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"Eles não queriam que filho de empregada virasse doutor", diz Lula ao receber título em Sergipe

21.ago.2017 - Lula recebe título de doutor Honoris Causa na Universidade Federal de Sergipe - Beto Macário/UOL
21.ago.2017 - Lula recebe título de doutor Honoris Causa na Universidade Federal de Sergipe Imagem: Beto Macário/UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Lagarto (SE)

21/08/2017 13h41Atualizada em 21/08/2017 13h48

Três dias após ter tido a entrega do título de doutor Honoris Causa pela UFRB (Universidade Federal do Recôncavo Baiano) proibida pela Justiça, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu nesta segunda-feira (21) seu 29º título entregue pela UFS (Universidade Federal de Sergipe). Em discurso lido e com a voz já falhando pelos sucessivos discursos pelo Nordeste, Lula afirmou que a elite nunca quis que pobre tivesse acesso à universidade pública --e que um de seus maiores feitos foi a democratização do acesso à universidade.

“Teve muito filho de rico que reclamou do programa que criamos para expandir as universidades, diziam que ia diminuir a qualidade do ensino. Isso porque, para a elite, lugar de pobre não é na universidade. Negar o acesso da maioria ao ensino de qualidade sempre foi um projeto da elite retrógrada brasileira. Eles não queriam que filho de empregada virasse doutor, e hoje temos aqui vários filhos de empregadas e pedreiros virando médico, engenheiro”, disse, citando a dificuldade em implantar o Reuni (programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais).

O ex-presidente ainda aproveitou para fazer um balanço das vagas criadas no ensino superior no governo do PT, mas disse que ainda são poucas. “Como você sabem, até 2002, eram 3,5 milhões para 8 milhões entre 2003 e 2014, e ainda é pouco, e motivo de ter vergonha”, afirmou.

Mesmo assim, o ex-presidente disse que o país avançou muito não pelos números, mas pelo acesso a todas as raças e classes sociais. “Antes, a universidade só tinha gente loira e de olhos verdes. Era raro encontrar um negro. Percebi isso quando procurei um ministro para o STF e foi difícil achar alguém com qualificação à altura para entrar”, afirmou.

A solenidade ocorreu no campus de Lagarto, inaugurado em 2015 e que teve investimento de R$ 55 milhões. Hoje, a faculdade tem hospital e vários cursos da área de saúde. “Universidade hoje é para branco, para preto, para pardo, para índio, para todos que quiserem."

Lula citou que os cursos de medicina de universidades públicas e em universidades privadas sempre foram voltados para gente rica. “Eu dizia: 'entrar num curso numa faculdade pública é coisa de gente inteligente demais. Era uma vaga para mil, 2.000. E um curso de faculdade privada tem mensalidade de R$ 6.000. São cursos tão caros que nem a classe média conseguia pagar”, afirmou.

O título na UFS foi entregue pelo reitor Angelo Roberto Antoniolli, que falou sobre a importância da expansão universitária da instituição. “Antes do Reuni, a UFS tinha 10 mil alunos. Com o Reuni, hoje são 30 mil. Saímos da capital para o interior para fazer o que sabemos: ensino, pesquisa e extensão. Esse título é muito esperado desde 2013”, disse.

Haddad, o “melhor ministro”

O ex-presidente ainda aproveitou o discurso para fazer elogios ao “melhor ministro da Educação que esse país já teve”, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT). Segundo Lula, tanto o Reuni, como o Prouni (Programa Universidade para Todos), foram ideias dele. 

“Um dia, o Fernando Haddad me aparece com a ideia de trocar a dívida das universidades particulares --que deviam muito-- por bolsa de estudo para meninos da periferia de escolas públicas. Não foi uma tarefa fácil, muita gente dizia que eu queria salvar a universidade particular. Eu e a esquerda nos acostumamos a gritar: universidade gratuita de qualidade. Mas a gente não tinha isso, e demorava para fazer. E, quando se encontrou essa coisa de trocar imposto por uma bolsa de estudos, achei a história quase que uma revolução”, disse.