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Tucano estuda se licenciar do PSDB para continuar relator da denúncia contra Temer

Deputado Bonifácio de Andrada (d) ao lado do ministro Moreira Franco - Reprodução
Deputado Bonifácio de Andrada (d) ao lado do ministro Moreira Franco Imagem: Reprodução

Gustavo Maia e Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

04/10/2017 18h38Atualizada em 04/10/2017 20h07

Com o posto questionado devido a conflitos internos do PSDB, o deputado tucano Bonifácio de Andrada (MG), relator da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, estuda se licenciar do partido para continuar na relatoria, apurou o UOL.

À reportagem, ele afirmou que "todas as cartas ainda estão na mesa" ao ser questionado sobre a permanência na legenda e à frente da análise da denúncia, no fim da tarde desta quarta-feira (4). Embora não tenha declarado que vai se licenciar, Andrada disse que pretende apresentar o parecer até a próxima quarta (11).

“Eu pretendo seguir a orientação do presidente da comissão [Rodrigo Pacheco, PMDB-MG]. Ele é quem orienta. Eu estou com uma função. Meu lugar é a CCJ, ali é meu local de trabalho, que tenho meus instrumentos, meus microfones”, despistou.

Em frente às câmeras, questionado se considerou pedir a licença, Andrada disse que não. “O que passou pela minha cabeça foi o problema dos conceitos de organização criminosa, que é do direito penal”, respondeu. “Sou do PSDB, sem dúvida nenhuma”. No entanto, segundo auxiliares do deputado logo após essa fala, nenhuma opção está descartada.

Segundo Andrada, ele está lendo a denúncia e as três defesas entregues nesta quarta à CCJ. “Eu tenho quatro dias, gente”, ao dizer que está totalmente dedicado ao assunto e “absorve” todas as outras questões.

Questionado pela imprensa, o presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), disse que não irá interferir em questões partidárias de quaisquer siglas, “muito menos no caso de Andrada”.

“Essa decisão partidária é com o deputado Bonifácio de Andrada. A decisão que me cabe é que ele, em qualquer circunstância, permaneça na CCJ e realize o trabalho”, declarou. “Segue como relator.”

Mais cedo, Pacheco falou que a licença de Andrada do PSDB "a princípio" seria possível, mas que seria necessário se aprofundar no estudo da questão porque se trata de "uma situação diferente do usual".

Bonifácio de Andrada vota por rejeição de 1ª denúncia contra Temer

UOL Notícias

Tarde movimentada no PSDB

De acordo com o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), que é secretário-geral do partido, o líder da bancada tucana na Câmara, Ricardo Trípoli (SP), apresentou a sugestão de licenciamento a Bonifácio, como uma saída para amenizar a polêmica. 

Rachado no apoio ao governo Temer, o PSDB não quer o protagonismo no processo para evitar constrangimentos como o ocorrido na primeira denúncia, quando o deputado Paulo Abi-Ackel (MG) foi escolhido para relatar um parecer favorável ao presidente --após a derrota de relatório pela admissibilidade da denúncia, de Sergio Szveiter (RJ), que era do PMDB e resolveu deixar o partido após o caso. Ele se filiou ao Podemos.

Os tucanos têm pressa para resolver a polêmica. Foi entregue nesta quarta a defesa de Temer e dos dois ministros que também foram denunciados pela PGR (Procuradoria-Geral da República), Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), pelo crime de organização criminosa, e está aberto o prazo de cinco sessões plenárias para a apresentação do parecer sobre a peça. 

No gabinete do presidente em exercício do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), a movimentação foi intensa durante a tarde. Trípoli afirmou que a situação ainda não estava resolvida e que só iria anunciar qualquer decisão com um documento assinado por Bonifácio em mãos. Tasso, por sua vez, disse que "ouviu dizer" que Bonifácio se licenciaria, "mas não tem nada oficial". 

"O partido não tem posição definida sobre o assunto, como todo mundo sabe. Existe uma divisão em torno do assunto, então não é conveniente e adequado que o relator seja do partido que não tem posição oficial", declarou. 

Em Brasília para a solenidade de filiação do senador Roberto Rocha (MA), recém-saído do PSB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, se limitou a elogiar o relator. "É uma pessoa honrada, preparada, séria. Vamos aguardar o que ele vai decidir", disse.