gravador utilizado, que para e retoma a gravação ao detectar som no ambiente.

A defesa de Rocha Loures tem dito que o recebimento da mala de dinheiro “segundo afirmam, decorreu de armação de Joesley Batista”, afirmou o advogado Cezar Bitencourt, em nota.