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Após anúncio, equipe de Bolsonaro diz que fusão de Agricultura e Meio Ambiente pode não acontecer

24.out.2018 - O presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antonio Nabhan Garcia - Fábio Motta/Estadão Conteúdo
24.out.2018 - O presidente da União Democrática Ruralista, Luiz Antonio Nabhan Garcia Imagem: Fábio Motta/Estadão Conteúdo

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio*

31/10/2018 20h21Atualizada em 31/10/2018 22h31

O produtor rural Nabhan Garcia visitou Jair Bolsonaro na noite desta quarta-feira (31) e saiu da casa do presidente eleito dizendo que a fusão dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente, anunciada ontem, pode não ocorrer. Em seguida, a equipe de Bolsonaro confirmou que a junção ainda não está definida.

"Não tem nada confirmado sobre a união dos dois ministérios. Existe a possibilidade de os ministérios seguirem separados, como existe a possibilidade de seguirem com uma fusão. Não tem nada definido, pelo menos foi isso que o presidente me disse", declarou Nabhan, que é amigo de Bolsonaro há quase 30 anos e preside a UDR (União Democrática Ruralista).

A declaração contradiz o que foi anunciado nesta terça (30) pelo deputado federal Onyx Lorenzoni (DEM-RS) após reunião de Bolsonaro com integrantes da sua equipe. O parlamentar já foi anunciado como o futuro ministro da Casa Civil pelo presidente eleito.

Hoje à noite, Onyx admitiu que a fusão ainda não está definida. "O presidente ainda não bateu o martelo", afirmou. "Ele está analisando mais de um desenho de organização de ministérios. O que tem é o conceito: de 29 pastas vai cair para 14, 15 ou 16. Eu vou levar uma série de informações a ele na sexta-feira e, na próxima terça, ele vai anunciar a estrutura ministerial."

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Questionado sobre o anúncio de ontem, Nabhan disse não saber "se houve alguma precipitação". O ruralista é cotado para assumir a pasta de Agricultura, mas disse nesta quarta que não tem nenhuma expectativa quanto a assumir o cargo. "Não é minha meta", afirmou.

"Não é essa a questão, de aceitar ou deixar de aceitar. A questão é ter um bom nome. É constrangedor pra mim. Como é que eu posso chegar 'olha, eu quero que você me indique ministro'. Isso representa a política velha", respondeu, ao ser indagado se aceitaria assumir a pasta.

Nabhan falou ainda que existem conversas de que um segmento da FPA (Frente Parlamentar Agropecuária) da Câmara talvez queira um indicar um nome para comandar o ministério e criticou: "é tudo que o Bolsonaro sempre pregou contra na pré-campanha e nã sua campanha. Não haverá indicação política ou interferência".

"O Congresso Nacional existe para legislar e não para indicar nomes do Executivo. É essa a velha política que precisa ser sepultada", declarou.

Segundo o ruralista, Bolsonaro lhe disse que não tomará nenhuma decisão precipitada e nem ceder a nenhum tipo de pressão política, porque vai contra tudo que ele sempre pregou.

Nabhan contou que apresentou um nome que tem a simpatia da "base produtora", o do deputado federal ruralista Jerônimo Goergen (PP-RS). "O que o Bolsonaro tem feito? Ouve, depois vai tirar as suas conclusões, vai analisar. É sempre assim", disse.

Recuos

Na semana passada, o próprio Nabhan apresentou as duas versões sobre a fusão ministerial, antes e depois de visitar Bolsonaro em sua casa, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

Antes do encontro, na última quarta-feira (24), ele declarou que as fusões ocorreriam não somente entre as pastas de Agricultura e Meio Ambiente, mas também em outros ministérios. "Haverá fusões em outras pastas também. As autarquias estão funcionando. Ninguém vai acabar com o Ibama e nem com o Incra. Ninguém vai acabar com o ICMBio e nem o Instituto Chico Mendes", disse.

Cerca de 20 minutos depois, duração da reunião, ele voltou a falar com jornalistas e disse que unir as pastas "sem ouvir a sociedade" seria um ato de um "governo radical". Não afirmou, no entanto, se foi repreendido por Bolsonaro por suas declarações.

Naquela noite, em transmissão ao vivo pelo Facebook, Bolsonaro se disse "pronto para negociar". "Falei para o pessoal do agronegócio que isso era importante. Alguns estão discordando. Vamos chegar ao meio termo. E, se for mantido dois ministérios, eu vou colocar, como ministro do Meio Ambiente, uma pessoa que não tem vínculo com o que há de pior nesse meio", declarou.

"O coitado do agricultor quer uma licença ambiental e isso leva dez anos. Vamos preservar o meio ambiente, mas não vamos atrapalhar a vida de quem quer produzir no Brasil", acrescentou o deputado federal.

Desde o anúncio de ontem, ele ainda não se manifestou publicamente sobre a questão.

A junção tem sido criticada por diversos setores da sociedade, sobretudo organismos de defesa da causa ambiental.

* Com Estadão Conteúdo