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Dilma diz que depoimento de Palocci é ficção e fala em 'colaboração implorada'

Palocci (à dir.) foi ministro de Lula e Dilma - Alan Marques/Folha Imagem
Palocci (à dir.) foi ministro de Lula e Dilma Imagem: Alan Marques/Folha Imagem

Do UOL, em São Paulo

07/09/2017 14h20Atualizada em 07/09/2017 17h07

As declarações do ex-ministro Antonio Palocci em seu interrogatório na quarta-feira (6) são uma “ficção”, disse a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) em comunicado divulgado por sua assessoria de imprensa nesta quinta-feira (7). Réu em um processo sobre um esquema de corrupção envolvendo oito contratos entre a empreiteira Odebrecht e a Petrobras, Palocci foi ministro dos governos de Dilma e de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que também é acusado na ação penal que tramita na Justiça Federal no Paraná, sob responsabilidade do juiz Sergio Moro.

Na audiência, o ex-ministro disse que que havia um "pacto de sangue" entre o PT e a Odebrecht criado na transição entre os governos Lula e Dilma. Segundo Palocci, a Odebrecht ofereceu um "pacote de propinas" que incluía R$ 300 milhões para o PT e Lula. O ex-ministro disse ainda que o "pacote" foi oferecido porque a Odebrecht tinha preocupação que a relação da empresa com o governo Dilma fosse menos "fluída" que com Lula. 

“O senhor Antonio Palocci falta com a verdade quando aponta o envolvimento de Dilma em supostas reuniões de governo para tratar de facilidades à empresa Odebrecht seja durante o mandato do presidente Lula ou no primeiro governo dela”, diz a nota. “Tais encontros ou tratativas relatadas pelo ex-ministro jamais ocorreram. Relatos de repasses de propinas também são uma mentira”.

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Para Dilma, a fala de Palocci “é uma estratégia em busca de benefícios da delação premiada”. De acordo com o comunicado, o ex-ministro errou ao dizer que teria sido uma decisão do governo Dilma não permitir que um consórcio ou empresa ganhasse mais de um aeroporto em leilões, o que beneficiaria a Odebrecht. “Isso é uma mentira! Tal decisão foi tomada pelo governo para gerar concorrência entre as empresas concessionárias de aeroportos”.

A ideia, segundo a assessoria, era evitar que, caso uma empresa tivesse a concessão de dois aeroportos, ela priorizasse um em detrimento do outro. “O governo Dilma buscava atrair mais empresas para participar do sistema aeroportuário”.

Na visão de Dilma, um ponto que derruba a tese de Palocci é o fato de a Odebrecht ter pagado R$ 19 bilhões pela concessão do aeroporto do Galeão, no Rio de Janeiro. “[Isso] afasta a acusação de beneficiamento indevido declarada por Palocci”.

A nota diz que “a lógica que move o senhor Antonio Palocci é a mesma que acomete outros delatores presos por longos períodos”. “A colaboração implorada é o esforço de sobrevivência e a busca por liberdade. Isso não significa que se amparem em fatos e na verdade. É um recurso desesperado para se livrar da prisão. Em outros períodos da história do Brasil, os métodos de confissão eram mais cruéis, mas não menos invasivos e implacáveis”.

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Pânico com Dilma

A Moro, o ex-ministro disse que, “quando a presidente Dilma foi tomar posse, a empresa [Odebrecht] entrou num certo pânico". "E foi nesse momento que o doutor Emílio Odebrecht fez uma espécie de pacto de sangue com o presidente Lula", disse Palocci, citando o presidente do Conselho de Administração do Grupo Odebrecht. Segundo o ex-ministro, Emílio levou a Lula, no fim do mandato, um "pacote de propinas".

O pacote envolveria um terreno para o Instituto Lula --o imóvel é um dos assuntos do processo no qual Palocci depôs hoje--; um sítio em Atibaia (SP) para uso da família de Lula; e R$ 300 milhões à disposição do ex-presidente "para o próximo período, para as atividades políticas dele" --uma "conta corrente" do PT com a Odebrecht. 

"Eu fiquei bastante chocado com esse momento, porque eu achei que não era assim que era o relacionamento da empresa naquele... Eu não estava presente. Por que eu sei disso? Porque no dia seguinte de manhã, o presidente Lula me chama no Palácio da Alvorada e me conta a reunião”, afirmou Palocci.

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No interrogatório, a defesa de Lula buscou confrontar as declarações atuais de Palocci com as dadas em depoimentos anteriores, e perguntou se fazia isso em razão de um possível acordo de delação premiada com o MPF (Ministério Público Federal).

“Tenho tratativas [para um acordo de delação premiada]. Isso é um assunto que está a cargo dos meus advogados. Eu confio no trabalho deles. São advogados de alta qualificação, com experiência no setor e confio que eles estejam fazendo o melhor dentro da lei, olhando maneiras de contribuir com a Justiça, que é a minha vontade, e maneira de obter benefício, que também é a minha vontade”, disse Palocci.

O ex-ministro afirmou que não estava sendo contraditório em relação a depoimentos anteriores, mas que estava falando de uma versão “mais rica”. Confirmou que tratou com empresas para contribuições ilegais a campanhas e que trabalhou “muito” para que o Instituto Lula não tivesse as chaves e a posse do terreno adquirido pela Odebrecht.

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Em nota enviada ao UOL, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, disse que "o depoimento de Palocci é contraditório com outros depoimentos de testemunhas, réus, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas." Segundo Zanin Martins, o ex-ministro está "preso e sob pressão", negociando um acordo de delação "que exige que se justifiquem acusações falsas e sem provas contra Lula". Para o advogado, o ex-ministro depôs a Moro "pronto para emitir frases de efeito como 'pacto de sangue', esta última anotada em papéis por ele usados na audiência."

A assessoria de imprensa de Lula afirmou em comunicado à imprensa que "Palocci repete o papel de réu que não só desiste de se defender como, sem o compromisso de dizer a verdade, valida as acusações do Ministério Público para obter redução de pena". O texto também critica a acusação do MPF, que liga as supostas propinas pagas pela Odebrecht a contratos com a Petrobras, afirmando que o processo corre "fora da devida jurisdição com juiz de notória parcialidade".

Já a direção do PT disse em nota que "fica cada vez mais claro o caráter de perseguição política movida por setores da Justiça" contra o partido e que "o cerco a Lula se dá em um momento em que ele lidera todas as pesquisas de opinião para as eleições de 2018 e após o êxito de sua caravana pelo Nordeste." Segundo o PT, Lula "teve sua vida devassada sem que houvesse sido encontrado qualquer vestígio de enriquecimento pessoal que manchasse sua biografia."

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