Após elogiar Doria, Temer diz que Alckmin é 'colaborador extraordinário'
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
08/08/2017 12h38Atualizada em 08/08/2017 17h14
Depois de o PSDB paulista votar em massa a favor da investigação por corrupção passiva, o presidente Michel Temer (PMDB) disse nesta terça-feira (8), em São Paulo, que o governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), é um "colaborador extraordinário".
Em rápida entrevista coletiva após a abertura do congresso da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), o presidente disse que não conversou com Alckmin sobre a votação na Câmara dos Deputados que analisou denúncia contra o presidente, em que o PSDB --aliado de primeira hora do governo-- rachou ao meio. Alckmin já defendeu o desembarque do partido da base aliada do governo.
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A visita ao evento foi o primeiro compromisso público de Temer com o setor privado desde o fim de maio. Em busca de apoio para a aprovação das reformas, o presidente deve retomar agenda com empresários e representantes do setor financeiro depois de passar os últimos dois meses na frente política, angariando votos para interromper a tramitação da denúncia por corrupção passiva feita pela PGR.
Temer e Alckmin chegaram juntos ao congresso em São Paulo, trocando sorrisos na frente dos fotógrafos, aparentando desfazer a impressão de mal-estar entre os dois. Um dia antes, o governador não esteve presente em um evento público em que o presidente cobriu de elogios o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).
Se ontem Temer disse publicamente que Doria é um "companheiro que entende os problemas do país", em seu discurso de hoje o presidente preferiu falar dos benefícios que São Paulo teve com a renegociação de sua dívida com a União e, se dirigindo a Alckmin, falou que quer "colocar os trilhos no lugar" para quem chegar no poder em 2018.
Questionado sobre se vai pedir a suspeição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que o denunciou com base na delação da JBS, Temer limitou-se a dizer que isso era assunto para seu advogado, Antônio Mariz de Oliveira.
O governador de São Paulo deixou o evento sem falar com a imprensa. Em seu discurso, defendeu a agenda de reformas proposta pelo governo e deu especial atenção à reforma política, dizendo ser necessário mudar um modelo em que "quem assumir terá dificuldade". Segundo Alckmin, é preciso "suprimir a causa que o efeito cessa".
Temer volta a defender parlamentarismo
Na conversa com jornalistas, após o evento, Temer voltou a defender a adoção do parlamentarismo no Brasil. "Estamos fazendo um pré-exercício de parlamentarismo", disse o presidente ao falar da atual relação do Executivo com o Congresso.
Segundo Temer, o ideal seria usar um sistema "do tipo português ou do tipo francês", em que o presidente divide poderes com o primeiro-ministro. Mesmo reconhecendo a dificuldade de uma mudança desse porte já para as próximas eleições, Temer disse que "seria ótimo" se o novo sistema já estivesse valendo em 2018.
"Catastrofistas" não vão parar o país, diz Temer
Em seu segundo evento para empresários em São Paulo nesta terça, Temer afirmou que "catastrofistas" não vão parar o país. O presidente ainda defendeu as medidas adotadas por seu governo desde maio, quando a delação da JBS colocou o país em uma profunda crise política. Para Temer, a denúncia de corrupção passiva contra ele feita pela PGR (Procuradoria-Geral da República) não conseguiu interromper a agenda do governo.
"Nesses quase 70 dias da suposta crise produzida, o país não parou", afirmou Temer, citando a reforma trabalhista e a transformação em lei de "12 ou 14" medidas provisórias. "Ninguém vai paralisar o país, por mais esforço que façam, por mais catastrofistas que sejam as suas falas, não vão parar o país."
Segundo Temer, "quando você fica dentro da sala da Presidência da República, recebendo notícias, lendo notícias, parece que as coisas vão muito mal", mas "o Brasil real é outra coisa".
"Isso é o que nos anima. Quando voltamos a Brasília, voltamos fortalecidos pelo otimismo brasileiro", disse o presidente, cujo governo foi avaliado como ruim ou péssimo por 70% dos entrevistados em pesquisa Ibope divulgada no fim de julho.
A delação da JBS veio a público em meados de maio, e Temer foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) por corrupção passiva no fim de junho. O presidente se defendeu dizendo que a denúncia não tinha provas e era uma "ficção".