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Temer e membros do governo se recusam a levantar para Moro em evento de homenagem ao juiz

Presidente Michel Temer (d) fica sentado enquanto juiz Sérgio Moro recebe prêmio de brasileiro do ano em evento da revista "IstoÉ", em São Paulo - JALES VALQUER/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO
Presidente Michel Temer (d) fica sentado enquanto juiz Sérgio Moro recebe prêmio de brasileiro do ano em evento da revista "IstoÉ", em São Paulo Imagem: JALES VALQUER/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO

Daniela Garcia

Do UOL, em São Paulo

05/12/2017 23h07Atualizada em 06/12/2017 20h52

Um evento realizado na noite desta terça-feira (5) em São Paulo colocou, lado a lado, o juiz Sergio Moro, responsável pelas decisões em primeira instância da Lava Jato no Paraná, e diversos políticos citados na operação e em outras investigações sobre corrupção, entre eles o presidente Michel Temer (PMDB).

O constrangimento marcou a cerimônia, em que Moro foi premiado como o brasileiro de 2017 pela revista "IstoÉ". Temer e alguns membros de seu governo se recusaram a levantar quando o magistrado foi premiado.

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Diferentemente do que ocorreu em 2016, na solenidade deste ano o magistrado evitou contato com os políticos. Na festa do ano passado, em que também foi um dos premiados da noite, Moro foi fotografado durante uma conversa animada com o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que meses depois seria um dos principais alvos da delação da JBS e teria até um pedido de prisão feito pela PGR (Procuradoria-Geral da República).

Moro e Aécio prêmio Istoé 2016 - Diego Padgurschi - 6.dez.2016/Folhapress - Diego Padgurschi - 6.dez.2016/Folhapress
O juiz Moro e o senador Aécio Neves na premiação em 2016
Imagem: Diego Padgurschi - 6.dez.2016/Folhapress

Na festa desta terça-feira, Moro dividiu palco com Temer e o ministro Moreira Franco (PMDB), ambos denunciados por corrupção passiva pela PGR; com o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), e o candidato ao governo de São Paulo em 2014 Paulo Skaf (PMDB), ambos citados na delação da Odebrecht; e o presidente do Senado, Eunicio Oliveira (PMDB-CE), alvo de inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal).

O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), o senador Alvaro Dias (Podemos-PR), o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o apresentador Luciano Huck também estavam no palco, entre outros convidados e homenageados.

Quando Moro foi chamado para receber seu prêmio, Temer, Moreira Franco, Meirelles e Eunicio não se levantaram para aplaudir a consagração do juiz.

Personalidades, entre elas o juiz Sérgio Moro (segundo à esquerda) e o presidente Michel Temer, participam de evento organizado pela revista Isto É - Charles Sholl/Raw Image - Charles Sholl/Raw Image
Moro dividiu palco, entre outros, com Temer, Moreira Franco, Eunício Oliveira e Henrique Meirelles
Imagem: Charles Sholl/Raw Image

No discurso, Moro apontou condutas a serem adotadas para pôr fim à "corrupção sistêmica" no país. Defendeu, mais uma vez, que condenados na segunda instância devam ser presos, assunto que será retomado no STF. O juiz sugeriu inclusive que o presidente Temer deveria adotar esse tema como "política de Estado".

"Mas eu diria que mais que uma questão de justiça, é questão de política de Estado. Eu queria dizer para o presidente Temer utilizar o seu poder para influenciar que esse precedente jurídico não seja alterado", disse.

O magistrado pediu que Temer tome tal atitude, caso o STF mude o entendimento sobre a prisão em segunda instância.

Moro também afirmou que eram necessários mais recursos do governo federal para a Polícia Federal e órgãos de combate à corrupção. Após fazer o pedido a Temer, Moro disse que os recursos poderiam ser liberados por Meirelles.

"Pedindo a devida vênia ao ministro Meirelles, vejo que os investimentos são necessários para o refortalecimento da Polícia Federal. O investimento do Estado contra a corrupção traz seus frutos", disse.

"Não quero foro"

Ao fazer a defesa do fim do foro privilegiado, Moro causou um outro momento de constrangimento entre os políticos. Temer, Eunício e Moreira Franco não aplaudiram, mais uma vez, a proposta do magistrado.

O juiz foi ovacionado ao dizer que o foro garante "privilégios às pessoas mais poderosas". Ele reclamou que os processos de autoridades com foro "tramitam lentamente". "Seria relevante eliminar completamente o foro ou trazer uma restrição Ao foro", defendeu.

Moro disse ainda ser contrário que magistrados tenham foro. "Não quero esse privilégio para mim", afirmou.

Dedicatória à Lava Jato e a Teori

Moro fez uma série de agradecimentos a órgãos e autoridades que participam da Lava Jato. Além do Ministério Público e da Polícia Federal, o juiz dedicou o prêmio ao ministro Edson Fachin, do STF, e aos juízes federais Marcelo Bretas (RJ) e Vallisney Oliveira (DF).

O magistrado também disse que seu trabalho é inspirado no ministro Teori Zavascki, do STF, que faleceu em janeiro deste ano.

Eu não tinha relacionamento pessoal com ele, mas sei que ele conduzia os processos da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal com muita eficiência e com muita coragem, disse. Moro afirmou que quer "defender o legado do ministro Teori".