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Marina nega omissão e admite: "Se eu ganhar com 10 s de TV, será um milagre do povo e de Deus"

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

09/04/2018 21h32Atualizada em 09/04/2018 23h15

A ex-senadora e ex-ministra Marina Silva (Rede-AC) admitiu nesta segunda-feira (9) que terá dificuldades para vencer a eleição presidencial devido à pouca representatividade de seu partido, que a fará ter um baixo tempo de TV e menos recursos de fundo partidário do que seus principais concorrentes.

"O difícil não é governar, o difícil é ganhar. Se eu ganhar com 10 segundos de televisão vai ser um milagre do povo e de Deus. Porque PT, MDB, PSDB, todos movimentam em fundo de campanha um dinheiro de quase meio bilhão de reais. Nós não. Com 10 segundos de televisão...", disse. "Se eu fosse pragmática, eu tinha desistido. Mas sou sonhadora".

Marina e outros cinco pré-candidatos à Presidência da República se reuniram nesta noite em Porto Alegre, no Fórum da Liberdade, para apresentar seus planos de governo. O painel, que reuniu os presidenciáveis, no Salão de Eventos da PUCRS, movimentou as preferências políticas dos presentes, que lotaram o estabelecimento.

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Foi o primeiro encontro entre os pré-candidatos depois da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as principais pesquisas de intenção de voto como candidato do PT. O petista foi preso no último domingo para começar a cumprir a pena de 12 anos e 1 mês de prisão pelos crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva no caso do triplex do Guarujá (SP).

Além de Marina, estiveram presentes os pré-candidatos Henrique Meirelles (MDB), João Amoêdo (NOVO), Geraldo Alckmin (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Flavio Rocha (PRB). Jair Bolsonaro, do PSL, que aparece em segundo lugar nas pesquisas e lidera os cenários sem a presença de Lula, foi convidado para o evento, mas não compareceu. Não houve justificativa da organização para a ausência do deputado federal.

Em sua participação, que contou com um discurso de 15 minutos e mais duas respostas feitas pela organização e pela plateia, Marina ainda negou que seja omissa, uma das principais acusações que a ex-ministra costuma enfrentar.

"Eu tenho convivido com questionamentos porque não estou me posicionando. Tem até um pessoal que faz campanha 'Marina Sumida'. Tenho me posicionado o tempo todo", disse. "O problema é que hoje temos uma polarização que já quase nos levou a um poço sem fundo. Se você não diz o que está tutelado pelo vermelho ou azul não existe".

A pré-candidata afirmou que é favorável à prisão após condenação em segunda instância, entendimento do STF (Supremo Tribunal Federal) que levou Lula à cadeia e que tem sido discutido na Corte. No entanto, Marina disse que esse entendimento só fará sentido se o foro privilegiado a políticos com mandato for extinto, outro tema que também está em discussão no STF.

"Minha fala tem sido: eu sou contra o foro privilegiado e sou a favor da punição em segunda instância desde que isso incorra no fim do foro privilegiado", declarou. "[Porque] E o Renan [Calheiros, senador do MDB-AL]? E o Aécio [Neves, senador do PSB-MG]? E todos aqueles que estão no Palácio do Planalto e se unindo atrás do foro privilegiado. Não é a fala que está sendo feita, mas é minha fala". E completou: "Quem quiser dizer que isso é omissão que diga. Pode não ser a posição de PT, MDB, PSDB, mas é a minha posição. Não é omissão, é outro tipo de fala".

Ciro critica vídeo

O ex-ministro Ciro Gomes falou antes de Marina. Após explicar suas pretensões se for eleito presidente, o pré-candidato do PDT criticou o vídeo que abriu o evento. No material, uma breve história sobre o contexto político atual brasileiro referia investigações e prisões da Operação Lava-Jato. O juiz Sérgio Moro e a prisão do ex-presidente Lula, quando exibidos nos telões, foram aplaudidos pelos presentes. 

"Há um problema estrutural, os assuntos são mais complexos. O filminho que passaram aqui é uma fraude histórica", declarou, ouvindo algumas reações indignadas da plateia. "O que derrubou o FHC [ex-presidente Fernando Henrique Cardoso] foi o mesmo filme que derrubou a Dilma [Rousseff, ex-presidente]. Olha como é picareta a história do Brasil", disse antes de citar as oscilações do mercado que geram ou retiram poder de compra e configuram a opinião das pessoas sobre o presidente.

Durante o discurso, Ciro, que manteve o tom bem-humorado durante toda sua manifestação e falou bastante sobre propostas para a melhora da economia, ainda afirmou que a polarização política está fazendo mal para o país.

"Ou o Brasil se reúne com olhares distintos num amplo e generoso debate, ou temo muito pelo horizonte da nossa nação nos próximos tempos, e não vamos achar o caminho", disse. "O Brasil, complexo como é, não cabe na polarização entre coxinhas e mortadelas. Tenho convicção de que, se o Brasil celebrar um grande diálogo, vira esse jogo".