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"Moro não é herói", diz mulher do juiz em post em rede social

Do UOL, em São Paulo*

14/09/2017 01h05Atualizada em 14/09/2017 11h38

A mulher do juiz federal Sérgio Moro, Rosângela Moro, que administra uma página em homenagem ao marido no Facebook, usou a rede social na noite desta quarta-feira (13) para dizer que Moro "não é herói". A postagem foi feita poucas horas depois de Moro comandar o interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba.

No post, feito na página "Eu MORO com ele", cita a homenagem de uma criança ao juiz. "Crianças e suas manifestações sinceras de admiração. Crianças são puras, espontâneas e autênticas. Sabem agradar e impressionar. Com vocês curtidores a artista mirim Lelê. Amada e adorada pela família moro e com cumprimentos aos pais pela fofíssima pessoa que estão criando. Lelê mostra na sua arte super heróis para Sergio Moro. Moro não é herói mas curtidor das histórias Marvel", diz o texto do post.

Pouco antes do depoimento de Lula começar, um grupo de cerca de 40 pessoas se concentrou no início da tarde nas esquinas das ruas Manoel Eufrásio e Marechal Hermes, no Centro Cívico, em Curitiba, em apoio à Operação Lava Jato. O local contou com alguns ambulantes vendendo pixulecos (bonecos de Lula vestido de presidiário) e camisetas de apoio ao juiz Sérgio Moro, assim como um carro de som. A novidade desta vez, porém, foi a presença de um boneco de cerca de 10 metros que veste Moro como super-herói. O "Super-Moro" veio de Fortaleza, de avião.

"O Moro representa uma nova leva de juízes que fazem um trabalho diferenciado. Queremos apoiar todos eles, inclusive os que estão fora de Curitiba, como o [Marcelo] Bretas [responsável pela Lava Jato no Rio]", afirma Narli Resende, do Movimento Curitiba Contra a Corrupção.

Durante o interrogatório, Lula perguntou a Moro se ele "seria julgado por um juiz imparcial". Em resposta, segundo Moro afirmou: "Não cabe ao senhor fazer esse tipo de pergunta para mim. Mas de todo modo, sim".

Lula fez o questionamento ao final no depoimento. "Vou terminar fazendo uma pergunta para o senhor, doutor. Eu vou chegar em casa amanhã e eu vou almoçar com oito netos e uma bisneta de seis meses que posso olhar na cara dos meus filhos e dizer que eu vim a Curitiba para prestar depoimento a um juiz imparcial?". Após a resposta afirmativa de Moro, rebateu: "Porque não foi o procedimento na outra ação", disse. "Eu não vou discutir a outra ação, a minha convicção foi que o senhor é culpado", disse Moro em referência ao processo do tríplex que condenou Lula. 

Com duas horas e dez minutos de duração, o interrogatório do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chegou ao fim às 16h26 desta quarta-feira (13). Foi o segundo encontro presencial entre o petista e o juiz federal Sergio Moro, que comanda os processos da Operação Lava Jato na primeira instância --a primeira audiência, em 10 de maio, levou quase cinco horas

Fã de quadrinhos

Em maio, às vésperas do primeiro depoimento de Lula a Moro, a reportagem do UOL conversou com funcionários de uma banca de revistas onde o magistrado compra quadrinhos. De acordo com eles, o juiz federal é fã de Homem-Aranha, herói da Marvel vivido, também na ficção, pelo jornalista Peter Parker, e de Batman, herói da DC Comics cujo correspondente na realidade virtual da HQ é o empresário Bruce Wayne, que tenta fazer justiça aos próprios modos. Como, aliás, o herói da Marvel.

“Ele vem aqui umas duas vezes na semana. Leva revistas do Batman e do Homem-Aranha, e, às vezes, jornais e revistas semanais. É tão discreto que muita gente nem percebe que está aqui –às vezes, quando percebem, pedem uma selfie ou um autógrafo, mas nada tão exagerado”, afirmou, sob anonimato, um dos funcionários. “Eu diria que ele é discretíssimo”, complementa.

À ocasião, a figura de Moro estampava livros sobre ele e revistas com o “duelo Moro x Lula” na capa já na entrada da banca. Uma das publicações, mensal, o trazia em uma caricatura de sacerdote celebrando uma missa na selva –com figuras como Lula, a ex-presidente Dilma Rousseff e o presidente Michel Temer e outros réus da Lava Jato olhando assustados ao juiz. O procurador Deltan Dallagnol e o procurador-geral da República Rodrigo Janot reverenciam o “sacerdote” Moro.

“No sábado passado, mesmo, ele [Moro] veio aqui. Perguntei se ele ‘agora virou padre’, mas não vi a reação do juiz porque tinha muita gente na banca. Sei que ele não levou essa revista”, comentou o funcionário. “Quando a mulher dele [a advogada Rosangela Wolff Moro] foi capa de uma revista feminina, teve um certo burburinho, muita gente comprou. Às vezes, se ele está aqui e a pessoa percebe, compra um dos livros sobre ele e pede um autógrafo”, relata, para ressalvar: “Mas já vi gente que bem lulista ou petista agitar, agitar e, quando o vê aqui, não fala nada sobre a Lava Jato”.

Ouvindo a conversa, outro funcionário pediu para a repórter registrar: “Eu quase não acreditei quando vi na TV que o cara que comprava charuto era o chefe da Operação Lava Jato”, disse, entusiasmado. Recebeu um olhar de reprovação do colega e emendou: “Mas comprava esses charutos anos atrás, viu? E aqui na banca o pessoal é bem neutro, tá?”, arremata. Mas neutros, ele jura, são os vendedores.

* Com informações de Janaina Garcia, do UOL em São Paulo 

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