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Lula diz que Dilma errou na política de desoneração e critica Renan

Lula e o governador Flávio Dino em visita ao porto de Itaqui (MA) - Divulgação/Ricardo Stuckert
Lula e o governador Flávio Dino em visita ao porto de Itaqui (MA) Imagem: Divulgação/Ricardo Stuckert

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

05/09/2017 14h42

Em uma das poucas vezes em que fez mea culpa durante a caravana pelo Nordeste, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu, nesta terça-feira (5), erros de sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), ao citar um excesso na política de desoneração.

"Fizemos uma forte política de desoneração. Foram R$ 428 bilhões de desoneração para manter as políticas sociais, os investimentos e para manter os 4,3% de desemprego em dezembro de 2014", disse em São Luís, onde Lula realiza às 17h o último ato da caravana, na praça Dom Pedro 2º, após 20 dias de iniciada em Salvador.

"Acho que nós erramos na dosagem. Se tem uma torneira aberta e está entrando menos água que saindo, uma hora a caixa seca", afirmou em discurso ao lado governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), após visita ao porto de Itaqui.

Entretanto, Lula lembrou que a ex-presidente tentou resolver o problema, mas esbarrou em dificuldades impostas pelo Congresso. Inclusive, fez uma crítica ao senador Renan Calheiros (PMDB-AL), à época presidente do Senado.

"A Dilma tentou rever isso, enviou uma MP [medida provisória] ao Congresso acabando com as desonerações, e o Renan não aceitou, devolveu --coisa que nem podia fazer", afirmou.

Em Alagoas, porém, Lula rasgou elogios a Renan e disse que ele foi um parceiro durante o seu governo.

Para Lula, o problema econômico no país ganhou força porque o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se recusou a votar os projetos para fazer o ajuste fiscal.

Lula comparou a situação com a Fernando Henrique Cardoso, em 1999, quando ele conseguiu aprovar medidas de ajuste no Congressos sem maiores dificuldades.

"Todo mundo sabe que [o Brasil] quebrou três vezes com FHC. Em 1999, ele estava [com] 8% nas pesquisas de opinião, igual a Dilma [em 2016]. A diferença é que Fernando Henrique fez a proposta de reforma na crise cambial, e a Câmara tinha como presidente o Michel Temer. Em 6 meses ele aprovou tudo que FHC queria. E a Dilma tinha o Cunha, que não aprovou nada na reforma. O Eduardo Cunha foi o contribuinte para o país não sair da crise, porque tinha e tem condição para isso", assegurou.

Fora da política, "pode aparecer um Hitler ou Mussolini"

Em sua fala, o petista também rechaçou as críticas que os políticos brasileiros sofrem. Lula voltou a defender a classe e lembrou que os integrantes do Congresso são um "resultado" da "consciência política do eleitor em 2014", afirmando que não há saída fora do universo político.

"Fora da política não tem solução. Se alguém imaginar que vai aparecer um deus que vai salvar, pode aparecer um Hitler, pode aparecer um Mussolini ou outras coisas que a gente sabe que não dá certo no mundo", afirmou.

O ex-presidente ainda afirmou que "às vezes fico nervoso" ao ouvir críticas aos políticos no exercício do mandato. "Quando vemos a classe política de hoje, ela é a consciência política em 2014, quando o povo foi para urna. O povo foi pela cara eleger aquele que estava lá. A urna não é lugar para colocar ódio, é lugar de colocar esperança e sonho", explicou.

Para Lula, é inútil reclamar agora e não mudar o perfil do voto em 2018. "Tenho dito: não adianta ficar reclamando. Ou você assume a responsabilidade pelo deputado, prefeito, vereador, governador, senador, presidente, ou não adianta reclamar", completou.