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Com prisão, Lula tentará se comparar a Cristo, diz historiador Boris Fausto

Historiador vinculado ao PSDB prevê uma descrença maior com a eleição deste ano - Simon Plestenjak/UOL
Historiador vinculado ao PSDB prevê uma descrença maior com a eleição deste ano Imagem: Simon Plestenjak/UOL

Wellington Ramalhoso

Do UOL, em São Paulo

06/04/2018 04h00

A ordem de prisão determinada pelo juiz Sergio Moro fará o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçar a construção de uma imagem santificada de si mesmo. A opinião é do historiador Boris Fausto, 87, vinculado ao PSDB. “Lula tentará construir a imagem grandiosa do Cristo que se sacrificou, um Cristo leigo [não ordenado]”, prevê o ex-professor da USP (Universidade de São Paulo).

Para ele, Lula vem tentando mostrar nos últimos tempos que “não é uma figura igual às outras, que é uma figura transcendental”. “Isto é muito dele”, diz Fausto. No contexto desenhado pelo historiador, a prisão é o martírio.

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Na avaliação de Fausto, a provável intenção de Lula de construir uma imagem santificada teria eco somente entre aqueles que já simpatizam com o petista. “Para os inimigos, [esta imagem santificada] não pega de jeito nenhum, mas para os partidários dele pode ser que funcione.”

Há uma descrença no sistema. Não há entusiasmo por nenhum candidato. Toda vez que tememos uma explosão social nestes tempos atrapalhados, ela não veio

Boris Fausto, historiador

“É gravíssimo e lamentável que um ex-presidente seja preso, mas, se ele foi condenado por unanimidade em segunda instância, é necessário que se cumpra [a prisão]”, afirma Fausto.

Eleitor confuso e descrente com a eleição

Lula tem liderado as pesquisas de intenção de voto para presidente. Para o historiador, a prisão deixará o petista com um baixo poder de transferência de votos na eleição de outubro, considerando-se que o ex-presidente será barrado pela Lei da Ficha Limpa e não poderá se candidatar.

Fausto afirma que os votos de Lula se dividirão em três rumos: para outro candidato petista e para o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), ambos no campo da esquerda; e para o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ), no campo da direita. “O PT sai muito lesado nisso. Os votos de Lula [também] não vêm para o centro. [A saída de Lula] pode favorecer Bolsonaro por incrível que possa parecer. O eleitorado está confuso.”

Na opinião do historiador, o deputado do PSL representa um risco maior para o país do que eventuais ameaças dos militares. Para ele, o comportamento ético do parlamentar precisa ser investigado, e propostas do pré-candidato como a de aumentar o acesso da população às armas e de colocar militares na direção de escolas públicas merecem críticas. “Ele tem uma incompetência gritante e um comportamento retrógrado.”

Sem Lula na disputa, Fausto entende que o mais provável é haver um desânimo crescente da população com a eleição, e não um aumento da tensão entre defensores e opositores do ex-presidente. “A reação social ao julgamento do pedido de habeas corpus para Lula no STF (Supremo Tribunal Federal) por parte dos militantes do PT foi até morna. Teve menos gente do que se imaginava na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Há uma descrença no sistema. Não há entusiasmo por nenhum candidato. Toda vez que tememos uma explosão social nestes tempos atrapalhados, ela não veio.”

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