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Defesa diz que suposto operador de Bendine está negociando delação

O publicitário André Gustavo Vieira da Silva - Reprodução - 22.nov.2017/Justiça Federal do Paraná
O publicitário André Gustavo Vieira da Silva Imagem: Reprodução - 22.nov.2017/Justiça Federal do Paraná

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

23/11/2017 19h54

O publicitário André Gustavo Vieira da Silva, acusado de ter intermediado pagamento de propina para Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, está negociando um acordo de delação premiada, segundo sua defesa.

Em petição anexada a processo da Operação Lava Jato sobre o caso, o advogado José Diniz cita "tratativas de celebração de acordo de colaboração" de André Gustavo com a força-tarefa da investigação no MPF-PR (Ministério Público Federal no Paraná) e com a PGR (Procuradoria-Geral da República). 

No mesmo documento, Diniz afirma "que não houve qualquer trabalho de consultoria realizado junto ao Banco do Brasil, e sim tentativa de aferir vantagem indevida, que foi consumada no âmbito da Petrobras".

André Gustavo foi interrogado pelo juiz Sergio Moro nesta quarta (22) em Curitiba, onde cumpre prisão preventiva desde o fim de julho, quando foi detido na Operação Cobra, a 42ª fase da Lava Jato. Ele disse ter repassado a Bendine R$ 950 mil de um total de R$ 3 milhões que teriam sido pagos pela Odebrecht como propina ao ex-presidente da Petrobras. O publicitário também afirmou estar à disposição do MPF para "ajudar, colaborar e esclarecer" o que for necessário.

Moro separa Bendine de André Gustavo

Na quarta (22), Moro ordenou a transferência de Bendine para garantir a segurança de André Gustavo. Eles estão presos na carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Agora, o ex-presidente da Petrobras vai para o Complexo Médico Penal de Pinhais, na região metropolitana da capital paranaense, o que estava previsto para acontecer ainda nesta quinta.

Moro justificou a decisão alegando a necessidade de manter Bendine separado, "por motivos de segurança, do acusado André Gustavo Vieira da Silva". O juiz também ordena que os responsáveis pela carceragem da PF mantenham "ambos em celas separadas e distantes, com proibição de contato entre eles".

"Registro, por oportuno, que foi também determinado ao próprio acusado Aldemir Bendine que não se aproxime do acusado André Gustavo e que com ele não fale", diz o juiz.

Bendine diz ser vítima de complô

Também na quarta, Bendine prestou depoimento a Moro e optou por ficar em silêncio. O depoimento de André Gustavo foi citado por Alberto Toron, advogado de Bendine, como um dos motivos para ter orientado seu cliente a não falar. O ex-presidente da Petrobras se limitou a confirmar que não responderia nenhuma pergunta e afirmou estar sendo vítima de um complô.

"Meritíssimo, eu estava ansioso, depois desse pesadelo de quase sete meses, de ter a oportunidade de pela primeira vez me manifestar. Entretanto, eu estou percebendo que estou sendo vítima de um grande complô, uma série de mentiras e de pessoas que criam mentiras para comprar a liberdade", disse Bendine ao juiz Sergio Moro, que conduzia a audiência.

O ex-presidente da Petrobras disse então que preferia "manter sua verdade" e "usar a lei do silêncio", mesmo que pudesse "continuar conversas com o Ministério Público ou com a Polícia Federal", mas que não iria se pronunciar no processo em questão.

Entenda o caso

As investigações da PF apontam que Bendine e pessoas ligadas a ele teriam solicitado vantagem indevida, em razão dos cargos exercidos, para que a Odebrecht não viesse a ser prejudicada em futuras contratações da Petrobras. Em troca, o grupo empresarial teria efetuado o pagamento de ao menos R$ 3 milhões, em espécie. Ainda de acordo com a PF, os pagamentos só foram interrompidos depois da prisão de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo Odebrecht, em junho de 2015.

Bendine esteve à frente do Banco do Brasil entre abril de 2009 e fevereiro de 2015, quando deixou o banco para assumir a presidência da Petrobras. O executivo renunciou ao cargo de presidente-executivo da Petrobras em carta enviada ao Conselho de Administração em maio de 2016.

Segundo o MPF-PR, há evidências indicando que um pedido de propina no valor de R$ 17 milhões foi feito por Bendine na época em que era presidente do Banco do Brasil para viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht Agroindustrial. 

Além disso, há provas apontando que, na véspera de assumir a presidência da Petrobras, Bendine voltou a solicitar propina a executivos da Odebrecht para que a empresa não fosse prejudicada em contratos com a petroleira. Delatores indicam que, desta vez, a Odebrecht aceitou pagar a propina de R$ 3 milhões, com a atuação do doleiro Álvaro Novis.