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Marqueteiro diz que Cabral sabia de licitação fraudulenta no Rio

Cabral aprovou pré-campanha paga pela Odebrecht, diz Renato Pereira

UOL Notícias

Leandro Prazeres

Do UOL, em Brasília

20/11/2017 18h16

O publicitário e delator Renato Pereira, da agência de publicidade Prole, disse que o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) tinha conhecimento sobre uma fraude à licitação das contas de comunicação do governo do Estado do Rio de Janeiro em 2007. Segundo o delator, Cabral lhe disse, pessoalmente, quais seriam as agências vencedoras antes mesmo do certame. A defesa do ex-governador nega que ele tenha participado de qualquer fraude a licitações.

Renato Pereira é sócio da agência Prole, que participou de diversas campanhas do ex-governador e que também atendeu à conta de comunicação e propaganda do governo do Estado do Rio de Janeiro durante a gestão Cabral. A denúncia refere-se ao primeiro mandato de Cabral no Rio (2006-2010).

Ele firmou um acordo de delação premiada com a PGR (Procuradoria-Geral da República) no qual revelou crimes supostamente praticados por ele, seus sócios e caciques do PMDB no Rio de Janeiro e em São Paulo. O acordo, porém, ainda não foi homologado pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Ricardo Lewandowski.

Em um de seus depoimentos, Pereira narrou como sua agência passou a fazer parte do grupo de agências de publicidade que atendiam ao governo do Estado.

“Nós já tínhamos uma relação próxima para o grupo político do governador Sérgio Cabral e o Wilson Carlos (ex-secretário de governo na gestão Cabral) já tinha sinalizado pra gente que nós seríamos uma das empresas vencedoras”, afirmou Pereira em sua delação.

“Tivemos uma conversa com o governador Sergio Cabral e ele disse: ‘Oh...vocês serão uma das vencedoras’, e também nos disse quais outras iriam entrar”, disse Pereira.

O publicitário disse ainda que integrantes da sua agência chegaram a participar do processo licitatório auxiliando o governo do Estado a dar notas para as empresas que disputavam a conta governamental.

Segundo ele, integrantes do governo pediram que um dos sócios da agência Prole participasse da escolha das outras empresas que dividiram o orçamento de comunicação do governo do Rio de Janeiro.

“Um dos nossos sócios, Flávio Horácio, viu as propostas das agências e deu nota para cada uma delas para que a definição das agências seguisse a orientação dada pelo governador Sérgio Cabral”, disse Pereira.

Odebrecht pagou por pré-campanha de Cabral em 2010

Em outro trecho de sua delação, o marqueteiro Renato Pereira detalha como a Odebrecht teria pago despesas da pré-campanha de reeleição de Sérgio Cabral ao governo do Rio de Janeiro, disputada em 2010. Pereira diz que elaborou um orçamento que previa a realização de pesquisas e produção de alguns vídeos e o apresentou ao então secretário de governo, Wilson Carlos. 

"Tive uma conversa com com o Wilson Carlos, em fevereiro. Ele indicou que procurássemos o Leandro Azevedo, da Odebrecht, que ele já estava orientado - depois que a gente apresentou o orçamento pro Wilson e isso foi lá aprovado pelo pelo Sérgio Cabral também - que o Leandro estava orientado a assumir esse orçamento. Eram R$ 300 mil mensais pagos de fevereiro a junho de 2010", contou Pereira. 

Pereira diz que os valores recebidos foram integralmente repassados a fornecedores contratados pela equipe e que os sócios da Prole não ficaram com parte do dinheiro pois eles já eram remunerados pelo contrato que a agência mantinha com o governo do Estado. 

Outro lado

À reportagem do UOL, o advogado de defesa de Cabral, Rodrigo Roca, disse que as informações repassadas por Pereira sobre fraude a licitações não são verdadeiras. “Isso não é verdade. O governador não participou de nenhuma fraude ou direcionamento de licitação. Trata-se de mais uma pessoa iludida com possíveis benefícios processuais”, afirmou Roca.

Sobre o pagamento de despesas de caixa 2 pela Odebrecht, Rodrigo Roca disse que Cabral já  à Justiça Federal a prática de crimes relacionados ao uso de dinheiro não contabilizado durante campanhas eleitorais.

Em nota, a Odebrecht diz já ter admitido a prática de crimes, feito acordos de delação premiada e de leniência e que continua a colaborar com as investigações.