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Ministro de Temer falta a evento sobre direitos humanos após críticas de advogados

Cadeira destinada a Etchegoyen no evento - Bernardo Barbosa/UOL
Cadeira destinada a Etchegoyen no evento Imagem: Bernardo Barbosa/UOL

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

19/10/2017 22h15Atualizada em 19/10/2017 22h15

O ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Sérgio Etchegoyen, não compareceu nesta quinta-feira (19) a um evento sobre direitos humanos e corrupção em São Paulo depois de uma carta aberta em que 100 advogados criticaram sua presença.

Intitulado "A defesa dos direitos humanos coletivos do povo contra a corrupção", o evento foi organizado pelo Iasp (Instituto dos Advogados de São Paulo). Em carta divulgada na semana passada, os advogados dizem que "enquanto os direitos humanos dos acusados têm sido violados diuturnamente, um Instituto de advogados tem chamado militares à mesa para falar de combate à corrupção, em nome de supostos 'Direitos Humanos Coletivos do Povo'."

Entre os signatários da carta estão diversos advogados que atendem a políticos processados na Operação Lava Jato, como Roberto Podval (José Dirceu), Alberto Toron (Aécio Neves), Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay (Romero Jucá), e Valeska Teixeira Zanin Martins (Luiz Inácio Lula da Silva), entre outros.

A carta também diz que, "em tempos de Lava Jato, a bandeira do combate à corrupção é discussão praticamente monotemática no país, que encobre temas sobre questões tão ou mais importantes." Segundo o grupo de advogados, a escolha do título para o evento "parece apenas uma invocação demagógica".

Um dos participantes do evento foi o presidente do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), Carlos Eduardo Thompson Flores Lenz. O TRF-4 é a segunda instância dos processos da Lava Jato que tramitam na Justiça Federal do Paraná sob a condução do juiz Sergio Moro.

Etchegoyen enviou aos organizadores do evento uma mensagem que foi lida pelo advogado Ricardo Sayeg. O general disse ter se chocado "profundamente" com o que chamou de "explícita manifestação" de censura prévia e de preconceito contra militares, e que gostaria de debater um tema "tão oportuno e relevante".

Etchegoyen também disse em sua mensagem que decidiu não comparecer ao debate para que sua presença não fosse "explorada de maneira inadequada, o que, desafortunadamente, é lícito prever".

Sem o ministro, foi colocada no centro do auditório, entre os demais debatedores, uma cadeira com uma bandeira do Brasil e uma placa com o nome de Etchegoyen. Sayeg chegou a pedir que se fizesse um minuto de silêncio, com os presentes olhando para a bandeira, numa espécie de desagravo ao ministro.

Em nota sobre a carta dos advogados, o Iasp disse que "jamais se submeterá a sua atividade à censura prévia" e que a mensagem foi uma "livre manifestação de uma opinião". A instituição afirmou ser voltada para "a difusão dos conhecimentos jurídicos e a defesa do Estado de Direito", e que isso não ocorre sem "discussões plurais" e "tolerância entre posições divergentes".