Sem visita de Lula, sítio investigado na Lava Jato some de cotidiano de Atibaia (SP)
O sítio em Atibaia (SP) que virou protagonista de um processo da Operação Lava Jato deixou de fazer parte do cotidiano do bairro Portão, a cerca de 15 km do centro da cidade, desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua família pararam de frequentar a propriedade.
A área urbana do bairro fica a cerca de 5 km do sítio. Moradores relatam que, quando Lula visitava o local, a carreata de sedãs pretos usados por ele e seus seguranças chamava a atenção. Contam também que os auxiliares do ex-presidente eram presença frequente no comércio local --e até mesmo a ex-primeira-dama Marisa Letícia, falecida no ano passado, chegou a ser vista em algumas ocasiões.
Hoje, quem vive por ali não sabe dizer se o sítio continua sendo usado, e diz que os seguranças presidenciais há tempos não dão as caras na região. “Aparentemente, não vai mais ninguém lá”, afirmou um comerciante que não quis se identificar, em declaração similar a de outras pessoas ouvidas pelo UOL no bairro.
A propriedade pertence ao empresário Fernando Bittar, cuja família é amiga dos Lula da Silva há anos. A defesa do empresário disse que o sítio continua sendo usado por alguns membros da família e amigos próximos, mas o ritmo de visitas diminuiu. “Infelizmente, ninguém mais consegue usar com muita frequência, porque a exposição é enorme”, disse a advogada Luiza Oliver.
Uma testemunha do processo da Lava Jato, convocada pela defesa de Bittar, chegou a relatar que pessoas vão até a entrada do sítio para dizer xingamentos e gritar palavras de ordem contra o ex-presidente.
Na manhã de terça (22), quando a reportagem foi até o local, não havia movimento no acesso à propriedade. Ninguém atendeu o interfone.
Visitas até o começo de 2016
Questionada pelo UOL, a defesa de Lula não respondeu se o ex-presidente ou sua família continuaram a frequentar o sítio depois que as investigações sobre a propriedade vieram a público, no fim de 2015.
Registros do Portal da Transparência, do governo federal, mostram que diárias foram pagas a seguranças de Lula por idas a Atibaia até janeiro de 2016.
Em uma ligação gravada com autorização da Justiça em 20 de fevereiro de 2016, Lula diz a um interlocutor chamado Azevedo --possivelmente Ricardo Messias de Azevedo, um de seus assessores-- que iria para “o sítio” cedo no dia seguinte. O inquérito da PF sobre o sítio foi aberto justamente naquele mês.
O MPF (Ministério Público Federal) cita dezenas de deslocamentos de seguranças de Lula para Atibaia entre 2011 e 2016 como um indício de que o ex-presidente seria “o proprietário de fato e possuidor do imóvel” -- o que a defesa do petista nega.
Apesar de considerar Lula como “proprietário de fato” do sítio, o MPF denunciou o ex-presidente sob a acusação de ter recebido cerca de R$ 1 milhão em propinas por meio de reformas feitas na propriedade pelas construtoras Odebrecht, OAS e Schahin. Segundo os procuradores, a vantagem indevida veio de contratos obtidos de forma fraudulenta pelas empresas junto à Petrobras.
O juiz Sergio Moro aceitou a denúncia em agosto do ano passado, transformando Lula e mais 12 pessoas em rés no processo. A defesa do ex-presidente afirma que ele jamais pediu ou recebeu favorecimento ou vantagem indevida de qualquer empresa.
No momento, o processo está na fase de depoimentos de testemunhas de defesa, que devem ser concluídos no fim de junho. Os interrogatórios dos réus ainda não foram marcados.
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