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Moro diz que não tem vocação para política e evita comentar acusações de Lula

Foto: Agência Brasil
Imagem: Foto: Agência Brasil

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

18/10/2017 00h01

Apontado com frequência entre os possíveis candidatos à Presidência da República em 2018, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato na primeira instância em Curitiba, afirmou nesta terça-feira (17) não ter vocação para a política. Pesquisa Datafolha do começou de outubro o colocou com 9% das intenções de voto.

Segundo o magistrado, que participou nesta terça do programa Globo News Entrevista com Gerson Camarotti, gravado em Curitiba, não há chance de ele se candidatar para presidente ou qualquer outro cargo político. Moro disse ainda que as pesquisas “perdem tempo” ao citá-lo.

“Não tenho essa vocação. Poder, poderia, não existe nenhum empecilho normativo, mas sou um juiz e pretendo permanecer como um juiz”, afirmou. “A carreira política é muito bonita, mas entendo que existem outras maneiras de influenciar positivamente as pessoas e a sociedade".

Questionado sobre as acusações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que teria agido de forma parcial ao julgá-lo na ação do tríplex do Guarujá (SP) e que o estaria perseguindo, disse não se sentir confortável para responder, uma vez que o petista já foi condenado e o processo está em fase de apelação. “Proferi uma sentença e tudo o que eu pensava a respeito está naquela sentença”, afirmou.

Moro, que falou por cerca de 50 minutos, também evitou responder se tem sofrido ameaças – “vou pular essa pergunta” --, limitando-se a dizer que ele e os outros participantes da Lava Jato sofrem uma pressão grande devido à importância dos casos julgados pela força-tarefa. “Nós temos presente a importância desses casos, assistimos nos bastidores a movimentações de pessoas que buscam impunidade".

Descontraído, o juiz fez graça ao ser questionado sobre a sua presença na estreia do filme Polícia Federal: a Lei é para todos, que conta a história da Lava Jato. “Fui na condição de espectador, não de juiz”, disse. “Confesso que nem comi pipoca naquele dia".

O magistrado, que criticou uma eventual revisão da prisão após decisão em segunda instância - tema que voltará a ser discutido no STF (Supremo Tribunal Federal) -, também defendeu as colaborações premiadas e as prisões preventivas em casos de corrupção, chegando a compará-las a casos envolvendo assassinos em série.

“Quando você prende um serial killer, prende para evitar que ele faça uma nova vítima. O mesmo raciocínio pode ser aplicado à corrupção sistêmica. Tivemos casos de empreiteiras que tinham departamentos de propina. Foi corrupção sistemática, reiterada, era necessário dar um basta.”

Segundo Moro, grande parte do trabalho da Lava Jato focado em Curitiba “já foi realizado” e a força-tarefa, hoje, se espalhou pelo país. Mais cedo, porém, em entrevista ao B|og do Josias, o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato na capital paranaense, negou que a operação esteja perto do fim e disse que há ainda muito o que fazer.

“Investigações relevantes surgiram em outras localidades, até mesmo independente da Lava Jato”, afirmou Moro, para quem o julgamento do Mensalão foi um exemplo. “A Lava Jato, se é que podemos chamar essas investigações de Lava Jato, se espalhou no sentido de que a justiça está dando uma resposta institucional mais vigorosa em relação aos crimes de corrupção. ”