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Janot agiu com o "fígado" porque se sentiu traído, diz procurador preso em caso da JBS

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

17/10/2017 12h15

O procurador da República Ângelo Goulart Villela afirmou, emocionado, durante depoimento à CPI da JBS, nesta terça-feira (17), que o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot agiu com o "fígado" em relação a ele, após se sentir "traído". A traição, segundo Villela, seria a sua aproximação com a atual procuradora-geral Raquel Dodge, desafeto de Janot.

“Janot agiu com fígado em relação a mim, porque se sentiu traído. Porque eu estaria me bandeando para o lado da arquirrival dele [Raquel Dodge], como se isso, ainda que fosse verdadeiro, legitimasse uma atuação devastadora em relação a mim”, afirmou.

Durante o depoimento, Villela repetiu a informação dada em entrevista à Folha de S. Paulo de que Janot agiu politicamente para impedir que Temer indicasse Raquel Dodge como procuradora-geral da República. 

"Não há a menor chance de Rodrigo Janot não ter atuado de forma política para derrubar o presidente da República, independentemente da procedência das acusações" e completa: "para impedir que o presidente da República deixasse de indicar doutora Raquel Dodge e ele precisava derrubar o presidente em relação a isso. Isso para mim é claro e cristalino".

Para Villela, que chegou a ser preso acusado de vazar informações para a JBS, sua detenção foi uma forma usada por Janot para "proteger" o ex-procurador Marcelo Miller, um dos principais assessores de ex-procurador-geral. 

Miller, que pediu exoneração do órgão para atuar no escritório de advocacia da defesa da JBS, virou o pivô da crise que terminou com perda de benefícios de partes dos delatores da empresa.

O procurador disse também que a sua prisão foi necessária para que o Janot demonstrasse imparcialidade após o caso do Miller, para que ele se mostrasse comprometido com “combate desenfreado da corrupção” e mantivesse a posição de “queridinho da mídia, de super-herói”.

“A questão do Rodrigo Janot, na minha opinião, deputado, era mais do que uma proteção ao Marcelo Miller. A minha questão em relação a ele é que ele precisava deixar bem claro nesse ambiente que a gente vive, midiático, de combate desenfreado da corrupção, de queridinho da mídia, de super-herói, era deixar claro que ele atuava de forma imparcial, que o compromisso dele seria única e exclusivamente combater a corrupção, doa a quem doer”, disse.

E completou: “Ele precisava, e eu fui muito útil [quando preso] nesse ponto, de demonstrar que não havia motivação política nem interesse de derrubar um presidente da República”.

Villela está afastado do cargo. Ele foi preso durante a Operação Patmos, após suspeitas de que teria vazado informações sobre a Operação Greenfield, que tinha como alvo o grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. O procurador integrava a força-tarefa da operação desde março deste ano. Segundo as investigações, ele teria recebido uma mesada de R$ 50 mil dos Batista. Villela foi solto em agosto por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).

No depoimento, Villela disse ainda que Janot “falseou a verdade” ao incluí-lo no que chamou de "trama" da delação premiada da empresa.

“Houve por parte do ex-procurador-geral [Janot] uma tratativa de falsear a verdade", disse ao comentar a declaração dada por Janot de que ele teria agido por conta própria. Em que acrescentou: “Ele está confundindo com o ofício de trabalho dele, no qual ele é o único legitimador ser o procurador-geral da República. Na força tarefa não. Eu tracei uma metodologia de trabalho e conversaria com ele quando tivesse algo mais pontual”, afirmou.