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Em discursos, Temer investe em indiretas e fala em "tentativas de dificultar" seu governo

Ana Carla Bermúdez

Do UOL, em São Paulo

03/04/2018 13h16

O presidente Michel Temer (MDB) utilizou três agendas diferentes nesta segunda-feira (2) para incluir em seu discurso referências ao que ele classificou de “embaraços e oposições” e “tentativas de dificultar” as atividades de seus quase dois anos de governo.

As críticas indiretas de Temer foram manifestações contra o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso, que decretou a prisão temporária de amigos do presidente na última quinta-feira (29), e ao ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que no ano passado apresentou duas denúncias contra Temer –ambas tiveram tramitação congelada pela Câmara dos Deputados.

Os episódios, no entanto, não foram citados explicitamente por Temer, que também não falou em nomes.

"[Na Constituição] nós quisemos enfatizar o tema das liberdades individuais, do devido processo legal, da obediência estritíssima aos termos da Constituição e da lei. E por isso nós colocamos lá: o Brasil é um Estado democrático de direito", declarou, durante a cerimônia de posse de dois novos ministros e do novo presidente da Caixa Econômica Federal no Palácio do Planalto na manhã de hoje.

O presidente ainda disse que “acima de todos nós estão as instituições”, “porque todos nós passaremos, mas as instituições hão de ficar”.

Ele também pediu diálogo para solucionar aquilo que chamou de problemas. "Sabemos todos que o Brasil tem pressa e que os problemas diante de nós exigem união e diálogo. Nós continuaremos a dedicar toda a nossa energia para construir um país melhor para todos, e um país em que todos colaborem sem nenhuma, digamos assim, tendência ao apartamento, à separação", disse Temer.

Já durante a tarde, em discurso a comerciantes brasileiros e árabes em São Paulo, o presidente criticou quem, segundo ele, se dispôs a "desestabilizar o país com gestos extremamente irresponsáveis".

"Nesses dois anos de governo, não foram poucos os embaraços e oposições que nós sofremos. Até gente disposta a desestabilizar o país com gestos extremamente irresponsáveis, que têm naturalmente repercussão internacional", declarou o presidente, durante o Fórum Econômico Brasil-Países Árabes.

Em sua última pública do dia, na cerimônia de abertura do 62º Congresso Estadual de Municípios, em Santos (SP) –tradicional reduto de influência política de Temer e cidade protagonista do inquérito dos Portos—Temer voltou a fazer críticas.

“Em menos de dois anos, vocês viram o que pudemos fazer em matérias de reformas, sem embargo as tentativas de dificultar a nossa atividade”, declarou.

“Nós estamos perdendo no país a ideia da constitucionalidade, a ideia do cumprimento rigoroso do que está na Constituição”, afirmou o presidente, que disse ser necessário “colocar de lado a partidariedade”.

Operação Skala

Ontem foi o primeiro dia de aparição pública do presidente após a operação Skala, deflagrada pela PF (Polícia Federal) na última quinta (29), quando foram presas temporariamente pessoas de seu círculo próximo para que prestassem depoimento.

Ao lado de amigos como José Yunes, ex-assessor do presidente, e o coronel da PM João Baptista Lima Filho, Temer é alvo de um inquérito no STF que apura supostas irregularidades na edição do decreto dos Portos. A investigação teve início em setembro de 2017.

As prisões haviam sido solicitadas pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e autorizadas pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso --que havia determinado que as prisões expirariam nesta segunda. No entanto, Barroso acabou acatando na noite de sábado (31) um pedido da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para que as prisões fossem revogadas.

A operação levantou a possibilidade de a PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentar uma terceira denúncia contra Temer.