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Defesa de Lula questiona "efetividade" da delação premiada de Marcelo Odebrecht

O ex-presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht - Antônio More - 20.jun.2015/Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo
O ex-presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht Imagem: Antônio More - 20.jun.2015/Gazeta do Povo/Estadão Conteúdo

Do UOL, em São Paulo

05/09/2017 20h28Atualizada em 05/09/2017 20h28

Depois de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do Grupo Odebrecht, afirmar em depoimento que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sabia dos pagamentos ilícitos feitos pela empreiteira ao partido, a defesa de Lula pediu nesta terça-feira (5) à Justiça que avalie a "efetividade" da delação premiada do empresário.

O pedido foi feito ao juiz Sergio Moro em ação da Operação Lava Jato em que Lula e Marcelo Odebrecht são réus. Para os advogados do petista, há contradições entre os depoimentos de Marcelo e Emílio Odebrecht, que foi testemunha no processo. Emílio é pai de Marcelo e presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht.

Os advogados de Lula selecionaram trechos do depoimento de Marcelo, dado na segunda-feira (4), em que o empresário afirmou ter certeza de que Lula sabia das propinas. Marcelo afirmou isso ao dizer que passou a seu pai, Emílio, informações que deveriam ser comunicadas a Lula, e depois foi questionado pelo ex-ministro Antonio Palocci --também réu no processo-- sobre essas mesmas informações. A conversa, segundo Marcelo, era sobre R$ 200 milhões que o grupo pagaria ao PT para a campanha eleitoral de 2010.

"O fato de eu ter falado com meu pai, meu pai ter falado com Lula, e Palocci vir para mim com uma conversa que eu não tinha falado com ele, mostra claramente que Lula sabia dessa conta", afirmou o empresário no interrogatório.

Em paralelo, a defesa de Lula apresentou trechos do depoimento de Emílio nos quais ele negou ter atendido ao pedido de Marcelo para que informasse Lula sobre valores.

"Ao prestarem depoimento perante este Juízo, sob o compromisso de dizer a verdade, Marcelo Odebrecht, enquanto corréu colaborador, e Emílio Odebrecht, na condição de testemunha colaboradora, apresentaram testemunhos manifestamente antagônicos e, portanto, incompatíveis entre si", afirmam os advogados do ex-presidente.

Com isso, a defesa do petista pede que "seja oportunamente avaliada a efetividade da colaboração de Marcelo Bahia Odebrecht".

Por volta das 19h10, o UOL entrou em contato por e-mail e telefone com o escritório do advogado Eduardo Sanz para saber se a defesa de Marcelo Odebrecht comentaria o questionamento dos advogados de Lula, mas não teve resposta até o horário da publicação deste texto.

Marcelo também questionou delações

O pedido da defesa do ex-presidente foi feito em ação da Operação Lava Jato em que Lula é acusado de ter recebido propina milionária da Odebrecht na forma de um terreno para o Instituto Lula e de um apartamento em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), a vantagem indevida seria oriunda de contratos do grupo empresarial com a Petrobras.

Em nota divulgada após o depoimento, a defesa do petista disse que "Lula jamais recebeu a propriedade ou a posse de qualquer dos imóveis indicados pelo MPF, muito menos em contrapartida de qualquer atuação em contratos firmados pela Petrobras." Lula será interrogado por Moro no dia 13.

No depoimento prestado na segunda-feira, Marcelo Odebrecht também questionou o conteúdo de delações premiadas. Ele falou em "omissões e mentiras" de delatores e chegou a apontar Paulo Melo, um ex-executivo da Odebrecht Realizações Imobiliárias e também réu neste processo da Lava Jato, como alguém que não estaria contando tudo o que sabe. 

A Moro, ainda na segunda-feira, Melo negou que soubesse de supostas irregularidades e falou que não faria “o menor sentido alguém pagar propina” com o terreno. Segundo Melo, a compra do terreno serviria para a Odebrecht ter um “portfólio intangível de ter construído a sede do Instituto Lula”. 

Em nota ao UOL, os advogados do ex-diretor, André Damiani e Matheus Pupo, disseram que seu cliente “reiterou a Moro os exatos termos constantes em seu acordo de colaboração premiada” e "esclareceu que apenas desempenhou papel na prospecção e estudo de vários imóveis destinados à futura sede do Instituto Lula”.