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Acusado de comprar votos para Rio 2016 deu propina a Cabral para manipular editais, diz ex-secretário

Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

13/08/2018 16h40Atualizada em 13/08/2018 21h46

O ex-secretário de Saúde do governo de Sérgio Cabral, Sérgio Côrtes, afirmou nesta segunda-feira (13) em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, na 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, que editais eram manipulados para que empresas de Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, sempre os vencessem. Segundo Côrtes, isso acontecia mediante pagamento de propina ao ex-governador fluminense.

Soares é considerado um dos maiores empresários do estado fluminense e, durante o governo Cabral, respondia por contratos de prestação de serviços. Ele é suspeito de envolvimento na suposta compra de votos para que o Rio de Janeiro fosse eleito cidade-sede da Olimpíada de 2016. De acordo com o jornal "Le Monde", Soares teria pago cerca de US$ 1,5 milhão ao filho de um integrante do COI (Comitê Olímpico Internacional) durante o processo de escolha do Rio como sede dos Jogos Olímpicos de 2016.

O empresário, que é réu na ação penal oriunda da Operação Unfair Play, desmembramento da Lava Jato no Rio, é considerado foragido da Justiça. Preso desde novembro de 2016, Sérgio Cabral já foi condenado a mais de 120 anos de prisão pela Justiça Federal.

Côrtes, que também é réu na Unfair Play, prestou depoimento logo após o ex-governador na tarde de hoje.

Ao ser informado que Cabral negou que repasses não declarados feitos por Soares fossem propina --na versão do ex-governador, foram recebidos R$ 5 milhões na forma de caixa dois--, Côrtes ironizou.

"Ele [Cabral] quer se enganar. Não consigo distinguir recebimento não declarado para campanha e propina. Para que a doação aparecesse, a 'coisa tinha que acontecer'", afirmou. Nesse contexto, o ex-secretário informou que os editais eram manipulados para que as empresas de Soares os vencessem.

"O Arthur tinha conhecimento prévio das cláusulas restritivas de cada licitação. Ele mesmo chegava a sugerir algumas regras a fim de vencer", afirmou o ex-secretário de Saúde, que não negou que o esquema funcionasse na pasta, durante a sua gestão.

"O que eu não fiz foi pedir propina, agir como corrupto. Eu nunca cheguei ao Arthur Soares para pedir isto ou aquilo", afirmou mais cedo Sérgio Cabral.

Apontado pela força-tarefa da Lava Jato como um dos homens fortes de Cabral, Côrtes ficou preso entre abril do ano passado e fevereiro passado. Acusado de participar de fraudes em licitações para o fornecimento de próteses para o Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia) do estado, o ex-secretário ganhou o direito de responder ao processo em liberdade --a decisão foi do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes.

O UOL procura a defesa do empresário Arthur Soares.

Côrtes acusa família Garotinho de fraude

Em seu depoimento, Côrtes deu a entender que as fraudes na Secretaria Estadual de Saúde antecederiam o governo de Cabral. 

Ele afirmou que, assim que o mandato de Cabral começou, foi alertado por Soares que os contratos moldados em parceria com o governo do estado já existiam durante o governo de Rosinha Garotinho (entre 2003 e 2006). Côrtes disse ter sido orientado a manter o esquema.

"Fui alertado pelos funcionários da pasta que esse esquema já existia. Depois, o Arthur [Soares] me disse que isso precisava continuar. O contato direto dele era o governador [Anthony] Garotinho", afirmou.

A assessoria de Rosinha rebateu a acusação. "A ex-governadora Rosinha Garotinho afirma que a palavra de um bandido como Sérgio Côrtes vale tanto quanto uma nota de três reais."