Codinomes e linguagem cifrada: como a Odebrecht escondia informações sobre propinas

Uma perícia feita pela Polícia Federal revelou o alto nível de detalhamento usado pela Odebrecht para organizar e esconder as informações usadas pela empresa para fazer pagamentos fora da contabilidade oficial, incluindo propinas.
A perícia foi ordenada pelo juiz Sergio Moro, responsável pelos processos da Operação Lava Jato na Justiça Federal do Paraná, e seu laudo foi entregue pela PF na sexta-feira (23). A análise mirou o funcionamento dos sistemas MyWebDay e Drousys, usados pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht --na prática, um departamento voltado para pagamentos ilegais.
Ao comentar relatórios financeiros que pertenceriam ao MyWebDay, os responsáveis pelo laudo afirmam que "a sofisticação e nível de detalhamento” dos documentos “revelaram uma gestão profissional e minuciosa dos desembolsos efetuados pelo chamado Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht".
Disfarce para contas e beneficiários
A perícia mostra que as informações sobre beneficiários de pagamentos e as contas em que o dinheiro ilícito era depositado eram dispostas de forma cifrada nos sistemas. A PF descobriu que esta forma de esconder os dados era feita por meio de técnicas de substituição de caracteres, às vezes com múltiplas possibilidades.
Desta forma, o codinome “25VBQA” era uma referência, na verdade, ao beneficiário “Beluga” -- este, um codinome por si só. Já a sequência de caracteres “FUCUNVLVHDSIFHCD” poderia ser convertida para “BENEFICIARY BANK” (“banco beneficiário”, em inglês), entre outras possibilidades.
Ao decifrar a linguagem, a PF descobriu referências não só a codinomes ao menos inteligíveis, como contas e bancos no exterior para onde teriam sido remetidos pagamentos ilegais.
No entanto, os peritos dizem que "grande parte dos dados permanece inacessível", já que exigem credenciais de acesso que a Odebrecht alega não ter. O laudo também aponta "evidências de destruição de dados" poucos dias depois da prisão de Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva o nome da família.
Processos contra Lula
A perícia foi feita por ordem do juiz Sergio Moro no processo da Operação Lava Jato sobre um terreno supostamente comprado pela Odebrecht para o Instituto Lula. A intenção era verificar se havia registros, no “departamento de propinas” da empreiteira, de pagamentos relacionados ao imóvel --que nunca foi usado pelo instituto.
Segundo a PF, o codinome “Beluga” concentrava as informações dos pagamentos que teriam relação com o terreno. No entanto, com o material disponível, os peritos não conseguiram descobrir a origem dos recursos.
O MPF (Ministério Público Federal) acusa Lula de ter recebido o terreno como propina da Odebrecht. No total, a vantagem indevida, que também incluiria um apartamento em São Bernardo do Campo (SP), seria de R$ 12,4 milhões. Em troca, o ex-presidente teria atuado para beneficiar a empresa em contratos com a Petrobras. Sua defesa nega as acusações.
Na sexta (23), Moro ordenou nova perícia nos sistemas da Odebrecht, desta vez para identificar se há registros ou documentos que tenham relação com as reformas de um sítio de Atibaia (SP), assunto de outro processo da Lava Jato no qual Lula também é réu.
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