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Reportagem acelerou operação que mira Rodoanel e ex-secretário de Alckmin

Laurence Casagrande Lourenço foi preso pela PF na última quinta-feira (21) - Keiny Andrade/Folhapress
Laurence Casagrande Lourenço foi preso pela PF na última quinta-feira (21) Imagem: Keiny Andrade/Folhapress

Do UOL, em São Paulo

22/06/2018 13h06

Informações divulgados pela revista “Veja” no começo do mês aceleraram o cumprimento das ordens judiciais da Operação “Pedra no Caminho”, que investiga fraudes em contratos do Rodoanel, obra viária que liga estradas na região metropolitana de São Paulo.

Em 4 de junho, a juíza Maria Isabel do Prado, da 5ª Vara Criminal da Justiça Federal em São Paulo, autorizou os 15 mandados de prisão temporária e 51 de busca e apreensão contra os alvos da operação: de dirigentes da Dersa, estatal responsável pelas obras em estradas paulistas, a executivos de empreiteiras.

Os mandados tinham validade de 90 dias, mas, quatro dias após a autorização das ordens judiciais, a publicação divulgou que havia obtido acesso a documento sigiloso que apontava que o ex-presidente da Dersa Laurence Casagrande Lourenço era “investigado por fraude na celebração de aditivos, execução fraudulenta de contratos e subcontratação irregular de empresas pela Dersa”.

Essa era uma das bases da operação, realizada pela PF (Polícia Federal) e pela força-tarefa da Operação Lava Jato no MPF (Ministério Público Federal) em São Paulo na quinta-feira (21).

Lourenço, que, além de comandar a Dersa, chefiou a Secretaria de Logística e Transportes durante a gestão do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), foi um dos presos na operação. Até o momento, não há indício de participação de políticos, o que ainda será investigado.

A PF, então, comunicou à juíza que "parte dos documentos sigilosos que compõem a investigação já chegaram ao conhecimento de grande veículo de comunicação, (...) em que se menciona decisão de afastamento de sigilo bancário e fiscal de um dos investigados".

Sabendo da divulgação dos dados, que considerou “indevida”, Prado diminuiu o prazo para o cumprimento dos mandados de 90 para 30 dias. A decisão foi proferida em 15 de junho e a operação, realizada sete dias depois.

A magistrada avaliou que a divulgação dos dados sobre Lourenço poderia ensejar “sério risco” às ordens judiciais, “surgindo, a partir de então, alta probabilidade de destruição de provas e fuga dos investigados”. Para a juíza, havia o perigo de que as pessoas investigadas pudessem prejudicar os trabalhos da PF e do MPF.

O criminalista Eduardo Carnelós, defensor de Lourenço, disse que "é injusta, ilegal" a prisão do ex-diretor-presidente da Dersa. "Por que o senhor Laurence não foi ouvido antes? Tem cabimento prender antes de ser ouvido? Ele teria prestado todos os esclarecimentos. Depois, eles poderiam confirmar ou não as informações dadas por ele", disse o advogado, em nota.

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As fraudes

Um inquérito policial foi instaurado em 2016 denúncias de aditivos desnecessários em contratos de obras do Rodoanel. Os aditivos serviriam para aumentar o valor pago a empreiteiras que já haviam vencido a licitação para realizar as obras.

A fraude, que pode ter impacto financeiro de mais de R$ 600 milhões, fazia uso de um esquema conhecido como “jogo de planilha”, em que alguns valores de contratos são aumentados e outros, diminuídos. Alguns desses valores seriam irreais para a realização de uma obra.

“Você acresce um serviço e reduz outro na qualidade, para poder disfarçar como se ele não tivesse sido acrescido. E estamos falando de uma obra de grande porte, com túneis”, diz a procuradora Anamara Osório, ligada à equipe de investigação no MPF.

Em nota, a Dersa e o governo de São Paulo disseram ser "os maiores interessados acerca do andamento do processo". "Havendo qualquer eventual prejuízo ao erário público, o Estado adotará as medidas cabíveis, como já agiu em outras ocasiões".

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