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Temer perdeu a chance de ser um grande presidente, diz autor de impeachment de Dilma

"Estava promovendo um processo, mas sem recurso à astrologia", diz Miguel Reale Jr. - Felipe Rau/Estadão Conteúdo
"Estava promovendo um processo, mas sem recurso à astrologia", diz Miguel Reale Jr. Imagem: Felipe Rau/Estadão Conteúdo

Bernardo Barbosa e Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

15/08/2017 12h20Atualizada em 15/08/2017 15h45

O jurista e ex-ministro da Justiça Miguel Reale Jr., um dos autores do pedido de impeachment de Dilma Rousseff (PT), disse nesta terça-feira (15) que Michel Temer (PMDB) perdeu a chance de ser um grande presidente ao dar espaço em seu governo para colegas de partido envolvidos em casos de corrupção.

"O presidente Michel Temer perdeu uma grande oportunidade de ser um grande presidente, porque manteve o mesmo grupo, a mesma entourage de pessoas do PMDB não dignas de confiança no plano moral", disse ao UOL depois de questionado sobre o momento político do país pós-impeachment.

Reale Jr. falou à reportagem após participar de debate no evento Mitos e Fatos, promovido pela rádio “Jovem Pan”, em São Paulo.

No começo do mês, a Câmara dos Deputados decidiu barrar a denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer, acusado de corrupção passiva. Segundo Reale, os deputados não apreciaram a denúncia, mas "a conveniência política de submeter o presidente a um processo".

"A decisão foi de ordem política, objeto de um balcão de negócios, em que se fez a desoneração de compromissos fiscais dos ruralistas, se anteciparam todas as emendas parlamentares, se concederam lugares na administração", disse. "Transformaram a Praça dos Três Poderes em um bazar."

PSDB virou "aglomerado de perplexidades"

Reale, que foi ministro na gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso, também criticou o PSDB -- do qual saiu depois da decisão do partido de permanecer na base aliada de Temer após a crise desencadeada pela delação da JBS. Segundo o jurista, o PSDB perdeu a identidade e se tornou um "aglomerado de perplexidades".

Segundo o jurista, apesar de melhorias na economia, como no controle da inflação, "o processo político continua instável".

"No plano político, nós continuamos sem dúvida nenhuma no mesmo quadro de ausência de lideranças, de ausência de seriedade", afirmou.

Reale Jr. disse que não havia como avaliar, no momento do processo de impeachment de Dilma, se a iniciativa levaria a uma melhora do ambiente político no curto prazo ou se provocaria mais instabilidade.

"Não tinha risco de uma coisa, nem outra. Eu estava promovendo um processo, mas sem recurso à astrologia", afirmou.

"O Legislativo trabalha de costas para a sociedade"

Durante o painel "Como garantir a segurança e a autonomia das instituições", Reale Jr. fez duras críticas ao Poder Legislativo, que discute propostas de reforma política, entre elas a criação de um fundo público que destinaria R$ 3,6 bilhões para financiar partidos em eleições.

"O Legislativo trabalha de costas para a sociedade", criticou. Para o jurista, o Parlamento se movimenta por "motivos escusos" e é preciso, contra isso, criar uma "nova forma de desobediência civil". "Temos que nos reorganizar e mostrar que somos contra."

Reale Jr. também fez um apelo à união do Ministério Público e da Polícia Federal, que hoje divergem sobre a questão do comando na negociação das colaborações premiadas no campo do combate à corrupção.