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Witzel anuncia chefes das polícias Civil e Militar e nomeia seu advogado para secretaria

O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) - Kleyton Amorim/UOL
O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) Imagem: Kleyton Amorim/UOL

Gabriel Sabóia e Rodrigo Mattos

Do UOL, no Rio

13/11/2018 14h54Atualizada em 13/11/2018 18h49

O governador eleito do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), anunciou nesta terça-feira (13) mais sete nomes que vão compor seu governo. Ao todo, já foram revelados 11 nomes. Entre os nomes anunciados hoje, está o do advogado Lucas Tristão, que já defendeu interesses pessoais do governador e vai assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego e Renda. Witzel também anunciou os novos chefes das polícias Civil e Militar.

As polícias Civil e Militar ganham status de Secretaria de Estado e terão como titulares, respectivamente, o delegado Marcus Vinícius Braga e o coronel Rogério Figueiredo de Lacerda. A Secretaria de Segurança Pública será extinta e os chefes das polícias responderão diretamente a Witzel.

O coronel Figueredo, 49, deixa o cargo de coordenador das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) para comandar a PM. Nos últimos meses, acompanhou o desmonte dessa política de segurança, tratada como carro-chefe dos governos Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão (MDB). Figueiredo também já foi comandante geral da PM e esteve à frente dos batalhões de Jacarepaguá (zona oeste) e do município de Resende. O policial também comandou o CFAP (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças).

Marcus Vinícius Braga ocupava o cargo de diretor geral do Departamento de Polícia Especializada do Rio. O trabalho do policial ganhou projeção quando assumiu o comando da Dcod (Delegacia de Combate às Drogas) --período em que esteve à frente de operações integradas da polícia fluminense. Marcus Vinícius também comandou as distritais da Barra da Tijuca e de Campinho, ambos bairros da zona oeste.

Alinhado às propostas do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), Wilson Witzel defende o "abate" de criminosos portando fuzis mesmo que não estejam trocando tiros com agentes de segurança. Segundo ele, a medida não aumentará a letalidade no estado --hoje, são cerca de 500 registros por mês, ou 16 assassinatos por dia. Para Witzel, a proposta reduzirá o número "de bandidos de fuzil em circulação".

"O correto é matar o bandido que está de fuzil. A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e... fogo! Para não ter erro", afirmou o governador eleito em entrevista ao jornal "O Estado de S.Paulo".

A Secretaria de Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros continuarão sob o comando do coronel Roberto Robadey Jr..

Witzel escolhe seu advogado para comandar secretaria

A Secretaria da Casa Civil será transformada em Secretaria de Estado de Governança, e será comandada pelo atual coordenador geral da transição, José Luís Cardoso Zamith. A pasta fica responsável, por exemplo, pelo comando do Procon e do Detran.

Além destes, também foram confirmados os nomes dos futuros Controlador-Geral do Estado, que será o delegado da Polícia Federal Bernardo Cunha Barbosa, e do Procurador-Geral do Estado, o advogado e atual integrante dos quadros da PGE Marcelo Lopes da Silva.

Na sexta-feira (9), o governador já havia anunciado os nomes do futuro secretário de Governo, Gutemberg de Paula Fonseca; de Turismo, o deputado federal Otávio Leite (PSDB); do diretor-presidente do Rio Previdência, Sérgio Aureliano, e do diretor do Procon, Cássio Coelho.

Já a Secretaria do Trabalho e Renda passa a se chamar Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego e Renda, e será comandada por Lucas Tristão.

Tristão é advogado de Witzel e foi seu coordenador de campanha. O advogado capixaba também representa a empresa Atrio Rio, ligada ao empresário Mário Peixoto --um dos principais fornecedores do estado, com mais de R$ 450 milhões negociados em contratos com o governo do estado desde 2007 e citado em delação premiada do ex-presidente do TCE (Tribunal de Contas do Estado) Jonas Lopes.

Lopes citou, na ocasião, em depoimento à Procuradoria que Mário Peixoto era responsável pelo pagamento de R$ 200 mil em mesada a conselheiros do órgão. O empresário nega as acusações. Witzel, por sua vez, disse em diversas ocasiões durante a campanha não ter qualquer relação com Peixoto --o então candidato Romário (Podemos) chegou a dizer que o empresário havia escrito o plano de governo do PSC.

Em seu site de campanha, Witzel afirma: "Tristão é meu advogado e não tenho qualquer controle sobre os outros clientes dele".

As relações de Peixoto com agentes públicos suspeitos de corrupção são alvo de questionamento desde que o ex-governador do Rio Anthony Garotinho divulgou fotos do seu casamento, realizado na Itália, ao lado de figuras do alto escalão da política fluminense. Entre os presentes, estão os deputados Jorge Picciani e Paulo Melo (ambos do MDB e presos desde novembro de 2017 por suposto recebimento de propina em contratos públicos).

O site do Tribunal de Justiça do Estado mostra que, no dia 26 de agosto deste ano --quando a campanha eleitoral já estava em curso--, Tristão seguia com processos em nome da Atrio Rio. A reportagem do UOL tentou falar com Lucas Tristão por meio da assessoria de Witzel, mas ainda não obteve retorno quanto a eventuais conflitos de interesse nessas relações. O governador eleito também foi questionado e ainda não se posicionou.

Em nota, a assessoria de Witzel defendeu a nomeação. "O advogado Lucas Tristão é um profissional com preparo técnico para ocupar a nova Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico e Geração de Emprego e Renda. O governador eleito Wilson Witzel se desvinculará dos escritórios e de todas as suas funções profissionais até a data de sua titulação, como determina a legislação. O mesmo será exigido de todos os seus secretários até as suas respectivas nomeações", diz a nota.

A relação entre Witzel e Tristão também parece ser antiga. Um registro do Facebook do senador eleito pelo Rio de Janeiro Flávio Bolsonaro (PSL) mostra os três reunidos em um encontro no ano passado.

"Recebi hoje o Dr. Wilson Witzel, presidente da Associação dos Juízes Federais do RJ e ES, e o advogado Lucas Tristão. Além da política nacional, a conversa foi em torno da possibilidade de juízes e promotores se candidatarem a cargos eletivos. O que você acha?", questionou Bolsonaro na ocasião.